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Crocheteiras fazem polvinhos e doam a bebês prematuros no agreste alagoano

Bebê segura polvinho em UTI neonatal: conforto e aconchego - Divulgação/Hospital Bom Conselho
Bebê segura polvinho em UTI neonatal: conforto e aconchego Imagem: Divulgação/Hospital Bom Conselho

Carlos Madeiro

Colaboração para Ecoa, em Maceió (AL)

03/09/2021 06h00

Mulheres crocheteiras de Arapiraca se uniram para confeccionar polvinhos de algodão e doar a recém-nascidos que estão internados no Hospital Regional Nossa Senhora do Bom Conselho, em Arapiraca (a 125 km de Maceió). A unidade recebe bebês prematuros ou com problemas de saúde não só da cidade, mas de outras da região agreste de Alagoas.

Desde 2017, o projeto existe e se tornou um xodó do hospital. Ao todo, o grupo "Crocheteiras e cia" já produziu e doou cerca de 1.600 polvinhos para recém-nascidos nesses quatro anos.

A ideia surgiu originalmente da enfermeira e doula Lusandra Maria Gomes Almeida. Ela afirma que a inspiração veio de um projeto similar nascido em 2013, na Dinamarca.

"Eu estava fazendo um voluntariado de consultoria de amamentação. Vendo páginas de internet, vi que existia esses polvinhos do amor, um brinquedo que o bebê se apega desde pequeno e traz benefícios terapêuticos quando usados em uma UTI neonatal. Não existe uma base científica, mas na realidade, foram vistos benefícios em 17 países desse método. Eu me interessei", lembra ela, que é crocheteira.

Ao se encantar com o projeto, Almeida conta que fez uma convocação às colegas crocheteiras na comemoração do dia do artesão (19 de março) em 2017. "Pedimos para que elas se envolvessem nesse projeto, e muitas toparam. Levei a ideia para o hospital — onde já atuava—, e a equipe se encantou e topou. Ali eu já vi possibilidade da implantação e começamos a produzir", explica.

Queda de doações com pandemia

Até a chegada da pandemia, as crocheteiras davam oficinas para ensinar outras mulheres a fazerem os polvinhos para doação. Mas com a covid-19, essas oficinas precisaram ser suspensas, e o número de voluntárias vem caindo. "Já tivemos meses de doar a outros hospitais, mas hoje em dia é uma dificuldade enorme, pois nós não temos condições de fazer a quantidade necessária para demanda mensal", conta.

Uma das crocheteiras que ajuda desde o início é Maria Nasidy Barbosa. Ela também é uma das responsáveis pelo projeto e conta que, do grupo que criou no início do projeto, pouco mais de 80 seguem. "Só que muitas nem comentam mais nada. Acho que temos umas 10 pessoas que fazem", lamenta.

Com poucas pessoas, o grupo não está conseguindo atender a demanda necessária.

No início era de mundo, chegamos a mandar até povinho para outros hospitais porque a gente não tinha como armazenar. Mas esse mês [julho] mesmo eu só mandei 22 polvinhos, e nossa meta é 30 no mês
Maria Nasidy Barbosa

Agora, com a queda nos números da covid-19, o grupo está com esperança no cadastro de novas voluntárias. Nasidy diz que pelo menos três mulheres se mostraram interessadas em ajudar. "A gente vai voltar a fazer a oficina para termos mais voluntárias", explica.

Benefícios aos bebês

Funcionários da UTI neonatal do Hospital Bom Conselho - Divulgação/Hospital Bom Conselho - Divulgação/Hospital Bom Conselho
Funcionários da UTI neonatal do Hospital Bom Conselho
Imagem: Divulgação/Hospital Bom Conselho

No hospital, o trabalho com polvinhos é considerado de grande importância. Os polvinhos são dados aqueles bebês que nascem antes das 37 semanas de gestação.

A fisioterapeuta Natascha Cibele Barbosa é quem está à frente do projeto na unidade. Ela afirma que os polvinhos ajudam no desenvolvimento dos bebês que nascem prematuros.

"Os polvinhos com seus tentáculos simulam para o bebê o cordão umbilical; e a textura do crochê se assemelha a textura da parede uterina. Com isso, eles se sentem mais acolhidos e calmos, reduzindo frequência cardíaca e respiratória, e acelerando o processo de maturação e a saída mais rápida do bebê do suporte de oxigênio", afirma ela, que atua na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal do hospital.

Natascha explica ainda que, em regra, a equipe coloca o polvinho fazendo em contato direto com a pele do bebê. "Em muitos casos é perceptível um semblante mais sereno e mais calmo do bebê", conta.


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