Mochila filtradora leva água potável para famílias vulneráveis
Quase 35 milhões de brasileiros não têm abastecimento de água tratada em suas casas, segundo dados de 2019 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do governo federal. A falta de acesso ao saneamento básico afeta a população mais pobre, situada nas periferias urbanas e em áreas rurais.
Foi pensando nessa situação que um grupo de estudantes do curso de Design da PUC-Rio criou o Kit Água Camelo, um equipamento composto por uma mochila, um filtro portátil de água e um suporte de parede, que tem ajudado algumas centenas de famílias brasileiras a consumirem água potável no seu dia a dia.
A partir de um estudo sobre o acesso à água tratada nas comunidades do estado do Rio de Janeiro, o estudante Rodrigo Belli e seus colegas verificaram que os moradores normalmente precisavam atravessar quatro etapas para consumir um copo d'água seguro: captar, transportar, armazenar e, por fim, filtrar a água em casa.
O kit facilita enormemente o processo: permite captar até 15L de água, transportá-la com praticidade, armazená-la e realizar a filtragem, tornando a água própria para consumo disponível a qualquer momento.
Belli calcula que a quantidade cobre o consumo diário de uma família de cinco pessoas, considerando dois litros de consumo individual de cada membro e cinco litros para cozinhar. O filtro purifica em torno de 700 mL por minuto — filtrar os 15 litros leva cerca de 20 minutos.
Desde a entrega da primeira unidade no final de 2019 no Jardim Gramacho, bairro de Duque de Caxias (RJ), a empresa social surgida na PUC-Rio já instalou 592 kits em comunidades de oito estados brasileiros: Rio de Janeiro, Amapá, Bahia, Maranhão, Piauí, Ceará, Acre e Paraná.
Mais de 3.000 pessoas já foram diretamente impactadas pela iniciativa, que além do idealizador Rodrigo Belli também conta com a participação dos designers Daniel Ilg e João Manuel Tui.
Um efeito positivo em cascata
A maioria das doenças que afetam a população que consome água imprópria é causada por bactérias e protozoários. Chamada de membrana de fibra oca, a tecnologia utilizada no filtro consegue filtrar mais de 99% de todas as bactérias, protozoários e matéria orgânica presentes na água, combatendo o desenvolvimento dessas doenças.
"O impacto é muito imediato, é direto. Assim que a gente entrega o kit e capacita as pessoas para usar, elas já começam a consumir uma água tratada", disse Rodrigo Belli a Ecoa.
Ele enfatiza que o acesso a uma fonte segura de água tratada traz vários outros efeitos positivos mais indiretos. Com uma saúde melhor, crianças faltam menos à escola e adultos também perdem menos dias de trabalho, o que pode gerar mais renda para as famílias e culminar no desenvolvimento da comunidade.
A tecnologia de purificação do filtro é de fácil limpeza e dura até dez anos sem requerer substituição de nenhuma peça — uma vantagem em relação ao popular e eficiente filtro de barro, que exige a troca periódica das velas.
Desde o seu surgimento, a iniciativa vem ampliando o escopo das populações atendidas. Em 2020, os kits chegaram a algumas aldeias indígenas no Acre e a comunidades quilombolas do Amapá durante a crise de energia que atingiu o estado em novembro do ano passado.
A Água Camelo também estuda caminhos para que os kits possam beneficiar pessoas em situação de rua no país, que também têm dificuldade em acessar água potável.
Como ajudar
A instalação dos kits é financiada por meio de doações de pessoas físicas e instituições. Acessando o site da Água Camelo, qualquer um pode apadrinhar um ou mais kits que serão distribuídos em casas de famílias e centros comunitários em territórios vulneráveis de diferentes regiões do Brasil. Cada kit tem um custo de R$ 500.
A escolha de quem será beneficiado é feita com a ajuda de organizações parceiras que atuam nos locais e conectam os fornecedores dos kits com quem mais precisa.
"Por conhecerem a comunidade e por terem a confiança dos locais, as instituições que atuam na ponta conseguem nos indicar as famílias que mais necessitam e acompanham nossa entrada para que tudo seja feito da forma mais respeitosa e cuidadosa possível, sempre pensando na maximização do impacto que a gente pode proporcionar para aquela comunidade", afirmou Rodrigo Belli.
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