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Cresce consumo de livros digitais: produto é mais sustentável que de papel?

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Imagem: Getty Images

Antoniele Luciano

Colaboração para Ecoa, de Curitiba (PR)

21/10/2021 06h00

O consumo de livros digitais cresceu no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus. Segundo levantamento do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), editoras com conteúdo digital tiveram no ano passado faturamento 43% acima do registrado em 2019, época em que a quarentena ainda fazia parte de um horizonte distante no país. Nesse período, a receita com os digitais passou de R$ 103 milhões para R$ 147 milhões.

Além de smartphones e tablets, a leitura desses livros tem como aliadas as telas dos e-readers, aparelhos eletrônicos que imitam o papel e a tinta de um livro comum. Leves e compactos, esses dispositivos têm a seu favor o fato de serem capazes de armazenar milhares de títulos sem a necessidade de impressão de uma só página.

Embora no Brasil a produção de papel não cause a destruição de florestas, uma vez que produtos de celulose e papel são fabricados exclusivamente com madeira de reflorestamento, será que os livros digitais seriam mais sustentáveis do que os livros impressos? Da produção ao descarte, que tipo de impactos os e-readers podem trazer ao meio ambiente? Ecoa ouviu especialistas para entender e explicar esse assunto.

SIM

Menos trocas

Por se tratar de um aparelho voltado a uma prática que costuma ser solitária, as trocas motivadas por status, design e modernidades tecnológicas seriam menos frequentes do que ocorre com smartphones e tablets, analisa o professor Clóvis Ultramari, do Departamento de Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Como não costumam ser tão usados em público, não há o mesmo apelo para a compra de um aparelho novo tão rápido, o que torna esse eletrônico mais competitivo do que outros que temos em casa", observa.

No Brasil, consumidores ficam, em média, dois anos com o mesmo aparelho de celular, mostrou a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box, divulgada neste ano. Ainda conforme o levantamento, realizado em junho com 2.177 brasileiros com smartphone, 51% dos entrevistados disseram ter intenção de compra de um novo dispositivo nos próximos 12 meses.

Incentivo aos leitores vorazes

Um relatório da Green Press Initiative (GPI), organização não governamental que analisa o impacto ambiental da indústria editorial, aponta que os benefícios do e-reader se tornam maiores de acordo com o número de livros baixados pelo usuário. Se o leitor, por exemplo, consumir até 30 livros impressos ao longo de um ano, haveria menor impacto, o que desestimularia o uso do livro digital. Já se houvesse a leitura de 60 a 90 títulos por ano, os e-books apresentariam maior vantagem em termos de sustentabilidade.

NÃO

Vida útil limitada

É preciso ter em vista que, assim como a indústria gráfica, a produção de e-readers também demanda recursos como água e energia elétrica, além de emitir gases do efeito estufa na atmosfera. Ainda segundo a Green Press Initiative, enquanto a produção de um livro emite cerca de 4 kg de gases nocivos à atmosfera, um e-reader como o Kindle, da Amazon, emite 168 kg desses gases ao longo de seu ciclo de vida.

"Tudo isso precisa ser levado em conta. No caso do livro digital, alguns estudos estimam ainda que a vida útil de um aparelho seria pouco mais de 4 anos", destaca a gerente de Comunicação do Instituto Akatu, Bruna Tiussu. No caso do livro impresso, a vida útil do produto poderia ser estendida com o compartilhamento ou a doação do item a bibliotecas, por exemplo.

Descarte

Embora possam ser reciclados, nem sempre os produtos eletrônicos chegam a ter componentes reaproveitados. "Em 2019, apenas 3% de 2 milhões de toneladas desses resíduos foram recicladas", estima a gerente de comunicação do Instituto Akatu, que acredita que essa baixa adesão se deve ao desconhecimento da população sobre a destinação final desses produtos.

"A maior dificuldade é o processo de descarte do consumidor de forma ambientalmente correta. Este é o maior desafio do sistema de logística reversa", reforça a gerente executiva da Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (ABREE), Mara Ballam. Ela explica que o usuário precisa levar o produto que deseja descartar até o ponto de recebimento mais perto da sua casa. A partir disso é que os componentes serão separados e enviados para empresas de manufatura reversa.

É possível consultar no site da associação (www.abree.org.br) uma lista com 1,3 mil pontos de coleta de resíduos eletrônicos espalhados pelo país.

Fontes: Clóvis Ultramari, professor do Departamento de Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná (UFPR); Bruna Tiussu, gerente de Comunicação do Instituto Akatu; Mara Ballam, gerente executiva da Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (ABREE); Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL); Green Press Initiative - Relatório "Environmental Impacts of E-Books"; Panorama Mobile Time/Opinion Box.