Topo

Loja combate cultura do descarte consertando objetos que iriam para o lixo

Divulgação
Imagem: Divulgação

Carolina Vellei

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

12/08/2021 06h00

"Se você ama, conserte. Não jogue fora". Com essa frase, a empresa Remade Network incentiva os clientes a darem uma segunda chance àqueles pertences prestes a ir para o lixo. Além de oferecer profissionais especializados em diversas áreas de reparo - de roupas a eletrônicos -, a loja também oferece treinamentos para quem deseja aprender como dar nova vida a itens que seriam descartados.

A responsável pela ideia foi a escocesa Sophie Unwin. Ela começou com um projeto-piloto na cidade de Glasgow e as coisas deram tão certo que acabaram virando uma empresa social. "Queremos ver uma mudança radical na cultura do descarte e é isso que esperamos oferecer", disse em entrevista à BBC.

A Remade Network realiza projetos de reparo e inclusão digital na comunidade para combater a desigualdade e ajudar na redução de emissões de poluentes que prejudicam o planeta. "É um modelo que estamos estabelecendo em toda a cidade, então não é apenas uma loja. É toda uma série de projetos em que as pessoas podem reciclar, reutilizar e consertar facilmente as coisas em suas comunidades", completa Sophie.

Ross Cameron, funcionário que trabalha como técnico na loja, revela que já consertou muitos utensílios domésticos desde que começou. "Tivemos caixas de música, relógios, secadores de cabelo, toca-discos, rádios, podadores e cortadores de grama - tudo que se pode imaginar em termos de material elétrico", explica.

Conserto e doações

O estabelecimento também atrai clientes locais que desejam consertar roupas e acessórios como jeans, bolsas de tecido e camisas. Clare Skelton-Morris, moradora de Glasgow, já estava em sua segunda visita ao local - na primeira, levou alguns brincos para serem consertados.

Desta vez, levou um toca-discos que não estava mais funcionando. "Vim aqui para consertar e doar também. Temos dois e não precisamos mais deste", explicou ao jornal. "Trazer algo para a loja e saber que vai ser consertado e ter uma segunda vida é uma coisa muito positiva. Prefiro que o toca-discos vá para uma boa casa, onde seja amado e muitos discos sejam reproduzidos", defende.

Como nem sempre é do interesse das pessoas manterem eletrônicos sem uso em casa, existe a opção de doá-los para que sejam redirecionados ao conserto e, posteriormente, às mãos de quem não tem acesso à tecnologia. A empresa acaba de lançar um ponto de coleta para esses itens, em parceria com o governo escocês.

Empresa combate a cultura do descarte consertando objetos que iriam para o lixo - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

"Por muito tempo, os consumidores foram culpados por não reutilizar e consertar [seus equipamentos], quando as condições para que elas pudessem fazer escolhas melhores nem existiam", explica Sophie ao jornal Glasgow Times.

"Patrocine um conserto"

Com a facilidade do comércio online, a preocupação com o impacto ambiental do alto volume de compras de eletrônicos e outros bens levou a empresa a criar um programa de patrocínio para pessoas interessadas em financiar consertos de computadores destinados a doações. Além de equipamentos usados, é possível ajudar com doações entre 20 e 100 libras (de 140 a 700 reais, aproximadamente).

Dentro desse programa, nos últimos meses, a Câmara Municipal de Glasgow doou à empresa 500 computadores de mesa para serem reformados e destinados a grupos de pessoas vulneráveis.

De acordo com a Remade Network, os equipamentos doados ajudarão aqueles que já estavam social ou digitalmente isolados durante a pandemia, melhorando o acesso a serviços de educação e suporte online - além de ajudá-los a se conectar com amigos e familiares.

"Eu nunca teria podido pagar, então foi uma coisa boa. Meu filhinho está completamente encantado com isso, ele faz seus trabalhos escolares e joga", diz um homem chamado Martin, que recebeu um dos computadores. "Eu sou um verdadeiro dinossauro e meu filho, que tem nove anos, me ajudou a montá-lo", completa.

Em parceria com o projeto de conectividade digital Glasgow Life, a organização também apoia os usuários que recebem as doações oferecendo internet móvel e consultoria de computação. A empresa continua aceitando dispositivos eletrônicos para serem redirecionados a quem mais precisa após o conserto.