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Coral cresce surpreendentemente e pode elevar em 50% a renda de jangadeiros

Corais crescem em berçário de impressora 3D instalado em Porto de Galinhas (PE) - Reprodução
Corais crescem em berçário de impressora 3D instalado em Porto de Galinhas (PE) Imagem: Reprodução

Marcos Candido

De Ecoa, em São Paulo (SP)

25/06/2021 06h00

Um berçário para corais pode ser a solução para manter a espécie viva e ainda beneficiar o bolso de jangadeiros e mergulhadores de Porto de Galinhas, em Pernambuco. Segundo os coordenadores do projeto Biofábrica de Corais, biólogos, turistas e trabalhadores do mar também saem ganhando com a iniciativa. Isso tudo com a ajuda de um bicho costumeiramente mal compreendido.

Um coral mostra se uma região do mar está saudável

Sim, ao contrário do que parece, corais não são plantas. Eles são animais cnidários, como as anêmonas-do-mar e as águas-vivas. A diferença é que são imóveis, conectados por um esqueleto, e vivem em comunidade.

Os corais são abrigo para peixes e algas microscópicas — algas que fazem fotossíntese, absorvem CO2 e liberam oxigênio. Segundo cientistas, os recifes de corais abrigam 25% de toda a vida marinha. Com tanta biodiversidade, biólogos costumam chamá-los de "floresta tropical submersa".

Biofábrica de corais submersa em Porto de Galinhas; aumento foi considerado surpreendente por criadores do projeto - Divulgação - Divulgação
Biofábrica de corais submersa em Porto de Galinhas; aumento foi considerado surpreendente por criadores do projeto
Imagem: Divulgação

Vendo suas fotos multicoloridas, não é difícil imaginar que turistas invistam dinheiro para observá-los. Neste quesito, o Brasil é privilegiado. O país tem o único banco de corais do Atlântico Sul e corais que vão do Maranhão até a Bahia, onde encontramos o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos — um verdadeiro parque embaixo d'água. De acordo com ICMBio, somente no Brasil encontramos espécies de corais como o coral-cérebro.

Crescimento de corais em "berço" surpreende

Em 2018, pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco começaram a desenvolver um "berçário" para cultivá-los no município de Ipojuca, em Porto de Galinhas. Os berços feitos em uma impressora 3D receberam a amostra da espécie coral-de-fogo e coral-cérebro e foram submersos em uma área controlada do oceano.

Os corais-de-fogo cresceram 40% em três meses. Em 120 dias, o coral-cérebro cresceu 200%. Para cientistas, os resultados do projeto-piloto são promissores, embora ainda seja preciso estudar o tempo ideal de "berço".

Bom para todo mundo

Corais são sensíveis às mudanças climáticas e estimativas da ONU mostram o tamanho da ameaça: 70% a 90% destes animais marinhos podem desaparecer nas próximas décadas devido ao aquecimento global. Salvá-los é uma missão bastante complexa.

Na ciência, pesquisadores costumam se dividir entre remanejar, repovoar ou reflorestar uma área que foi degradada ou mantê-la intocada e protegida até que a própria natureza se reconstitua.

Segundo Rudã Fernandes, coordenador científico da Biofábrica de Corais, os berçários são uma estratégia para manter viva a biodiversidade marinha, os corais saudáveis e beneficiar quem vive fora d'água por meio de manejo e repovoamento. "Quantas mais atividades econômicas para preservação, mais fácil para gente preservar".

"Nossa intenção é integrar a pesquisa científica respaldada, com a preservação e benefício à comunidade local"

Atualmente, 84 jangadeiros e 40 mergulhadores se beneficiam diretamente das visitas de turistas aos corais de Galinhas. No lugar de apenas observar, os biólogos poderão estudar os corais de maneira controlada e ainda oferecer educação ambiental a quem paga e recebe para visitá-los.

No futuro, a ideia é que jangadeiros e pescadores visitem as áreas revitalizadas pelo berçário. As estimativas de Rudã é um aumento em 50% no valor cobrado pelos passeios após a capacitação — e parte do valor poderia ajudar a custear a continuidade do projeto de revitalização.

De acordo com a associação de jangadeiros, os passeios em jangada custam cerca de R$ 40. O valor dos mergulhos varia de acordo com a temporada e a empresa que fornece o passeio, mas gira a partir de R$ 50.

Próximas etapas

Os moldes biodegradáveis da impressora podem ser mudados de local caso o trecho não seja o melhor para os corais. Segundo Rudã, além de mantê-los vivos, os berçários também facilitam a observação para estudos científicos a longo prazo.

Não à toa, cientistas ainda estão longe de descobrir todas as possibilidades que podem ser extraídas dos seres marinhos em benefício para nós, humanos. O projeto gestado em 2015 foi financiado pela Fundação Boticário, pelo Uber e aguarda novas fontes de financiamento.

O desejo dos pesquisadores é fazer um berçário em larga escala na praia de Porto de Galinhas ainda em 2021. "Nossa intenção é integrar a pesquisa científica respaldada, com a preservação e benefício à comunidade local", explica Rudã.