COP26 mostra que pauta climática não é mais conversa só de ambientalistas
Discussões importantes para o futuro do planeta marcaram a abertura oficial da COP26 ontem (1º). Além da fala inaugural da ativista indígena Txai Suruí sobre a urgência de proteger as florestas e da promessa feita pelo governo federal de reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 50% até 2030, muitas conversas relevantes aconteceram fora da programação oficial.
A equipe de Ecoa em Glasgow, na Escócia, destaca pontos que mais chamaram atenção em suas conversas com especialistas e ativistas que estão na COP.
1. O Brazil Action Hub é o espaço da verdadeira delegação brasileira
O Brazil Climate Action Hub nasceu em 2019 a partir da união de várias organizações da sociedade civil brasileira, lideradas pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e o Instituto ClimaInfo.
O Hub está com um espaço físico na COP26, onde vai promover eventos durante toda a COP para discutir o papel do Brasil na agenda climática. As conversas podem ser acompanhadas pela internet com tradução simultânea e contam com a participação de organizações não governamentais, populações tradicionais, movimentos sociais, setor privado e diferentes esferas políticas do Brasil e de outros países.
O ambientalista Mario Mantovani, diretor de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, comemora o fato de ter um espaço para que os brasileiros mostrem que estão preocupados com o meio ambiente. "Termos este Hub num ano de desgoverno mostra um pouco de uma realidade que a gente queria há muito tempo mostrar. Se o governo federal vem para cá defender pedaladas climáticas, hoje temos aqui governadores, o pessoal subnacional de prefeituras, deputados que estão nessa outra pauta. Esse espaço hoje passa a ser o espaço que o Brasil esperava".
2. A pauta climática não é mais preocupação só de ambientalistas
A COP26 está mostrando que, finalmente, a preocupação com o meio ambiente não está mais restrita a alguns grupos. Mario Mantovani se surpreendeu ao notar que a agenda ambiental está gerando tanta mobilização. "Hoje ficou muito claro que a sustentabilidade e as questões climáticas não são mais papo só de ambientalista. Eu vejo aqui muita gente da área de economia, empresários, gente que eu não via em outras COPs", disse ele a Ecoa.
3. Brasil precisa de metas mais ambiciosas e concretas
Muitos especialistas viram com cautela a promessa de redução das emissões anunciada pelo governo federal. Flavia Bellaguarda, coordenadora de política de justiça climática do Climate Reality Brasil e fundadora da LACLIMA e Youth Climate Leaders, explicou o motivo.
"Essa seria uma ótima notícia se a nossa NDC [sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada, o documento que formaliza o compromisso ambiental feito pelos países signatários do Acordo de Paris] tivesse sido alterada. Ela continua a mesma, com poucas metas ambiciosas e pouca clareza sobre como alcançá-las", afirma.
"A gente precisa de ações urgentes, mais concretude e ambição em cada meta estabelecida na NDC. É necessário desenvolver políticas efetivas que sejam transversais, transparentes e que tenham muita escuta da população para ter um desenvolvimento econômico e de infraestrutura ao mesmo tempo em que estamos reduzindo e não aumentando as emissões", completa.
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