Irmãs gêmeas desenvolvem aplicativo para ajudar pessoas com escoliose
As gêmeas Delaney e Hadley Robertson, moradoras de Miami, nos Estados Unidos, foram diagnosticadas com escoliose quando tinham 12 anos, em janeiro de 2018. Hoje com 15, as duas desenvolveram um aplicativo para ajudar outras pessoas que também sofrem com o problema. Juntas, elas atuam ativamente arrecadando fundos para o tratamento, que muitas vezes envolve o uso diário de um colete ortopédico durante horas.
Estima-se que a escoliose, um dos mais conhecidos desvios da coluna vertebral, esteja presente em até 3% da população em geral. Nos Estados Unidos, quase 9 milhões de pessoas precisam de tratamento para essa condição médica, de acordo com a American Association of Neurological Surgeons. No Brasil, o número é de quase 6 milhões de pessoas.
A escoliose pode se desenvolver desde a infância, mas geralmente seus sinais são mais comuns entre os 10 e 15 anos de idade. É justamente na adolescência que a maior parte dos casos são diagnosticados, especialmente por ser um momento de rápido crescimento do corpo.
Em busca de soluções
Embora Delaney não precisasse de tratamento, sua irmã Hadley foi diagnosticada com escoliose idiopática, condição em que a curva da coluna fica em um ângulo maior que 20 graus - o que requer atenção especial. Por isso, os médicos prescreveram a ela um colete ortopédico para ser usado durante 18 horas por dia com o objetivo de interromper o progresso da movimentação da coluna.
"Acostumar-se a usar uma cinta pode ser um pouco assustador", disse Hadley ao jornal Good Morning America. "É feito de um plástico rígido, por isso pode ser quente para andar por aí diariamente e torna um pouco difícil praticar atividades como esportes", completa ela, que conseguiu receber alta do seu colete em junho de 2020.
Felizmente, se Hadley precisasse tirar o aparelho por qualquer motivo, ela poderia usá-lo por horas extras em outro dia para compensar o tempo perdido. A verdadeira dificuldade era manter o controle não apenas das horas acumuladas, mas também de seu uso diário.
"Uma coisa que eu achei muito difícil foi descobrir como controlar o tempo em que o usei", disse ela. "Tentei de muitas formas diferentes. Tentamos usar um bloco de notas, um quadro branco e até tentei procurar um aplicativo de celular para ver se havia algum que pudesse me ajudar a rastrear isso, mas não havia um."
As gêmeas contam em seu site que isso as motivou a criar o app BraceTrack: "Decidimos criar uma opção melhor. Um aplicativo parecia ser a solução ideal para ajudar a nós e a outras pessoas que precisam controlar o uso do colete".
O processo de desenvolvimento do app
No mesmo ano, as gêmeas começaram a pesquisar mais sobre escoliose e desenvolvimento de aplicativos para descobrir quais funções serviriam melhor às pessoas. Embora as meninas já tivessem interesse nas áreas de ciências e de tecnologia, elas ainda não tinham experiência com a construção de um aplicativo.
"Acho que um equívoco comum em torno desse tipo de coisa é o de que você precisa saber tudo sobre uma ideia para trabalhar nela", disse Delaney. "Nós realmente não sabíamos tudo sobre desenvolvimento de aplicativos, ou mesmo escoliose. Nós simplesmente começamos a fazer muitas pesquisas".
Como o BraceTrack é um aplicativo médico, as gêmeas descobriram que era muito importante estar em conformidade com as regras de privacidade estabelecidas pela HIPAA (Health Insurance Portability and Accountability Act - em português, Lei de portabilidade e responsabilidade de provedores de saúde).
Em seguida, encontraram um desenvolvedor de aplicativos capaz de ajudá-las a concretizar toda a visão e todas as ideias que tinham para garantir que tudo estivesse certo para colocar o aplicativo nas lojas de todos os dispositivos (iOS e Android).
O BraceTrack, que também funciona no Brasil, possui várias funções para auxiliar os usuários. Ele pode monitorar quanto tempo uma pessoa usa o colete por dia, inclusive quantas horas acumuladas de uso a pessoa possui. Essas horas podem ser aplicadas a outros dias que necessitem usar o aparelho por menos tempo, seguindo as recomendações médicas.
O app ainda mantém um registro do histórico de uso de cinta e cria dados de tendência média com base nisso. Os usuários também podem criar um relatório com todos os dados que o aplicativo armazena, salvá-los e enviá-los a um médico, parente ou amigo. "Esses relatórios tornam mais fácil interpretar e entender se você está usando pouco a cinta ou se está usando muito", disse Delaney.
O lançamento oficial aconteceu em maio de 2019. Em um balanço feito até o mês de julho, o aplicativo já tinha sido baixado mais de 1.000 vezes, segundo as irmãs, com cerca de 500 usuários ativos semanalmente. Atualmente, o BraceTrack tem uma classificação de 4,9 de um total de 5 estrelas na loja de aplicativos, com diversas críticas positivas.
"Ficamos realmente surpresas com a resposta que obtivemos ao aplicativo", disse Hadley. "As pessoas dizem que isso torna sua experiência com o colete muito mais fácil e que elas são capazes de controlar seu tempo e entender melhor a sua situação", afirma.
Ajuda financeira para a compra de coletes
Hadley e Delaney também fundaram a Brace for Impact em janeiro de 2021, uma organização sem fins lucrativos que visa fornecer fundos que permitam a compra de coletes para escoliose por crianças e famílias que não têm condições de pagar por eles.
"Os tratamentos podem ser muito caros, já que os aparelhos custam entre US$ 3 e 10 mil [cerca de R$ 16 a 53 mil]", disse Delaney, acrescentando que os aparelhos são ajustados e as crianças podem precisar de vários coletes à medida que crescem. A ONG arrecadou até agora US$ 120 mil (o equivalente a mais de R$ 640 mil) para seus centros médicos parceiros no tratamento da escoliose. "Tem sido realmente incrível ver como o Brace for Impact tem ajudado as crianças", disse Hadley.
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