Artista deixa vida de administradora para fazer arte e design com cabaça
Andressa Oliveira, 33, trabalha desde os 16 anos, quando começou como aprendiz no departamento de compras de uma indústria. Mas ela sabia que aquela não era sua vocação, e quis o destino que os ventos a levassem para a arte com cabaça, trabalho que vem ganhando destaque.
Formada em administração de empresas e design de interiores, ela mora em São Vicente, no litoral de São Paulo, e atuou por 15 anos na área, quando veio a faísca que precisava para iniciar sua carreira como artista.
"Em 2018, após oito anos atuando em meu último emprego —e já cansada da rotina exaustiva e chefes extremamente abusivos — fui desligada. Foi aí que tive a oportunidade de mudar completamente o rumo da minha vida. Foi a minha virada de chave", conta.
Após a demissão, viajou para a Chapada Diamantina (BA). "Lá pude pela primeira vez me conectar de verdade com a natureza, e com minhas raízes — uma vez que meus antepassados viveram no estado da Bahia", diz.
Naquele momento, de "reflexão e decisões", ela resolveu que iria realizar os seus sonhos. "Queria trabalhar para pessoas, mas de uma maneira diferente, de forma que eu pudesse ter reconhecimento e ver pessoas felizes com o que eu entregasse", assegura.
Foi assim que ela deu início a um pequeno negócio de acessórios para o corpo, como brincos e colares. Depois, vieram itens para a casa, como luminárias, bowls e esculturas de parede, todas produzidas com cordas de diversos tipos.
Mas ela não estava 100% satisfeita. "[O material] era algo que já estava em abundância no mercado, e eu queria algo novo e diferente. Comecei a pesquisar sobre novos materiais e novas possibilidades também, e cheguei até a cabaça, que é um fruto muito presente em nosso cotidiano, mas que a meu ver, não recebia o valor que merecia".
Então pensei: 'como algo tão versátil, tão resistente e tão histórico, não era explorado e utilizado de maneira nobre por nós?'
Andressa começou a pesquisar mais sobre o fruto, desde os primeiros registros de sua existência, onde surgiu, e como povos originários o utilizavam. Foi então, diz, que um mundo novo se abriu.
"Eu quis inserir de alguma maneira itens que eu já utilizava, como cordões de algodão, à cabaça. Surgiu assim o protótipo da Série Enigmas. Uma cabaça linda e brilhante, com fios de algodão saindo de dentro da peça. Fiquei encantada e feliz com o teste, na parede ficou linda e tive certeza de que estava no caminho. Segui com os trabalhos e através de minhas pesquisas, notei uma relação muito próxima do fruto com a cultura africana, e as religiões de matriz africana", resume.
A partir disso, ela lançou sua coleção "Orixás". Além da cabaça e fios de algodão, ela adiciona itens como pedras naturais, pérolas de água doce, búzios, sementes e o que mais estiver ao alcance de sua criatividade.
"Através desse trabalho em específico, me conectei com clientes incríveis, que respeitaram demais o meu ofício e os meus processos. Com esse trabalho, fui notada pela revista 'Casa Vogue', artistas e influencers como Guta Virtuoso, Fernanda Paes Leme. Minha arte pôde ser vista também na 'Casa&Jardim', 'Casa Cor' e 'Histórias de Casa', sempre em projetos muito especiais", pontua.
Ter conhecido grandes artistas motivou Andressa a estudar novas técnicas, e assim ela iniciou outra arte: as pinturas em tecidos. "Ainda é algo novo, mas extremamente apaixonante", diz.
Para ela, não há nada melhor que saber que o seu trabalho motiva e inspira pessoas, chegando até fora do país ou em "pessoas que eu jamais poderia imaginar."
Enxergar em superfícies improváveis, possibilidades a serem exploradas, mesmo sendo autodidata, me motiva a seguir esse caminho tão lindo que é o da arte. Por vezes recebo mensagens de pessoas que acompanharam a minha mudança, que sabem da minha história, dizendo que tive muita coragem em mudar completamente. Sinto que o objetivo de ser reconhecida, vem sendo atingido.
Prêmio Ecoa
Andressa é a artista responsável pela produção dos convites e troféus da primeira edição do Prêmio Ecoa — todos feitos de forma manual. Os itens estão sendo desenvolvidos de acordo com um desenho do artista plástico Renato Tija, criado especialmente para o evento.
"Fiz a proposta de 'desconstruir' o desenho dele e dar meu toque, até mesmo para não descaracterizar o meu trabalho. Enquanto o Renato trabalha com simetria e precisão obtida através de fitas e nivelamento em seus elementos, eu entro com a proposta de releitura desses elementos, de forma mais livre, inserindo materiais que utilizo em meus trabalhos, nesse especificamente, o tecido de algodão, a pintura manual e composições mais orgânicas", finaliza.
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