Do adeus à formatura: projeto liga doentes de covid à vida fora do hospital
A pandemia trouxe uma particularidade a quem precisou ficar internado com covid-19: o isolamento necessário para tratamento da doença. Um desafio aos profissionais de saúde, desde o início, foi fazer com que os pacientes em solidão tivessem contato com o mundo fora do ambiente hospitalar.
Foi com essa ideia que o hospital Delphina Aziz, em Manaus, lançou o projeto "Chamada do Bem". Em um ano e meio, ele coleciona histórias emocionantes, como a da formanda que participou da colação de grau à distância; da mãe que conheceu o bebê pela tela do celular; e as duras despedidas antes de intubações.
O Delphina, como é chamado, é um hospital referência para tratamento de covid-19 no Amazonas, recebendo pacientes de todo estado - o que inclui moradores de áreas remotas e pessoas pobres sem smartphone.
"Nós fizemos um levantamento na ouvidoria e ficou evidenciada a necessidade da parceria do tratamento clínico e o auxílio da família. Como alguns pacientes entraram sem celular, e outros nem tinham, a gente pensou em criar o projeto para contemplar ambos", conta Vanessa Melo, supervisora de ouvidoria e coordenadora do projeto.
Ao todo, 14 pessoas participam da ação, revezando- se para garantir que familiares e pacientes se falem diariamente. Cada chamada dura 5 minutos, podendo aumentar em casos extraordinários.
A triagem para escolher os pacientes é sempre feita com cuidado. "O foco eram aqueles que estavam com dificuldade de colaborar com o tratamento, querendo se evadir do hospital ou com problemas psicológicos. E a gente manteve esse vínculo entre paciente e familiar com ligações em vídeo diárias, e de imediato notamos uma resposta positiva", revela.
Histórias emocionantes
Nesse um ano e meio de atuação, o projeto contabiliza 1.500 pacientes atendidos, com histórias emocionantes. No último dia 11, a ação proporcionou a participação da universitária Daiana Pimenta, de 45 anos, na formatura do curso de Direito.
A agora bacharel foi internada a 16 dias de receber o diploma "Achei que tudo que tinha feito na minha vida tinha se perdido", conta. Mas Daiana venceu a doença e dentro da enfermaria do hospital participou da colação de grau de maneira virtual.
"Quando eu contei para a turma que estava internada com covid, recebi mensagens de positividade, de restabelecimento, de apoio e sobretudo de incentivo. E aí veio o ânimo, a convicção de que os problemas podem vir, mas os sonhos continuam", disse.
Outro caso marcante ocorreu com a paciente Sara Araújo, de 28 anos, que estava grávida quando foi diagnosticada com covid-19. Ela foi transferida de Coari (AM) para Manaus e deu à luz no dia 15 de maio em uma maternidade da capital.
Depois do parto, ela foi transferida para o Delphina Aziz e ficou intubada entre 21 maio e 6 de junho. No dia 10, ainda internada, Sara pôde conhecer seu filho Arthur - que nasceu no dia 15 de maio - pela tela do celular. "A emoção foi grande. Eu não lembrava que estava grávida e tinha dado à luz", contou à época.
A coordenadora do projeto afirma que o projeto serviu também para o momento em que pacientes agravam e precisam fazer aquele que pode ser o último contato da vida com familiares.
Mas ela explica que nem todos os pacientes podem participar, já que alguns podem ser muito emotivos e terem mais problemas clínicos. "Por isso precisamos de uma avaliação do médico, que autoriza a não a chamada.", explica.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.