Camas de papelão não são antissexo, mas são recicláveis e existem no Brasil
A imagem que você tem do futuro inclui carros voadores, móveis inteligentes e robôs servindo humanos? As camas da Vila Olímpica no Japão, país sede das Olimpíadas 2021 e um dos pólos mundiais de tecnologia e da inovação, provam que o futuro pode estar no... papelão!
Longe de ser um passo para trás, a escolha do material representa um avanço e mostra como todo o evento está preocupado com a sustentabilidade. O reuso de matéria-prima não parou nos quartos dos atletas. "Além das camas, as medalhas também trazem o conceito verde e foram produzidas com os minérios extraídos do chamado lixo eletrônico de celulares e computadores. Esses grandes eventos têm o papel de educar e divulgar práticas positivas. Aposto que muita gente ficou pensando em ter um destes móveis ou medalhas", aponta Marcus Nakagawa, professor da ESPM e especialista em sustentabilidade.
Ter uma medalha olímpica no peito, sem dúvida, não é para qualquer um, mas, no Brasil, já é possível adquirir móveis feitos de papelão.
Ecoa conversou com empresas que produzem móveis em papelão no Brasil e especialistas, que inclusive esclareceram a polêmica das estruturas terem sido adotadas para evitar sexo entre os atletas. Confira a seguir.
Por que usar camas de papelão para atletas nas Olimpíadas?
Antes mesmo do início dos jogos olímpicos, as camas de papelão têm chamado a atenção nas redes, e mais de um atleta gravou vídeos pulando na estrutura, com o destaque para o brasileiro Douglas Souza, que viralizou provando que ela é resistente.
O Japão tem investido em um grande show de sustentabilidade e até mesmo os pódios são produzidos com plásticos retirados do mar e a escolha pelas mais de 18 mil estruturas produzidas com papelão para amparar o descanso dos competidores não foi por acaso.
"É interessante ter móveis de papelão porque não existe um impacto tão grande na produção e no descarte. Após as Olímpiadas, essas estruturas poderão ser destinadas para reciclagem e produção de outros produtos e essa tendência reciclável, já é muito bem construída no país", explica Ivo Pons, professor do Mackenzie e fundador da OnG Design Possível.
Para Pons a polêmica pode ainda ser parte de uma espécie de preconceito pelo material, mas que tem a chance de encontrar uma vitrine positiva nas Olimpíadas de Tóquio 2021.
"A principal barreira é a percepção de quem usa, que acha que aquilo é mais frágil, menor e pior. É interessante o Japão trazer esse tipo de tecnologia para o evento e pode ser uma vitrine para outros eventos do tipo, que têm ciclos curtos e assim podem deixar de lado outros materiais com ciclos incompatíveis com o tempo da atração, por exemplo", explica.
A redução da pegada de carbono já era programada para as Olimpíadas em 2020, mas com a diminuição de circulação e de viagens o número pode ser ainda maior que o esperado, chegando a 340 mil toneladas a menos por dia, de acordo com a organização do evento.
Cama antissexo? Papelão pode aguentar até uma tonelada
Para Bruno Pellegatti, sócio da Cartone Design, que trabalha há dez anos no Brasil com a produção e venda de peças em papelão que vão de móveis para casa, brinquedos para crianças até stands de eventos, as camas são bem resistentes e o papelão pode suportar grandes quantidades de peso, se bem aplicado.
"Analisando pelas fotos, percebo que as camas usadas na Vila Olímpica têm uma montagem muito próxima ao banco de praça que fabricamos e que aguenta até 300 quilos. A utilização desse papel da forma correta e no sentido contrário da onda [que ele forma], pode alcançar resistências de até uma tonelada", explica Pellegatti.
Apesar da paquera entre os atletas ser polêmica, a utilização das camas feitas com papelão não tem como foco impedir possíveis encontros mais quentes entre eles, mas sim a capacidade de ser extremamente sustentável. Os papéis em geral podem ser reciclados até sete vezes, mas o papelão por ter fibras longas, supera esse número de reutilização.
"O papelão é sustentável e apresenta uma alternativa de custo interessante quando comparado ao plástico e à madeira, além de ser reciclável e fazer parte de uma das matérias-primas que é 100% reciclada no Brasil", comenta Pellegatti. "O uso do material gera renda para catadores e cooperativas de reciclagem. Os benefícios são para o planeta e para as pessoas", completa.
Móveis de papelão já podem ser comprados no Brasil
Quem também investiu no papel como matéria-prima de suas criações foi Daniela Bueno, fundadora da Crafta Inteligente, que fabrica itens para casas, crianças, eventos, brinquedos e caminhas para gatos.
"A ideia surgiu em 2005, quando vi um estande em uma feira de arte na Espanha. Em 2010 chegamos ao mercado brasileiro, mas aqui, ainda não estavam dispostos a pagarem por papelão", conta Bueno.
A saída para a empresa faturar foi investir no campo empresarial. "No início, o mercado de eventos teve uma aceitação mais ampla, pois as empresas já estavam preocupadas com essa imagem de sustentabilidade", lembra a criadora da marca.
Vendendo agora para todos os ramos, Bueno enxerga que a aceitação do material já está mudando entre as pessoas. "Esse é um produto que entra no mercado, é assimilado e se sair será reciclado e integrado novamente", explica. Sobre a durabilidade, Ana Serino de Rezende, sócia da Cartone Design, afirma que o tempo dos itens é indeterminado, se bem conservado e longe da água. "Temos clientes que têm produtos em bom estado que foram fabricados há oito anos", comenta.
As marcas citadas na reportagem têm produtos à pronta entrega e sob encomenda. Os preços dos móveis partem de R$ 85,00 e algumas peças têm a opção de personalização. A Cartone já fez camas de papelão para um projeto específico, há oito anos, mas só produz os móveis se forem pedidos grandes, sob encomenda.
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