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Jovem deixa cozinha de restaurante fino para distribuir comida na periferia

Observando clientes em restaurante nos Jardins, Matheus Arouca percebeu aspecto social da alimentação - Danilo Duvilierz
Observando clientes em restaurante nos Jardins, Matheus Arouca percebeu aspecto social da alimentação Imagem: Danilo Duvilierz

Glória Maria

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

29/10/2021 06h00

Matheus Arouca, de 29 anos, fez faculdade de biologia. Quando acabou os estudos, não conseguiu um emprego na sua área e foi trabalhar como atendente em uma lanchonete nos Jardins, bairro nobre da cidade de São Paulo. Observando o preparo dos alimentos e o consumo dos clientes, o jovem começou a refletir sobre o ato de alimentar não só pela perspectiva de nutrir, mas em seu aspecto social, histórico e político.

Ele então transformou a inquietação em ação. Depois de passar por outros restaurantes de classe alta da capital paulista, Arouca e seu companheiro Gabriel Vieira, de 26 anos, resolveram voltar para a sua cidade natal, Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo. Ali, começaram a idealizar o Projeto Mistura.

A proposta de Arouca era criar uma escola de gastronomia social. Em Mogi, ele conheceu o coletivo Maio de 68, que promove um cursinho popular na cidade e, durante o ano de 2020, passou a distribuir cestas básicas para famílias em vulnerabilidade social. Em conversas sobre como as questões de insegurança alimentar, fome e acesso a comida foram agravadas pela pandemia, os dois grupos resolveram unir forças.

Formado por Arouca, como cozinheiro, Gabriel Vieira, responsável pela comunicação, calendário das ações, gestão dos voluntários e montagem das marmitas, e mais Renan Castro, Fernanda Mallak e Danilo Duvilierz, do coletivo Maio de 68, o Mistura começou suas ações em julho de 2021 distribuindo alimentação saudável para população vulnerável.

"O ato de comer é um dos alicerces da sociedade, ou seja, o que você (ou um determinado grupo) come, gosta ou não gosta, ou nunca comeu revela quem você é, de onde veio, onde está e para onde vai", diz Arouca. "Para mim, o gigante buraco social que existe entre ricos e pobres na sociedade brasileira reflete diretamente no acesso à alimentação."

Projeto Mistura - Danilo Duvilierz - Danilo Duvilierz
Gabriel Vieira diz que próximo passo do projeto é conhecer melhor os assistidos e as suas necessidades
Imagem: Danilo Duvilierz

O Mistura fornece marmitas nos bairros de Santos Dumont e de Jundiapeba aos finais de semana. Gabriel Vieira diz que, além de fornecer os alimentos, o coletivo espera realizar outras ações assim que a pandemia permitir. "Queremos usar esse momento da entrega das marmitas e almoços coletivos como um espaço de discussão, formação e trocas entre os organizadores e as famílias que receberão as marmitas. Nosso objetivo é desenvolver cursos de capacitação dentro da área da gastronomia."

Em pouco mais de três meses de funcionamento, o grupo realizou 8 ações com mais de 1.500 Kg de comida preparada e aproximadamente 2.500 marmitas produzidas e entregues. O coletivo tem previsão de mais quatro ações em novembro e duas ações de Natal - uma na região de Santos Dumont e outra em Jundiapeba.

O coletivo Maio de 68 auxilia na parte de entender quem são as famílias e as regiões a serem atendidas. Pequenos produtores locais também têm fornecido produtos orgânicos por preços diferenciados para o projeto, garantindo a sustentabilidade econômica da ação. Na região de Santos Dumont, a Pastoral da Caridade, que atua por ali, cedeu o seu espaço para o preparo e a distribuição das marmitas.

Para ir além, o Mistura quer entender melhor as necessidades das comunidades que atende. "Já estamos com uma pesquisa pronta para entender quem são essas pessoas e como podemos ajudar não só com a alimentação, mas com diálogos e a possibilidade de cursos de capacitação", diz Vieira.

Para contribuir com o projeto, é possível participar da campanha "Adote Duas Marmitas por R$ 5". Outra maneira de ajudar é compartilhando os posts das ações nas redes sociais. Para ser um voluntário, entre em contato por meio do perfil do projeto no Instagram.
Os dados para doar para a campanha são:
Banco: Cora SCD (código 403) | Agência: 0001 |Conta: 1201093-2
Em nome de Associação Cursinho Popular Maio de 68
CNPJ: 36.616.058/0001-01

Ou via PIX (chave CNPJ): 36616058000101