Abelha sem ferrão será usada como "guarda ambiental" no Paraná; entenda
Abelhas vão ser usadas como "agentes ambientais" no Paraná. Nos próximos dois anos, espécies nativas irão viver em um pasto, onde poderão voar livremente e se organizar em colmeias instaladas na propriedade de agricultores de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba.
O município é uma área de manancial importante para o abastecimento de água no estado e os insetos serão monitorados para indicar se o meio ambiente está saudável.
Segundo Guilherme Schühli, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Florestas, as abelhas nativas são muito sensíveis. A presença de um elemento químico no ar que seja prejudicial ao meio ambiente é sentida rapidamente por elas, que acabam morrendo. Os insetos também ajudam a analisar e identificar as árvores e flores da região, pois é possível encontrar fragmentos das plantas nas colmeias.
Assim, elas "ficam de guarda" para que biólogos e a companhia de abastecimento local saibam se a área de manancial está protegida e saudável, duas características que melhoram a qualidade de água.
Por meio da análise do mel, do número de abelhas e da formação da colmeia, será possível extrair informações ambientais preciosas. "Elas podem ligar um alerta sobre mudanças ambientais antes mesmo de um teste mais aprofundado ser realizado. O custo desse serviço que elas realizam é zero", diz Schühli.
Calma, não tem ferrão
As abelhas nativas da região do Paraná, que serão usadas no projeto, não possuem ferrões e são mais amigáveis do que a abelha africanizada. Segundo o pesquisador, a africanizada é um cruzamento entre a abelha-europeia e a abelha-africana que gerou uma espécie resistente e boa produtora de mel.
No Brasil, há cerca de 300 abelhas nativas - e algumas delas só existem em regiões específicas do país. Mas espécies como a nativa Jataí ocorrem em todo o território.
Desde 2019, uma lei sancionada em Brasília facilitou o crédito rural para apicultores interessados na produção sustentável de mel. Na última década, o Ibama e os estados criaram regras claras para transporte, cadastro de produtores, produção e composição do mel extraído de abelhas nativas sem ferrão. Os estímulos geraram uma onda de novos apicultores.
Na prática
De acordo com o funcionário da Embrapa, os agricultores da região de manancial do Paraná serão ensinados a manejar colmeias e apresentados à possibilidade de também investir no negócio sustentável.
Uma espécie de "laboratório" irá preservar colmeias e abelhas próximas à barragem. Algumas serão levadas para as propriedades dos agricultores e outras viverão em um "pasto" para abelhas, chamado de "pasto apícula".
Segundo o pesquisador, a técnica indígena consiste em deixá-las livres para polinizar a região. "As abelhas são responsáveis por cerca de 70% da polinização no Brasil. Elas prestam um verdadeiro serviço ambiental", diz.
Entretanto, é comum que elas morram devido a oscilações de temperatura causadas pelo aquecimento global ou por intervenção humana ainda mais direta, como o desmatamento de áreas. Por isso, muitos criadores colocam xaropes e suplementação de pólen para mantê-las produtivas e vivas o ano inteiro.
O objetivo do projeto no Paraná é avaliar quais condições naturais são necessárias para a sobrevivência e produção da espécie durante o ano. Assim, ele vai abrir mão da técnica e avaliar a qualidade do mel e o número de abelhas.
Inicialmente, dez famílias serão beneficiadas pelo projeto-piloto. No futuro, o trabalho pode ser ampliado para barragens administradas pela Sanepar, a companhia de abastecimento de água paranaense.
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