Empresa faz sucesso com vasos autoirrigáveis feitos a partir de descarte
Jiboias, marantas, peperômias, calatheas e samambaias nunca foram tão ostentadas. Ter uma selva particular é bonito e está na moda. Mas nem todos que se aventuram a cultivar plantas em casa nasceram com "dedos verdes". É para eles - e os muito atarefados e esquecidos - que uma empresa do Rio Grande do Sul vende vasos autoirrigáveis. Melhor ainda: vasos autoirrigáveis e feitos de plástico reciclado. Assim, os engajados clientes ficam com a consciência duplamente tranquilizada.
"Existem três tipos de pessoas que compram nossos vasos", conta Mateus Serafim, que criou a Plantiê com o irmão, Leonardo, em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha. "A louca das plantas, que tem mais de 30 em casa e não tem tempo hábil para regar todas. O aspirante ao mundo das plantas, que tem a vida muito corrida e só para uma vez por semana para olhar as plantas e casa. E o 'serial killer' de planta, que já matou até cacto e suculenta", brinca.
Mateus não era um exímio conhecedor de plantas quando começou a se interessar pelo assunto em 2016, aos 22 anos. Ele trabalhava como projetista de moldes para plástico, mas tinha vontade de abrir seu próprio negócio. Seu antigo chefe deu a ideia dos vasos, algo que tinha visto em um site alemão. "Comecei a estudar diversos tipos de cordas, barbantes e vasos para chegar a um conceito que servisse para o maior número de plantas de ambiente interno". Algo que, até então, era distante de sua realidade. "Na casa da minha mãe, você sentia cheiro de grama o tempo todo, podia colher laranja direto do pé, regar a horta com a mangueira, porque tem espaço, tem pátio."
A empresa surgiu em 2017 e o começo foi "bem sofrido", nas palavras de Mateus. O produto era pouco conhecido do público e havia outros problemas, segundo o jovem empresário. "Havia um preconceito das floriculturas, afinal, se ninguém mais matar suas plantas, ninguém mais comprará plantas novas". Longe de São Paulo, que tem o maior consumo de plantas do país, um negócio que foca em jardinagem de ambientes internos fica ainda mais desafiador em um estado como o Rio Grande do Sul, que tem apenas a 13ª maior densidade demográfica do Brasil. Com a exceção de Porto Alegre (3ª cidade mais verticalizada do Brasil, segundo um levantamento do Zap Imóveis), morar em apartamentos, neste estado da região Sul, é menos comum do que em São Paulo ou no Rio de Janeiro, por exemplo. "Com isso, ouvi muito 'não' de dono de floricultura", lembra.
Quando Mateus passou a ir mais a São Paulo tentar vender sua ideia, viu que tinha, sim, público para ela. "A vida é muito corrida, não se tem tempo para praticamente nada. Regar uma planta e oferecer todos os cuidados que ela precisa pode passar despercebido muitas vezes." As floriculturas paulistas demonstraram sua aprovação encomendando cada vez mais os vasos da Plantiê.
Hoje, os irmãos Serafim comandam a empresa 100% online. Não há lojas físicas e a pandemia reforçou isso. "Mas faço questão de que o atendimento seja muito humano, você pode tirar as dúvidas pelo celular que a gente responde em menos de uma hora", diz.
Terreno fértil
Os vasos da marca têm furos tubulares nas laterais, por onde passa o barbante que conduz a água à terra, garantindo assim 25 dias sem a necessidade de rega. O modelo também dispensa o uso do temido pratinho, costumeiro criadouro de mosquito da dengue. Embora a autonomia seja o que mais atrai o público, o grande diferencial da Plantiê é a matéria-prima, que vem de catadores e das fábricas da região (Caxias do Sul é um dos principais polos industriais do país).
O design dos produtos foi selecionado para o prêmio de design do Museu da Casa Brasileira, em 2018, e venceu o prêmio de sustentabilidade da Casa Vogue, em 2019. "Nosso molde foi projetado para suportar todo tipo de plástico reciclado. Os detalhes de engenharia necessários para a fabricação e o acabamento do produto foi todo pensado para usarmos sempre e somente plástico 100% reciclado e 100% reciclável", explica Mateus.
O conceito deu tão certo que a Plantiê transformou 11 toneladas de resíduos em novos produtos só em 2020. Neste ano, a previsão é de 27 toneladas, um aumento de 150%. A meta é chegar a 100 toneladas. "Não sei quando vamos conseguir, mas vamos fazer de tudo para provar o quão úteis e viciantes são os nossos vasos para a saúde das plantas", afirma Mateus. E se depender da temperatura do mercado, as próximas safras da empresa tendem a ser boas. Durante a pandemia, passar mais tempo dentro de casa fez com que mais gente topasse investir em plantas ornamentais para deixar o próprio lar mais bonito e aconchegante - de acordo com o Instituto Brasileiro de Floricultura(Ibraflor), o setor teve um impulso de 10% no último ano e a expectativa é que em 2021 o crescimento seja de 5%.
A hidratação das plantas fica a cargo dos vasos autoirrigáveis, mas para ter uma "urban jungle" digna de Pinterest, ainda é preciso podar, manter a iluminação adequada, ficar de olho em pragas, fertilizar etc. Pensando em acompanhar essa febre, a marca passou a investir mais em informação. Contratou pessoas para tirar dúvidas dos clientes pelo Whatsapp, fez parcerias com influenciadores e o próprio Mateus dá dicas de jardinagem nas redes sociais da marca.
A empresa está vendendo cerca de 35 vasos por dia a "pais de planta" de todo o país. Para o fundador, é um caminho sem volta. "Só depois que você se permite começar a ter suas plantas é que você vê o quão gostoso é ter uma decoração viva, que cresce e se multiplica."
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