Hélio Santos: "A questão racial é colocada como problema, mas é a solução"
Para o professor e consultor em gestão da diversidade. Hélio Santos, a história do negro no Brasil representa luta e muito trabalho. O especialista ministrou uma aula magna sobre ESG (ambiental, social e governança, em inglês) e inclusão racial na última quinta-feira (9), encerrando o segundo dia de Afro Presença, evento idealizado e coordenado pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) e realizado pelo Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas), com transmissão ao vivo em Ecoa, entre os dias 8 e 10 de setembro, das 9h às 21h30.
"A história do negro aqui [no Brasil] é uma história de trabalho. Os negros chegaram na Bahia para trabalhar. Eles tiveram suas mãos em tudo: ruas, igrejas... Tudo, era feito por pessoas pretas", diz o professor, ao pontuar que pouca coisa mudou na vida das pessoas negras, mesmo depois da abolição da escravidão oficial em 1888.
Para entender o trabalho da população negra no Brasil, Hélio afirma ser preciso voltar para o passado, nos momentos que antecederam a assinatura da Lei Áurea."Havia negros alforriados sem oportunidades efetivas de trabalho. Mais de 700 mil pessoas foram colocadas no mercado de trabalho mesmo sendo estigmatizadas. Depois, a partir do dia 13 de maio, estas pessoas passaram a sofrer perseguições pelos militares, e, até hoje, temos problemas com o trabalho no Brasil", diz.
Para ele, o problema do país não é a falta de riqueza, mas a distribuição injusta de renda — problema esse que, em sua opinião, o país tem desde o dia anterior a abolição, quando nenhum tipo de ajuda ou reparação foi concedida a negros escravizados e seus descendentes. "Temos um país que nos condena ao não desenvolvimento, porque temos milhares de riqueza e tecnologia. Inicialmente, as pessoas negras sofrem dúvidas sobre suas capacidades, a discriminação profissional. A segunda coisa é que o trabalho dos negros vale sempre menos. Estamos sempre carregando esta marca", completa.
Hélio ressalta que as empresas como um todo precisam ter responsabilidade social porque acredita que o recurso mais valioso de qualquer organização seja o capital humano. Para ele, o Brasil é um país que precisa se readaptar a novas formas de gerar produtos, fazer negócios e trabalhar suas lideranças.
"Sabemos que o nosso país não é um lugar para principiantes. É necessária uma adaptação. As estratégias de ESG precisam ser adaptadas às novas realidades. Eu sempre estive ligado a políticas públicas, como as cotas para ingresso nas universidades, para concursos públicos. Aliás, o setor público não dá conta de fazer esta inclusão. Hoje, eu vejo negras e negros em todas as áreas, bem formados, sendo encaminhados nas empresas corporativas. O mundo corporativo se move. A gente percebe a movimentação consistente em algumas empresas, como a Ambev, Magazile Luiza e várias outras. Elas estão investindo e acreditando que são parte da solução".
O professor defende que, em uma sociedade, as pessoas não são iguais, mas as oportunidades, principalmente as que envolvem educação e mercado de trabalho, precisam ser. Por isso, a inclusão precisa ser encarada como um fator que atraí mudança.
"A questão racial é colocada como problema, mas é a solução. Este país nunca fez as contas de quanto perde por desvalorizar talentos. A periferia brasileira é ouro, mas continuamos buscando em outros lugares, e é isso o que esse evento está fazendo hoje. Não podemos desperdiçar mais talentos. Toda vez que uma pessoa negra é efetivada em um cargo, ela oferece um retorno de qualidade. A juventude negra consolida o nosso desenvolvimento, a partir dessas oportunidades. Espero que esta ação continue impactando muitas vidas e agradeço a grande oportunidade de falar com vocês".
Hélio Santos, professor e consultor em gestão da diversidade
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