Como Schwarzenegger, governadores do Brasil se unem por meio ambiente
Qual a relação entre o governador de um estado brasileiro e o ator Arnold Schwarzenegger? Resposta: os dois encontraram maneiras parecidas para discutir meio ambiente.
Vamos do começo. Em 2020, mais de 20 governadores brasileiros criaram a Coalizão Governadores pelo Clima. Na próxima semana, representantes do grupo estarão na COP26, a conferência mundial sobre meio ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo é discutir soluções e atrair investimentos contra a crise climática.
Ou seja: o Brasil não será representado só pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido), mas por governadores de estados como Pernambuco, Amapá, São Paulo, Maranhão e Espírito Santo.
O que querem os governadores na COP26
- Atrair dinheiro estrangeiro para um fundo de meio ambiente de governos estaduais chamado "Brasil Verde"
- Apresentar propostas para reflorestamento
- Divulgar iniciativas de estados contra as mudanças climáticas
- Melhorar a imagem do Brasil na área ambiental
- Acompanhar as negociações sobre o chamado "mercado de carbono"
Para Ecoa, o líder do grupo e governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), afirma que a coalizão pretende atrair atenção internacional para criar uma economia menos poluente a nível local. Casagrande estará em Glasgow, na Escócia, para a COP26.
A coalizão tem 22 estados comprometidos — Casagrande espera que todos os 26, mais o Distrito Federal, se unam ao grupo em breve. A inspiração estrangeira foram os governos de estados norte-americanos. O incentivo local, o governo federal.
"[O governo federal] está afastado do tema [ambiental] e criou uma necessidade dos estados se aproximarem na área política", diz Renato Casagrande, governador do Espírito Santo
O que são grupos subnacionais?
Esse tipo de iniciativa entre governadores tem um nome: subnacionais. Desde a última década, os grupos subnacionais se tornaram importantes, explica Braulio Dias, ex-secretário da ONU em biodiversidade e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN). É um modelo inspirado em governos norte-americanos, especialmente no protagonista de "O Exterminador do Futuro".
"Anos atrás, por iniciativa do [então] governador da Califórnia (2003 - 2011), Arnold Schwarzenegger, foram mobilizados governos subnacionais em diferentes países para ampliar os compromissos em relação à agenda climática", afirma o professor do departamento de ecologia da Universidade de Brasília.
Schwarzenegger estará novamente na COP26. Hoje, o ator nascido na Áustria lidera uma instituição contra as mudanças climáticas e estimula a criação de fundos locais, como uma iniciativa criada para o governo de Fiji, o vulnerável arquipélago na Oceania que pode ser devastado com o aumento do nível do mar.
"Os estados e governos locais controlam 70% das emissões nos Estados Unidos, o que significa que a maioria das ações climáticas são a nível regional", afirmou durante a COP24, em 2018, na Polônia.
O preservador do futuro
De acordo com Bráulio, os governadores brasileiros não têm dinheiro para combater as mudanças climáticas e seria preciso aumentar impostos e diminuir isenções para setores econômicos poluentes, como o agronegócio e o automobilístico. Seria preciso um jogo econômico e político difícil com o setor privado.
Assim como Schwarzenegger, os governadores perceberam que a COP 26 abre as portas para outras fontes de investimentos para uma energia mais verde. E há muito dinheiro por aí.
Como financiar um estado verde?
Em 2015, os 195 países na conferência da ONU em Paris aprovaram a criação de um fundo com US$ 100 bilhões (cerca de R$ 564 bilhões), financiado por países ricos, que deveria começar a ser pago a partir de 2020 para limitar o aquecimento global a 1,5ºC. O dinheiro irá para países mais pobres, como o Brasil. Mas o fundo não é a única fonte entre as negociações em Glasgow.
Em 2019, Mato Grosso assinou contrato para empréstimo de US$ 250 milhões (cerca de R$ 1,4 bilhão) do Banco Mundial para investir em projetos sustentáveis. O governo do Amazonas também receberá empréstimos de US$ 400 milhões (R$ 2,2 bilhões). Entre as exigências estão a diminuição de diminuir índices, novas regras para ocupação da terra e programas de combate a incêndios.
Fundo Brasil Verde
O governador capixaba, Casagrande, afirma que um projeto de lei para criar o consórcio "Brasil Verde" será discutido entre deputados estaduais de cada estado participante e, no futuro, garantiria o recebimento de investimento ambiental para problemas específicos de cada bioma. É similar ao Fundo Amazônia, que recebe bilhões de dólares de países como Noruega e Alemanha.
Segundo ele, a viagem também servirá para definir regras para o chamado "mercado de carbono" no Brasil. Ou seja: como uma empresa poluidora poderá receber isenções para investir em outros negócios verdes contra os gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2). "Quem não tiver na 'vibe' de propostas para combater as mudanças climáticas ficará de fora dos negócios e da política mundial", diz o governador.
Durante uma inauguração em Fernando de Noronha, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), afirmou que a coalizão de governadores na COP também serve para melhorar a imagem internacional do Brasil, desgastada pelo governo federal e com índices ambientais negativos.
"Tenho certeza de que o meio ambiente é um tema que une a todos sobre a necessidade de boas práticas e ações conjuntas contra o retrocesso que a gente vê acontecendo nessa área no Brasil", conclui.
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