Jovem deixa cozinha de restaurante fino para distribuir comida na periferia
Matheus Arouca, de 29 anos, fez faculdade de biologia. Quando acabou os estudos, não conseguiu um emprego na sua área e foi trabalhar como atendente em uma lanchonete nos Jardins, bairro nobre da cidade de São Paulo. Observando o preparo dos alimentos e o consumo dos clientes, o jovem começou a refletir sobre o ato de alimentar não só pela perspectiva de nutrir, mas em seu aspecto social, histórico e político.
Ele então transformou a inquietação em ação. Depois de passar por outros restaurantes de classe alta da capital paulista, Arouca e seu companheiro Gabriel Vieira, de 26 anos, resolveram voltar para a sua cidade natal, Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo. Ali, começaram a idealizar o Projeto Mistura.
A proposta de Arouca era criar uma escola de gastronomia social. Em Mogi, ele conheceu o coletivo Maio de 68, que promove um cursinho popular na cidade e, durante o ano de 2020, passou a distribuir cestas básicas para famílias em vulnerabilidade social. Em conversas sobre como as questões de insegurança alimentar, fome e acesso a comida foram agravadas pela pandemia, os dois grupos resolveram unir forças.
Formado por Arouca, como cozinheiro, Gabriel Vieira, responsável pela comunicação, calendário das ações, gestão dos voluntários e montagem das marmitas, e mais Renan Castro, Fernanda Mallak e Danilo Duvilierz, do coletivo Maio de 68, o Mistura começou suas ações em julho de 2021 distribuindo alimentação saudável para população vulnerável.
"O ato de comer é um dos alicerces da sociedade, ou seja, o que você (ou um determinado grupo) come, gosta ou não gosta, ou nunca comeu revela quem você é, de onde veio, onde está e para onde vai", diz Arouca. "Para mim, o gigante buraco social que existe entre ricos e pobres na sociedade brasileira reflete diretamente no acesso à alimentação."
O Mistura fornece marmitas nos bairros de Santos Dumont e de Jundiapeba aos finais de semana. Gabriel Vieira diz que, além de fornecer os alimentos, o coletivo espera realizar outras ações assim que a pandemia permitir. "Queremos usar esse momento da entrega das marmitas e almoços coletivos como um espaço de discussão, formação e trocas entre os organizadores e as famílias que receberão as marmitas. Nosso objetivo é desenvolver cursos de capacitação dentro da área da gastronomia."
Em pouco mais de três meses de funcionamento, o grupo realizou 8 ações com mais de 1.500 Kg de comida preparada e aproximadamente 2.500 marmitas produzidas e entregues. O coletivo tem previsão de mais quatro ações em novembro e duas ações de Natal - uma na região de Santos Dumont e outra em Jundiapeba.
O coletivo Maio de 68 auxilia na parte de entender quem são as famílias e as regiões a serem atendidas. Pequenos produtores locais também têm fornecido produtos orgânicos por preços diferenciados para o projeto, garantindo a sustentabilidade econômica da ação. Na região de Santos Dumont, a Pastoral da Caridade, que atua por ali, cedeu o seu espaço para o preparo e a distribuição das marmitas.
Para ir além, o Mistura quer entender melhor as necessidades das comunidades que atende. "Já estamos com uma pesquisa pronta para entender quem são essas pessoas e como podemos ajudar não só com a alimentação, mas com diálogos e a possibilidade de cursos de capacitação", diz Vieira.
Para contribuir com o projeto, é possível participar da campanha "Adote Duas Marmitas por R$ 5". Outra maneira de ajudar é compartilhando os posts das ações nas redes sociais. Para ser um voluntário, entre em contato por meio do perfil do projeto no Instagram.
Os dados para doar para a campanha são:
Banco: Cora SCD (código 403) | Agência: 0001 |Conta: 1201093-2
Em nome de Associação Cursinho Popular Maio de 68
CNPJ: 36.616.058/0001-01
Ou via PIX (chave CNPJ): 36616058000101
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