Conheça 5 jovens ativistas na linha de frente da luta pelo meio ambiente
Aquecimento global, mudanças climáticas, poluição dos rios, saneamento e outros temas não saem da pauta desses jovens. Hoje, Ecoa apresenta cinco brasileiros que estão na linha de frente da luta pela sustentabilidade, preservação do meio ambiente, direitos indígenas, políticas públicas para a proteção da Amazônia e muitas outras questões envolvendo a proteção do planeta.
Quatro deles estão presentes na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que acontece de 1º a 12 de novembro em Glasgow, na Escócia. O evento, como o próprio nome diz, busca debater com os países participantes formas de solucionar a crise climática mundial.
Vitória Pinheiro
Vitória Pinheiro é uma jovem trans afro-indígena que faz parte do Muvuca, programa de formação para jovens ativistas de clima e meio ambiente. Para a manauara, seu trabalho pode gerar empoderamento aos menos favorecidos e chances reais de mudança.
"O Muvuca foi criado para capacitar, conectar e desenvolver ferramentas de liderança, ativismo e mobilização em torno de políticas públicas que afetem a região amazônica. Somos uma turma de 36 jovens, principalmente das regiões Norte e Nordeste, e estamos ligados a diversos grupos de base e movimentos juvenis que desenvolvem ações em educação ambiental e justiça climática. Temos acesso a formações com ativistas e líderes sociais, além de aulas de inglês para nos preparar para encontros e conferências internacionais", conta.
A jovem de 25 anos vê o ativismo como algo tão essencial, que deveria ser ensinado na escola. "Todos nós somos ou devíamos ser, em algum grau, ativistas no sentido de que no dia a dia é preciso se colocar, defender algo. Eu queria que cada vez mais jovens e pessoas que não vemos usualmente ocupando espaços de poder se apropriassem dessas ferramentas e narrativas, e que a discussão e a luta por direitos pudessem estar centradas naqueles mais afetados pelas desigualdades e violências", afirma.
Walelasoetxeige Suruí
Quem também tem uma forte relação com a questão indígena é Walelasoetxeige Paiter Bandeira Suruí, conhecida como Txai Suruí. A estudante de direito, que discursou na abertura da Cúpula dos Líderes Mundiais na COP26, faz parte do núcleo jurídico de Kanindé (RO), organização que trabalha há mais de 29 anos com povos indígenas. Para ela, o direito hoje é um instrumento de luta para proteger os povos originários.
Ela também faz parte do movimento da Juventude Indígena de Rondônia, que ajudou a fundar. "O movimento foi fundado por mim e outros jovens indígenas em 2020, com o intuito de articular e fortalecer os jovens do estado na luta contra as mudanças climáticas e por políticas públicas, direitos indígenas e territoriais, saúde e educação e vários outros temas que fazem parte da realidade daqui", conta.
As primeiras ações do grupo foram voltadas para a pandemia e envolveram a doação de cestas básicas para os jovens que participam do movimento. "Depois iniciamos algumas formações sobre mudanças climáticas nas terras indígenas Uru Eu Wau Wau e Sete de Setembro. Estivemos presentes com uma delegação de jovens em Brasília na mobilização indígena nacional Levante Pela Vida, a maior desde 1988", completa.
Walelasoetxeige é uma das seis jovens que entrou, em abril deste ano, com uma ação popular na Justiça de São Paulo contra o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, por conta de "pedalada" climática do governo cometida em dezembro de 2020.
"Muitos ainda olham apenas o lucro e se esquecem de pensar no amanhã. O sistema em que vivemos cega as pessoas e as faz esquecer do mais importante, que são a vida e o planeta. Precisamos conseguir mostrar que todos serão atingidos pelas mudanças climáticas e que dinheiro nenhum compra a vida", alerta.
Iago Hairon
Ativista desde os 13 anos, Iago Hairon começou a sua luta lá no Recôncavo da Bahia, quando ouviu falar pela primeira vez sobre aquecimento global e mudança do clima ainda na sala de aula. "Eu fiquei chocado com a urgência do tema. Lembro que naquela época, a pergunta que mais me fazia era 'Por que será que não está todo mundo falando disso? É a coisa mais importante que precisamos resolver'. Minha curiosidade de entender o que estava acontecendo e fazer alguma coisa foi o que mais me moveu a me tornar um ativista".
Depois disso, o ativista climático e cientista social de 28 anos começou a se envolver em movimentos voluntários locais como o Movimento Bandeirante, a Plant For The Planet, o movimento estudantil e o Engajamundo. Recentemente, ele foi um dos 100 inovadores pelo clima reconhecido pela Revista Época. "Ter meu trabalho reconhecido é muito bom, mas acho que a parte mais legal é fazer com que a discussão climática chegue em outros públicos. Precisamos cada vez mais entender que a crise climática é um problema humanitário e que precisamos engajar o máximo de pessoas e organizações possíveis no tema".
Micaela Valentim
Expandir conhecimento e alcançar mais adeptos para a causa também é a luta de Micaela Valentim. A oceanógrafa de 25 anos fundou a ONG Ame o Tucunduba, que atua para a proteção de rios urbanos na região do Pará. "Esse trabalho é a concretização do sonho de jovens mulheres moradoras de Belém. Em 2016, iniciamos como coletivo com a proposta de garantir acesso democrático a informações sobre rios urbanos, em especial da Bacia Hidrográfica do Tucunduba. Hoje, após cinco anos de atuação, expandimos nossa área de ação e realizamos projetos voltados para bacias hidrográficas, saneamento e mudanças climáticas em todo território paraense", conta Micaela.
A ONG conta com uma diretoria executiva composta por três jovens mulheres e 12 cofundadoras associadas, sendo 50% mulheres negras. "Com uma visão crítica e esperançosa, fomentamos experiências educacionais, produção de conhecimento local e mobilização em redes. Entendemos que, partindo das águas amazônicas, é possível imaginar outros futuros para as cidades", explica.
Amanda Costa
A coletividade também é a base do trabalho realizado por Amanda Costa, de 25 anos. Foi em 2017, durante uma viagem a Berlim para a COP23, que a ecofeminista antirracista e membro da Perifa Sustentavel não se sentiu representada ao perceber quem tomava as decisões.
"Eu me senti muito incomodada ali porque não me via representada pelos tomadores de decisão. Pelo contrário. Eu via homens brancos, héteros, cisgêneros, ricos falando como a crise climática vai impactar as comunidades vulneráveis, principalmente as periferias, favelas e regiões indígenas. Eu, enquanto mulher preta e periférica, fiquei refletindo: 'Por que será que eles não me davam o microfone? Por que será que aquele espaço não estava comigo?'. Naquele momento, percebi que ter o microfone, ter um lugar de fala, isso simboliza poder", conta.
Em busca desse poder, quando voltou para o Brasil, Amanda entrou em uma organização chamada Engajamundo e começou a coordenar um grupo de trabalho sobre os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. "Em 2019, eu passei em um programa chamado United People Global, de uma organização internacional que estava pensando nos jovens de países periféricos — ou seja, países do sul global — que tinham potencial para causar impacto positivo nas suas comunidades", lembra.
Na época, ela criou o Perifa Sustentável, um projeto que nasceu da dor de não se ver representada pelos tomadores de decisão e que tinha o objetivo de democratizar as pautas para a juventude de favelas do Brasil. "Fico muito feliz de anunciar agora que o Perifa Sustentável virou uma organização. Estamos no finalzinho, terminando o Regimento Interno, conversando com os advogados, e já recebemos a primeira versão do estatuto. Estou muito feliz e muito em breve o Perifa Sustentável será considerado uma ONG", comemora.
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