Horta feita em telhado de casarão antigo no Recife alimenta 500 famílias
À primeira vista, é difícil imaginar um telhado de um casarão abrigar uma horta orgânica. Pois bem, ela existe, se tornou um sucesso e está alimentando pessoas de vulnerabilidade social no Recife.
O projeto "Telhado Eco Produtivo - semeando novos horizontes" foi criado há cinco anos e hoje conta com 500 famílias atendidas das comunidades do Coque, Avenida Sul, Roque 2, Roque 3 e Joana Bezerra.
A ideia surgiu em 2016 na ONG Comunidade dos Pequenos Profetas, localizada no bairro de São José. Aliás, é em cima da sede da ONG que está o telhado produtivo.
O local tem 400 m² de hortas orgânicas, montadas em estruturas ecológicas de madeira sobre um casarão antigo no coração do Recife. Ao todo, 287 famílias trabalham (e também recebem produtos) na horta.
No telhado são plantadas e colhidas espécies folhosas como alfaces, rúcula, couve, manjericão e arruda. Outras hortaliças, ervas e verduras também são produzidas, todas cultivadas sem agrotóxicos e com aproveitamento saudável da terra. O tempo de cultivo e colheita varia de acordo com cada espécie, vai de 60 a 120 dias.
Em época da pandemia, o projeto se tornou fundamental para alimentar pessoas que perderam suas rendas. "Tínhamos duas opções com a pandemia: fechar ou seguir. No começo, três pessoas desistiram. O número de pessoas aqui na porta da instituição triplicou. É muita gente passando necessidade porque vive em empregos informais", diz Demetrius Demetrio, gestor da Comunidade dos Pequenos Profetas.
Mais que uma horta
A horta no telhado funciona também como uma oficina de conhecimento autossustentável, em que jovens e familiares atendidos pela ONG têm orientações sobre cultivo orgânico de hortaliças e cuidados com o meio ambiente. No local, eles são responsáveis pela produção e colheita dos orgânicos.
Os participantes recebem também apoio técnico para produzir suas próprias hortas em casa, utilizando as mudas do telhado plantadas em garrafas pet retiradas do rio Capibaribe, ou que iriam para o lixo. A iniciativa conta ainda com uma cozinha apoio para aulas de gastronomia orgânica e alimentação saudável.
Inspiração da dor
A ideia de aproveitar o telhado veio por uma sequência de roubos na sede da instituição. "Nós tivemos 8 arrombamentos aqui. E os ladrões, quando entravam, destruíam tudo e pegavam comida e jogavam no telhado", conta Demetrius.
Os furtos resultaram em perdas de equipamentos, causando R$ 47 mil de prejuízo. A ideia de aproveitar o telhado veio , porém, após uma ação internacional de que Demétrius participou.
"Eu lancei um livro na Espanha e vi alguns prédios com jardins no teto. Quando voltei, procurei empresas que trabalhavam nessa área. Encontramos uma empresa, a Ecogreen; eles acharam estranho, mas toparam a ideia", explica.
Com apoio de empresas e entidades parceiras, o telhado saiu do sonho e se tornou realidade. "Depois do telhado ninguém mais arrombou, e isso faz cinco anos", comemora.
Mais que alimentar pessoas, o local virou um museu a céu aberto. "A gente tem visita aqui de estudantes de escolas e universidades. O projeto é arrojado, chama atenção", comenta ele, orgulhoso.
Sustentabilidade
O projeto foca em sustentabilidade. Para gerar eletricidade, foram instaladas 26 placas de energia solar. O sistema de irrigação é feito por gotejamento automático. O espaço também conta com um berçário (sementeira), devidamente protegido por uma tela especial para cultivo.
Há ainda um projeto para o telhado ganhar um jardim de flores comestíveis, que será instalado ao redor da área coberta que forma um terraço, onde são realizadas reuniões e apresentações. "Essa é uma contribuição ambiental também do projeto", explica.
Para saber mais sobre o projeto e descobrir como você pode ajudar, acesse a página deles no Instagram
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