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Marca de sandálias veganas cresce 700% na pandemia

Isabela Chusid - Divulgação/Linus
Isabela Chusid Imagem: Divulgação/Linus

Pâmela Carbonari

Colaboração para Ecoa, de Florianópolis (SC)

22/07/2021 06h00

As boas ideias muitas vezes surgem da dor. O nascimento da marca de sandálias veganas Linus foi um exemplo disso. Em 2017, Isabela Chusid, 26, foi diagnosticada com frouxidão ligamentar, uma disfunção que aumenta o espaço entre os ossos e as articulações, o que lhe causava dores nos pés e nos joelhos. Além de exercícios físicos específicos, o médico recomendou que ela migrasse dos chinelos e tênis rasteiros que faziam parte de seu estilo despojado para calçados que oferecessem maior sustentação do arco plantar (a curva da planta do pé). A busca em vão de Isabela por sapatos que aliassem conforto, design e sustentabilidade foi o pontapé inicial da Linus.

A paulistana até encontrou calçados adequados para seu problema de saúde, mas o calcanhar de Aquiles da maioria dos modelos estava na questão ambiental, algo que desde muito cedo foi importante para ela. Isabela conta que, com apenas quatro anos, seu entusiasmo com o que havia aprendido na escola sobre reciclagem motivou uma mudança no destino do lixo em todo o condomínio onde morava com a família. Em 2018, formada em Administração e frustrada com a falta de propósito das empresas tradicionais em que havia trabalhado, ela pediu demissão para criar o sapato que buscava, mesmo sem nenhuma experiência no setor.

O "fast fashion" é um ciclo vicioso que faz mal para todas as partes envolvidas, Isabela Chusid

Com ajuda de fisioterapeutas, ortopedistas e engenheiros de materiais, Isabela passou meses mergulhada no desenvolvimento de um calçado que suprisse suas necessidades, e na criação de uma empresa que estivesse em consonância com o que desejava para seu produto. "Fiz questão de pesquisar, me certificar sobre toda a cadeia produtiva. Se soubesse que estaria jogando plásticos por aí à torto e a direito, não teria aberto a Linus"., conta a empresária.

E a preocupação de Isabela tem sentido. A indústria da moda é a segunda mais nociva para o planeta, atrás apenas do setor petroleiro. De acordo com dados da ONU Meio Ambiente, ela responde por 10% das emissões de gases-estufa, à frente dos setores de transporte marítimo e da aviação juntos.

Além do impacto ao longo da manufatura, os sapatos são um problema também quando sua vida útil chega ao fim. Para que sejam resistentes, elásticos e impermeáveis, os calçados podem ter até 40 tipos diferentes de materiais em sua composição, o que dificulta a reciclagem. Não à toa, o setor coureiro-calçadista no Rio Grande do Sul, segundo maior fabricante do produto no país, é o principal responsável pelos resíduos sólidos gerados no estado.

Para não fazer coro a essas estatísticas, as Linus foram desenvolvidas com 70% de fontes renováveis e contêm 20% de material reciclado em sua composição. Inspirada na papete Birkenstock, modelo mundialmente conhecido pela atemporalidade, conforto e versatilidade, as sandálias criadas por Isabela não têm gênero, são livres de metais pesados e utilizam uma tecnologia de PVC ecológico expandido com plastificantes de origem vegetal. A fundadora da marca também fez questão que fossem produzidas no Brasil com matérias-primas 100% nacionais.

"Nosso grande propósito é tornar o bem-estar um estilo de vida. Queremos gerar uma mudança em toda a cadeia e é muito claro que a gente pode fazer isso", diz Isabela. A marca é certificada pelos selos Eu Reciclo, Iniciativa Verde e pela organização internacional de direitos dos animais PETA. Atualmente, a empresa coleta 200% do plástico que produz, compensa a emissão de carbono gerada a cada ano e planeja se tornar carbono negativa até 2026.

"A sustentabilidade já não é mais um diferencial, é condição de sobrevivência das empresas. Quem não estiver alinhado ao conceito vai perder espaço, e em um curto prazo", defendeu o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) em um encontro do programa Origem Sustentável, uma certificação ecológica para as empresas calçadistas, realizado em maio.

Na pandemia a passos largos

1 - Divulgação/Linus - Divulgação/Linus
Fábrica da Linus, no Vale dos Sinos (RS)
Imagem: Divulgação/Linus

Enquanto a crise sanitária do coronavírus encolheu a economia nacional e a produção brasileira de calçados teve uma redução de quase 20% no ano passado, a Linus cresceu impressionantes 700% entre janeiro de 2020 e janeiro de 2021. Um levantamento realizado pela Abicalçados sobre a performance do setor mostra que 40% das empresas ouvidas creditam a redução da demanda de sapatos ao fechamento do comércio — e o fato de a Linus ser nativa digital foi um dos degraus que construíram seu sucesso.

Os produtos da Linus são feitos do material certo e na hora certa: a participação dos calçados de plástico e borracha no total da produção nacional passou de 50% em 2019 para 56% no ano passado, o que se explica pelo comportamento dos consumidores, já que uma parcela da população tem passado mais tempo em casa.

Apesar dos planos para quadruplicar o faturamento neste ano e da internacionalização da marca para Portugal e para os Estados Unidos, a empresária é contra promoções que incentivam o consumo desenfreado. Isabela pretende manter os pés no chão: "Quando a gente pensa em sustentabilidade, não é só ambiental. A empresa tem que ser socialmente sustentável com os funcionários e financeiramente sustentável. Temos que ter muita tranquilidade antes de dar novos passos".