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"Uma educação guiada pelos direitos humanos promove relações de equidade"

O antropólogo Kabengele Munanga - Rogério Cassimiro/Folhapress
O antropólogo Kabengele Munanga Imagem: Rogério Cassimiro/Folhapress

Carmen Lucia

Colaboração para Ecoa, do Rio de Janeiro (RJ)

11/09/2021 15h13

O professor e antropólogo Kabengele Munanga foi o responsável pela última aula magna do Afro Presença, evento idealizado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e realizado pelo Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas). Tratando sobre ações afirmativas na educação e no trabalho, ele iniciou sua fala citando o momento conturbado que o país vive com a pandemia da covid-19 e os conflitos políticos atuais.

"O tema que me foi proposto é de grande complexidade, é como se fosse uma casa enorme com grandes portas e saídas abertas. Tenho que escolher uma delas. No mundo globalizado, pelo capital transnacional, a tecnologia, a comunicação afasta e ao mesmo tempo marginaliza quem aqui não se ajusta. Por trás dessas reivindicações estaria a intenção de discutir a representação social da história. Em numerosos países, há muitos conflitos de raça, nacionalidade e etnia. O direito nacional democrático, como a forma política da sociedade marcada pela violência. É preciso descobrir até que ponto culturas e sociedades foram destruídas no processo que levaram a formação de estado nação. Os direitos humanos têm formas diferentes em diversas nações".

O professor também citou quão urgente é o plano político reconhecer a importância da diversidade. Para ele, reconhecer a diversidade do povo pode proteger essas culturas. "Multiculturalismo é uma busca de integração. Sem o conhecimento das diversidades da cultura, cairemos no novo universalismo, e, sem isso, haverá uma guerra entre as culturas", afirma.

Ao ser questionado sobre qual, então, seria o papel da educação para auxiliar no combate aos preconceitos que afastam a sociedade brasileira de respeitar a pluralidade cultural, Kabengele diz é preciso defender que a escola seja direcionada pelos direitos. "Este tipo de educação se articula de maneira cosmopolita, ou seja, aprecia a diversidade e é profundamente antirracista", avalia.

De acordo com ele, apostar na racionalidade cosmopolita é não desperdiçar pessoas, conhecimentos e experiências. É intensificar a possibilidade da sociedade encontrar respostas harmoniosas no mundo. "De acordo com Paulo Freire, a ação educativa e o pensamento educativo devem constituir o ato de ação transformadora. Não separa a concepção humana de sua matriz, que é a terra e tudo que a compõe. Os estudos feministas e os estudos de relações raciais demonstraram como as mulheres e os negros foram naturalizados à exclusão. Uma educação guiada pelos direitos humanos promover relações de paridade e equidade entre o sexo e as raças".

Kabengele finaliza com mais um pensamento de Paulo Freire, que diz que somos desafiados a reproduzir a pedagogia do oprimido. Somos levados a construir a pedagogia da diversidade, e, a partir dela, gerar uma hierarquia social, fundamentada no mérito. "Todos os países considerados desenvolvidos investiram massivamente em educação de qualidade. A questão é saber que tipo de educação o Brasil precisa desenvolver para sair desta situação. Uma educação, sobretudo cidadã, orientada na busca de conscientização, solidariedade, equidade que convide para um olhar crítico na construção de nossas individualidades e coletividades".