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Aquecimento global muda clima e causa tempo extremo de calor a congelamento

Neve e temperaturas baixas, marcam a manhã desta quinta-feira, 29 de julho de 2021, na cidade de São Francisco de Paula (RS), na Serra Gaúcha - EVANDRO LEAL/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Neve e temperaturas baixas, marcam a manhã desta quinta-feira, 29 de julho de 2021, na cidade de São Francisco de Paula (RS), na Serra Gaúcha Imagem: EVANDRO LEAL/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

Giacomo Vicenzo

Colaboração para Ecoa, de São Paulo (SP)

04/09/2021 06h00

Como está o clima hoje? Ou seria o tempo? Apesar de parecerem a mesma coisa, clima e previsão do tempo são coisas distintas: enquanto um se refere a fatores meteorológicos e outras variáveis de longo prazo, a outra está ligada a fenômenos pontuais daquele dia ou semana.

Mas a relação entre ambos existe e vivenciar mudanças intensas tanto em um, quanto em outro, pode ser um sinal de que não estamos tomando conta do planeta como deveríamos e são resultado do aquecimento global. Vamos entender a seguir a diferença.

Qual é a diferença de clima e previsão de tempo?

Com toda certeza você já ouviu falar sobre mudanças climáticas, o tema foi destaque no relatório IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), da ONU, publicado recentemente que apontou que chegamos ao ponto em que parte dessas alterações feitas no planeta por ação dos seres humanos é irreversível.

Mas o que de fato é clima? Por exemplo, "clima ensolarado", ou "nublado", por exemplo, apesar dessas expressões serem comuns no dia a dia, estão erradas. Isso porque as condições que definem o clima de uma região carecem de uma análise de longo prazo e variáveis mais complexas.

"O clima de uma região precisa de 30 anos de dados meteorológicos para ser definido e os fatores que o definem são a latitude, a topografia, a proximidade do oceano, as correntes oceânicas e a área, que pode ser urbana ou rural. O clima é uma média de dados do tempo meteorológico", explica Fabio Luiz Teixeira Gonçalves, doutor em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG (instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas).

Já o tempo, ou a chamada previsão do tempo [esse sim, pode estar ensolarado], varia de acordo com fatores mais momentâneos, como umidade do ar, chegada de frente fria, chuvas e deslocamento de nuvens.

Ainda assim, a previsão do tempo, segue "a média" do clima em que se encontra, por exemplo, nevar em Salvador é algo improvável de acontecer. Mas pode fazer calor pela manhã e ter um tempo mais frio ou ameno durante à tarde.

O meteorologista traz como exemplo prático, a comparação do passeio com um cão.

"A previsão do tempo é sempre referida a mudanças rápidas das mesmas variáveis meteorológicas, de horas a uma semana. Por exemplo, um cachorro andando com o dono preso pela coleira, o cão vai a todo lado cheirando, esse é o 'tempo' meteorológico, mas segue, na média, que é o dono, que podemos entender como clima", explica Gonçalves.

O que explica fenômenos meteorológicos extremos?

Calor excessivo na fria Europa ou neve em locais em que comumente os termômetros não tinham medições tão baixas: ao checar os noticiários a impressão que temos é que o cão do exemplo anterior, que representa a previsão do tempo, se soltou da coleira e está correndo bem distante de seu dono [o clima].

Esses efeitos são cada vez mais perceptíveis e estão ligados às mudanças climáticas, que provocam fenômenos meteorológicos extremos, entre eles, até mesmo o "congelamento" da Europa e da América do Norte, de acordo com o estudo publicado na revista Nature Climate Change, que apontou que mudanças em correntes oceânicas que levam água quente dos trópicos para a Europa, podem causar um desbalanceamento que causará ondas congelantes no continente europeu e na América do Norte.

No entanto, mesmo com o risco do frio congelante, a conta fica de novo com o aquecimento global. "Mudanças climáticas sempre ocorreram. São alterações de longos períodos, referentes a fatores que são acrescidos da variabilidade natural do sol, a posição da órbita terrestre, mas as atuais mudanças são de origem antrópica [causada pelos seres humanos] e não naturais", explica o meteorologista.

Gonçalves alerta que o principal culpado é a liberação de gases do efeito estufa na atmosfera. "Essas mudanças têm sido rápidas e com claros impactos, que estamos vivenciando especialmente nas últimas semanas. Com este cenário de aquecimento, os eventos extremos meteorológicos (que fazem parte da previsão do tempo, como temporais ou secas) ocorrem e ocorrerão com maior frequência", alerta.