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Hortas urbanas capacitam e empregam pessoas em situação de rua em SP

Participantes do projeto Horta Social Urbana têm capacitação e oportunidade de emprego, em São Paulo - Divulgação
Participantes do projeto Horta Social Urbana têm capacitação e oportunidade de emprego, em São Paulo Imagem: Divulgação

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, do Recife (PE)

23/10/2021 06h00

"A Jornada da Autonomia é a tecnologia que desenvolvemos para trabalhar com a população em situação de rua, solução que acreditamos ser eficaz para contribuir com a retomada da dignidade, da cidadania e da autonomia dessas pessoas." Foi o que explicou a coordenação do projeto Horta Social Urbana, que usa a capacitação em agricultura para ajudar pessoas em situação de rua. O trabalho é composto por cinco etapas: abordagem, acolhimento, capacitação, renda e moradia.

Durante o curso, são oferecidos acolhimento e capacitação por meio da agroecologia e abordagem sobre temas como educação financeira e inclusão digital. Os alunos passam por atendimentos individuais e em grupo com equipes de psicólogos. Concluído o curso, todos eles são encaminhados para vagas de emprego. O projeto começou em 2018 e já ajudou mais de 100 pessoas em situação de rua.

Neste ano, devido aos cuidados com a pandemia do novo coronavírus, a Horta Social está atuando com número reduzido de alunos.

Segundo a Arcah (Associação de Resgate à Cidadania por Amor à Humanidade), responsável pelo projeto, participam em média 20 pessoas por turma. A duração do curso é de 15 semanas.

Ainda de acordo com a Arcah, no término do curso, os melhores alunos ou os que têm mais aptidão são convidados para trabalhar nas hortas e os demais são encaminhados para vagas em empresas privadas parceiras. Além disso, o projeto faz o acompanhamento de cada um por seis meses no pós-curso.

Filipe Sabará, presidente da Arcah, explicou a Ecoa que a Horta Social Urbana consiste em terrenos vazios na cidade, que são transformados. No processo todo, parcerias são fechadas com os donos dos terrenos. São feitos contratos renováveis pelo tempo de uso.

"E quem trabalha nesses terrenos são pessoas que foram acolhidas das ruas e que são treinadas, capacitadas e empregadas pela Arcah. Isso faz parte do Jornada da Autonomia, que vai desde a abordagem, acolhimento e qualificação até o emprego e a moradia. A gente tem uma equipe qualificada de psicólogos e assistentes sociais que fazem a triagem em albergues em São Paulo", disse gestor.

O projeto reúne seis hortas em São Paulo atualmente, com uma sétima já a caminho. A estruturas se desenvolvem tanto em terrenos quanto em coberturas de shoppings e restaurantes.

"Quando as pessoas estão sendo formadas, recebem o conhecimento não só de agricultura, mas também de educação financeira básica, inclusão digital, socioemocional... São várias capacitações. Quem por ventura não for empregado nas hortas é encaminhado para empresas parceiras. E tudo que é produzido nessas hortas vai para vários segmentos. Uma parte para supermercados, outra para cestas por assinatura, que entregamos na casa das pessoas, e temos um restaurante de saladas prontas, que vendemos por app de comidas. Todo dinheiro é revertido para ajudar outras pessoas", ressaltou Filipe Sabará.

Visão aérea do projeto Horta Social Urbana, em São Paulo - Divulgação - Divulgação
Visão aérea do projeto Horta Social Urbana, em São Paulo
Imagem: Divulgação

A ideia, contou Sabará, surgiu na adolescência, quando ele começou a encontrar pessoas na rua e acolhê-las em sua casa. O ato solidário foi sendo estruturado ao longo dos anos até a criação de fazendas hortas escola.

"Chegamos a ter duas fazendas no interior, mas chegamos à conclusão que as hortas na cidade são mais eficientes porque a gente consegue alcançar mais pessoas e vender a produção de hortaliças com mais facilidade", apontou.

Parte da renda da Arcah vem de doações de pessoas físicas e empresas. Filipe Sabará disse que não recebe e nem nunca recebeu dinheiro público. O projeto também tem um fundo de investimento e o comércio de hortaliças, que ajuda a pagar os salários e toda estrutura de agricultores, professores e assistentes sociais.

Joseval Machado, 42, foi um dos participantes do curso. Para ele, o projeto foi uma oportunidade inesperada e transformadora.

"Eu estava desempregado e cai em um albergue. Quando conheci o trabalho, topei de cara. Fiz o curso de 90 dias e me chamaram para trabalhar na horta. Graças a Deus, estou lá há cinco anos. Foi um grande aprendizado. Aprendi o ofício e hoje estou em uma casa e podendo repassar o conhecimento", comentou.

"Aprendi a plantar, manutenção da horta, roçar e aprendi também a lidar com as pessoas. O curso foi muito importante pra mim e espero que esteja sendo também na vida de outras pessoas."