Cada pessoa produz 379 kg de lixo ao ano; reciclar é sempre melhor opção?
O brasileiro está produzindo mais resíduos sólidos, mas continua reciclando muito pouco. Segundo o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil 2020, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), o descarte foi de 67 milhões de toneladas em 2010, ano da implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), para 79 milhões de toneladas em 2019, um aumento de 18%. Por pessoa, esse volume é equivalente à geração de 379 quilos de resíduos por ano. A média de reciclagem, contudo, ainda permanece abaixo dos 4%.
Ainda que entidades do setor apontem a dificuldade de incluir nesses números iniciativas informais de coleta seletiva, o levantamento aponta para a fragilidade das redes e a falta de um mercado estruturado para receber recicláveis. "Muitos materiais que seguem para canais de reciclagem não são contabilizados nos programas oficiais, é um desafio trazer isso para as estatísticas. Além disso, alguns materiais dão muito trabalho para fazer a triagem e rendem pouco na venda. É o caso do isopor", comenta o gerente executivo do Instituto Paranaense de Reciclagem (Inpar), Gustavo Fanaya.
A carência de recursos para o setor também é um dos fatores que afetam a destinação correta desses resíduos e o impacto deles no meio ambiente, conforme a Abrelpe. Em uma década, houve aumento de 32% no volume de recursos aplicados em serviços de limpeza urbana, passando de R$ 7,68 por habitante por mês, para R$ 10,15. Contudo, nesse mesmo período, a inflação foi de 76%.
Outra dificuldade em alavancar os índices de reciclagem está relacionada aos hábitos do consumidor. Isso porque o descarte de materiais recicláveis sujos ou em meio a alimentos e rejeitos inviabiliza seu reaproveitamento na indústria. "Além da separação, a limpeza básica deve ser feita em casa, mesmo que seja com um guardanapo, para deixar esse material mais preparado para a triagem", observa Bruna Tiussu, gerente de Comunicação do Instituto Akatu.
Nesse cenário de desafios, encaminhar recicláveis para coleta seletiva seria sempre a opção mais adequada? Ecoa ouviu especialistas para entender o que está em jogo e quais outros caminhos existem para evitar que esses materiais parem em aterros.
SIM
Ganhos econômicos e sociais
Embora apresente custos, como o da logística, triagem, estocagem e energia elétrica, a reciclagem é considerada um investimento necessário para a destinação de resíduos dentro da política ambiental do país. Além de gerar emprego e renda, como em cooperativas e associações, o reaproveitamento dos materiais recicláveis pode trazer economia no uso de recursos como água e matérias-primas utilizadas pela indústria. Para se ter uma ideia, somente o reaproveitamento de plástico — resíduo que ocupa 13% do total de resíduos gerados no Brasil — garantiria o retorno de R$ 5,7 bilhões por ano para a economia nacional, segundo um estudo do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb).
Preservação ambiental
Além de evitar a poluição do ar, água e solo, a reciclagem também pode ser uma aliada no aumento da vida útil dos aterros sanitários, estimada em cerca de 20 anos. O reaproveitamento desses materiais reduz a quantidade e o potencial poluidor dos resíduos sólidos que são dispostos nessas áreas, conforme informações da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
NÃO
Consumo consciente
Mesmo separado pelo consumidor, um resíduo como o papel laminado, usado em embalagens de biscoitos, por exemplo, poderia permanecer nos depósitos, sem a destinação correta, devido a fatores econômicos. "Muitas vezes, isso acontece pela dificuldade de manuseio, baixo preço e falta de interesse na compra do material. Por isso, precisamos olhar para a coleta seletiva pelo lado social e econômico. A reciclagem só vai acontecer se existir interesse nessa compra", destaca Francisco Andrea Vianna, coordenador operacional da Loga, concessionária de coleta domiciliar integrante do Recicla Sampa.
Vianna observa que, nessas condições, é mais vantajoso optar pela redução do consumo desse tipo de resíduo. Assim, evita-se, mais adiante, que o material chegue aos aterros por não ter interessados em adquiri-lo. "É importante que o consumidor busque menos embalagens e procure saber que materiais são recicláveis, que entenda o que as cooperativas estão separando, se isso tem compradores na sua região, perguntando-se se vale a pena investir nesse produto", recomenda.
5Rs da Sustentabilidade
O melhor resíduo é aquele que não foi gerado, define Bruna Tiussu, do Instituto Akatu. Ela salienta que a sequência dos famosos 5 Rs da Sustentabilidade (Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar) tem uma ordem de importância e que é preciso estar atento a isso no dia a dia. "Não é no sentido de desencorajar a reciclagem, mas reciclar é a última opção. Geramos muito resíduo e seria impossível reciclar toda essa conta" assinala.
O ideal, acrescenta o gerente do Inpar, seria que o consumidor levasse essa perspectiva para o seu cotidiano e escolhesse produtos com embalagens de múltiplo uso ou que pudessem ser ressignificadas. "Uma garrafa pode se tornar um vaso, um pote pode ser usado para guardar diferentes coisas. É preciso pensar nessas hipóteses. Se nada disso for diferente, então, encaminhamos o resíduo para a reciclagem", enfatiza Fanaya.
Fontes:
Bruna Tiussu, gerente de comunicação do Instituto Akatu; Gustavo Fanaya, gerente executivo do Instituto Paranaense de Reciclagem (Inpar); Francisco Andrea Vianna, coordenador de Operações da Loga; Fundação Nacional de Saúde (Funasa); Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil 2020, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe); Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb).
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