Clara Beatriz tem 13 anos e criou projeto para incentivar a leitura
Quantos livros você já leu na quarentena? Essa é uma provocação levantada por Clara Beatriz Maciel lá nas suas redes sociais. Se você até começou a ler alguns, mas não conseguiu terminar nenhum, não tem problema. O projeto Casinha de Livros, criado por Clara, vai incentivar você e outras milhares de pessoas a ler mais.
O Casinha de Livros nasceu há quase três anos, quando Clarinha — como também é chamada — tinha apenas 10. Depois de uma viagem para Salvador, ela quis replicar na sua cidade, Irecê, região da Chapada Diamantina, uma iniciativa que viu por lá: uma casinha em uma praça pública que disponibilizava livros.
"Eu achei a ideia muito interessante e percebi que na minha região não tinha nada parecido para incentivar a leitura e decidi que eu poderia fazer uma casinha daquelas na minha cidade", diz. A ideia deu tão certo que hoje o projeto conta com nove casinhas espalhadas pelos estados da Bahia, Ceará e Pará.
Além do trabalho físico, Clara também desenvolve um trabalho no Instagram. Lá, ela compartilha dicas de leitura, seus livros favoritos, cria campanhas de arrecadação para o projeto e faz lives. Lázaro Ramos, Astrid Fontenelle e Rodrigo Carvalho já passaram por lá para conversar com ela. Em fevereiro deste ano, pela repercussão positiva do projeto, Clara recebeu o reconhecimento de jovem transformadora pela rede de empreendedores sociais Ashoka. "Eu percebi que o Instagram tinha um alcance ainda maior para também incentivar as pessoas a ler", conta.
A primeira página da Casinha de Livros
Conceber a ideia para o projeto foi mais fácil para Clara do que convencer os pais a entrar na empreitada. "De início, eles disseram não porque achavam que as pessoas que passavam pela praça poderiam vandalizar a casinha", lembra. Sua mãe, Maria José Maciel, conta que, no início, achou que só se tratava de "mais uma das invenções de Clara". "O pai dela até fez uma aposta com ela de que iriam destruir a casinha em 15 dias, mas já se passaram 2 anos e 7 meses e o projeto só cresceu".
Muito determinada, ela passou um ano insistindo até que os pais cedessem. A solução encontrada foi a de colocar a primeira casinha na praça ao lado de sua casa, para que Clara pudesse acompanhá-la mais de perto. Os primeiros livros vieram de sua própria coleção e de sua família. Para construir e colocar a casinha na praça, Clara contou com a ajuda dos pais.
"No começo, muitas pessoas estavam pegando o livro e não estavam devolvendo", lembra a garota. Esse é realmente um problema para o projeto. A ideia da Casinha de Livros é que o livro circule, o que quer dizer que a pessoa pode pegá-lo, levá-lo para casa, mas precisa devolvê-lo. "Se quiser, é legal levar outro livro para contribuir", explica.
A solução para o problema veio do Instagram. Pela rede social, Clara contou com a ajuda da tia para publicar por lá os títulos que estavam disponíveis, além de sempre lembrar que o projeto dependia das devoluções. "Quando estávamos com 900 seguidores, resolvemos fazer um bazar para conseguir arrecadar mais livros", lembra. E deu certo! Mais de mil títulos foram arrecadados.
Como criar o hábito de leitura por Clara Beatriz
1. Escolha um gênero que mais te agrada
2. Escolha um livro de, no máximo, 100 páginas para não desanimar
3. Reserve 10 ou 15 minutinhos do dia para a leitura e comece lembro de 5 a 10 páginas por dia
4. Leia para crianças pequenas e deixe os livros sempre dispostos a elas.
5. Leitura não é uma competição, leia no seu tempo
Ainda hoje, por não conseguir ter controle de quem pega os livros, Clarinha não consegue controlar, também, as devoluções. Mas se se antes ela contava com a desconfiança dos familiares de que o projeto daria certo, hoje ela consegue contar com eles até para contornar essa situação.
"A gente está vendendo agora as canecas do projeto para arrecadar dinheiro para comprar livros e os adesivos nas casinhas. Além disso, meus familiares me ajudam na montagem e distribuição de livros nas casinhas e, claro, com o Instagram", conta Clara.
Escrevendo sua história
Batendo o pé para levar o projeto para frente, Clara já se mostrou, apenar de muito nova, muito determinada. Mas não só isso a ajudou a espalhar a Casinha de Livros. O amor pelos livros é algo que ela carrega de berço. Ou de antes.
"Minha mãe conta que já lia livros para mim quando eu ainda estava na barriga dela. Quando nasci, ela continuou lendo para mim", diz Clara. Seu primeiro livro foi um de banheira, daqueles de plástico, cheio de figuras e que se pode molhar sem estragar. "Quando ela aprendeu a ler, fui oferecendo para ela livros com texturas, coloridos que chamavam a atenção. Assim, desde pequena, ela foi desenvolvendo esse interesse pela leitura", lembra a mãe de Clara, Maria José.
"Quando eu aprendi a ler essa minha sede de leitura só aumentou porque a leitura faz com que eu me sinta de um jeito que eu não sei se dá para explicar, mas é como se o livro me acalmasse", conta Clara. Seu amor pela leitura a fez querer despertar esse sentimento em outras pessoas.
O que eu sinto pelo livro eu queria que as outras pessoas sentissem também e eu acho que é daí o meu desejo de incentivar a leitura e de querer que as pessoas leiam mais
Clara Beatriz Maciel, idealizadora do projeto Casinha de Livros
A leitura desenvolveu em Clara uma outra paixão: a escrita. Na escola, sua matéria favorita é produção de texto. "Eu amo demais. Para falar a verdade, no quarto ano eu gostava muito de ciência, mas agora está muito difícil", comenta. A escola também foi um grande incentivo para que ela se interessasse ainda mais pelos livros. Clara batia cartão na biblioteca. Pegava sempre diários, um de seus gêneros favoritos.
Se engana, porém, quem pensa que Clara quer se tornar escritora. A menina de apenas 13 anos quer ser atriz. Na verdade, ela já atua em algumas peças de teatro, mas, com a pandemia de Covid-19, teve que parar. Outra profissão que paira pela cabeça de Clara é a de jornalista. Sobre assuntos da política, por exemplo, ela já sabe comentar.
Apesar de dizer que nunca houve projeto para taxar livros, a reforma tributória do ministro da economia Paulo Guedes previa tributar o setor que hoje é isento de impostos. A decisão rendeu inúmeras críticas de leitores e de especialistas.
Para Clara, se for concretizada, a taxação tornará o livro ainda mais inacessível. "Isso é revoltante, principalmente pela justificativa usada para isso", comenta. Segundo a pasta, "famílias com renda de até dois salários mínimos não consomem livros não didáticos". Clara, inclusive, abordou o tema no Instagram do projeto.
Ler não devia ser um privilégio. Livro não deve ser considerado artigo de luxo. Dificultar o acesso aos livros é um verdadeiro retrocesso
Clara Beatriz Maciel, idealizadora do projeto Casinha de Livros
Clara comenta que a democratização da leitura, contudo, também passa pela doação de livros. "Você pode doar livros para instituições, escolas, comunidades, ou até usar as redes sociais para lutar pelo direito ao acesso ao livro por um preço justo e pelo direito à educação".
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