Fluxo Invisível: projetos doam absorvente para população em situação de rua
"Mais uma conquista para as mulheres!", anunciou o governador de São Paulo João Doria (PSDB), na última terça (15). Em sua conta oficial no Twitter, Doria garantiu que o governo irá "fornecer absorventes íntimos às alunas de baixa renda da rede pública estadual". Em todo o Brasil, 28% das mulheres já perderam aula por não conseguirem comprar absorvente.
Antes da iniciativa governamental, contudo, um projeto criado por uma adolescente de 16 anos já procurava resolver esse problema. O Fluxo Sem Tabu foi fundado em outubro de 2020 por Luana Escamilla e, até a publicação desta reportagem, já distribuiu mais de 120 mil absorventes íntimos. E tudo isso por conta de um filme.
Foi no documentário "Absorvendo Tabu", disponível na Netflix, que Luana ouviu pela primeira vez o termo "pobreza menstrual". E o conhecimento dessas duas palavrinhas juntas fez com que ela mudasse a vida de milhares de pessoas. "Eu fiquei muito impactada com o filme, que se passa na Índia, e decidi pesquisar sobre esse tema no Brasil. Foi aí que percebi que precisávamos de mais pessoas falando sobre esse assunto aqui. Decidi, então, começar o projeto", conta.
O termo "pobreza menstrual" pode não ser muito familiar para você também, mas o problema que ele representa é uma realidade de milhões de pessoas. Segundo relatório "Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos", da Unicef, 900 mil pessoas que menstruam não têm acesso a água canalizada em suas casas. 6,5 milhões vivem em casas sem ligação à rede de esgoto. A falta de acesso a recursos, infraestrutura e até conhecimento por parte de pessoas que menstruam configura pobreza menstrual.
É aí que o Fluxo Sem Tabu entra. Além de trazer informação sobre o assunto, o projeto atua na distribuição de absorventes descartáveis para pessoas em situação de vulnerabilidade. A ideia é não só romper com a vergonha de se falar sobre menstruação, mas ajudar quem precisa de segurança e saúde nesse momento.
E qual o segredo de todo esse sucesso em tão pouco tempo? Luana conta: "Acho que foi porque sempre apostei na conscientização. Não tem muitas pessoas que falam sobre esse tema na internet, então eu apostei em posts que as pessoas pudessem compartilhar e isso foi criando uma rede em torno do projeto".
Fluxo Invisível
Para estender a atuação do projeto às pessoas em situação de rua, o Fluxo Sem Tabu uniu forças com outro projeto. O SP Invisível atua há sete anos realizando doações e usando as redes sociais para visibilizar histórias de quem vive pelas ruas da cidade de São Paulo. No último dia 28 de maio, os dois projetos foram ao centro da capital paulista distribuir 200 kits de higiene contendo calcinha, absorvente descartável e lenços umedecidos.
A data para a ação não foi escolhida ao acaso. Dia 28 de maio é o Dia da Higiene Menstrual. "A gente quis lembrar nessa data, que higiene menstrual é algo muito importante principalmente para as pessoas que estão em vulnerabilidade social. E as pessoas em situação de rua são as mais vulnerabilizadas", explica André Soler, co-criador do SP Invisível.
Maria de Fátima foi uma das beneficiadas da ação que levou o nome de Fluxo Invisível. Para ela, mesmo que o espaço para higienização ainda seja um problema, ter um kit como o distribuído pelos projetos facilitará sua vida durante seu ciclo. "Muitas mulheres ficaram surpresas ao receberem o kit, muitas falaram, inclusive, que nunca tinham recebido algo assim. Ver o sorriso delas foi muito gratificante", conta Luana.
Para além da ação Fluxo Invisível, os dois projetos podem se encontrar mais vezes. Pelo menos é o que conta André. "Com certeza isso foi só o começo porque essa é uma agenda que precisa ser sempre lembrada".
Um retrato das ruas
Desde 2012, a população em situação de rua cresceu 140% no Brasil. São quase 222 mil brasileiros vivendo sem teto, principalmente nas grandes cidades do Sudeste, Nordeste e Sul. Em São Paulo, 24.344 pessoas vivem pelas ruas da capital, segundo dados de 2019 disponibilizados pela prefeitura.
Priscila Cristiane já fez parte dessa estatística. Ela relata que durante os cinco anos em que viveu em situação de rua já teve que usar papel higiênico e pedaços de pano para conter a menstruação. Segundo a ginecologista Mariana Ferreira, fazer uso desses materiais por muito tempo pode colocar em risco a saúde de pessoas que menstruam.
"Materiais inadequados, que são utilizados por muito tempo, podem causar alergia na região do períneo, outra coisa que pode acontecer também é favorecer o surgimento de micro-organismos, infecções e desequilíbrios da flora vaginal", explica a médica.
Para ela, é importante que a saúde menstrual seja garantida por meio de políticas públicas. "Assim como é direito se alimentar, esses itens de higiene também deveriam ser garantidos. O que pode ser feito, então, são programas que oferecem quantidades adequadas de absorventes".
As pessoas precisam entender que a menstruação é um processo fisiológico e, sendo assim, as pessoas que menstruam precisam vivenciar isso de forma digna.
Mariana Ferreira, ginecologista
Você pode doar qualquer valor para o Fluxo Sem Tabu acessando aqui a vakinha online do projeto!
Para o SP Invisível você pode fazer uma doação mensal no valor de 45 reais acessando aqui!
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