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COP precisa incluir mundo agrícola, defendem Lélia e Sebastião Salgado

Sebastião Salgado e Lélia Wanick Salgado em evento na COP26 - Divulgação/Brazil Climate Action Hub
Sebastião Salgado e Lélia Wanick Salgado em evento na COP26 Imagem: Divulgação/Brazil Climate Action Hub

Ana Prado e Kamila Camilo

De Ecoa, em São Paulo e em Glasgow (Escócia)

09/11/2021 06h00

A COP26 (26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas) é muito importante para o futuro do planeta, mas precisa incluir outros atores do clima. Foi isso o que defenderam ontem (8) o fotógrafo Sebastião Salgado e sua esposa, a ambientalista, autora e produtora Lélia Wanick Salgado.

O casal esteve no Brazil Climate Action Hub, iniciativa da sociedade civil brasileira na COP26, para falar sobre a preservação das florestas. O estande está exibindo uma mini versão da nova mostra de Sebastião Salgado, "Amazônia", atualmente em cartaz em Londres.

Durante a visita, o fotógrafo fez críticas à forma como o país tem lidado com a floresta. "A proposta econômica atual da Amazônia é totalmente predatória. Nós tínhamos que assumir nosso papel de economia verde, de país que possui a maior reserva de biodiversidade do planeta. Nós só teríamos vantagens para o povo brasileiro. Mas o comportamento atual do nosso Poder Executivo é exatamente o oposto — é a destruição de tudo isso", disse.

Para ele, o debate climático deve se basear em três pilares: a conservação da biodiversidade que ainda existe no planeta, o controle das emissões de carbono e a reabilitação dos ecossistemas. Para isso, no entanto, afirmou que é necessário conversar com outros grupos além daqueles atualmente presentes na COP.

"Temos que estender esse debate para fora da bolha ambiental e abrir para toda a comunidade. Acho que essas reuniões como a COP tinham que trazer todos os movimentos agrícolas — o agronegócio, os pequenos produtores tinham que estar aqui. Porque se tivermos que replantar árvores vai ter que ser nas propriedades privadas. A maior parte da terra hoje pertence a pessoas físicas e temos que tê-los conosco neste momento", defendeu.

Lélia Salgado concordou e complementou: "Essa COP precisa mudar um pouco o caminho e trazer a conversa mais para dentro da realidade das pessoas. A realidade não é só fazer leis e definir o mercado de carbono — no final das contas, pagar pelo carbono e continuar as emissões não adianta nada. O que adianta é ter consciência e mudar o sistema de consumo. Essa mensagem deveria ser bem mais forte aqui".

O poder da arte

Fotos da exposição "Amazônia", de Sebastião Salgado, no estande do Brazil Climate Action Hub - Divulgação/Brazil Climate Action Hub  - Divulgação/Brazil Climate Action Hub
Fotos da exposição "Amazônia", de Sebastião Salgado, no estande do Brazil Climate Action Hub
Imagem: Divulgação/Brazil Climate Action Hub

Lélia também falou sobre o papel da arte na conscientização das pessoas sobre o meio ambiente. "A arte é uma informação que chega com emoção — as pessoas se emocionam com algumas pinturas, fotografia, música, poesia... Nossa exposição sobre a Amazônia traz a possibilidade de que todos entrem e vejam aquelas paisagens maravilhosas, que muitos não têm a oportunidade de ver, porque o acesso até elas é difícil. E eu acho que a arte tem que ser engajada. É muito importante que a gente desperte a vontade de ver e ler mais informações sobre esse tema", diz ela.

Na mostra "Amazônia", Sebastião Salgado traz o resultado de sua imersão na floresta, onde esteve trabalhando durante seis anos ao lado de diferentes comunidades indígenas para compor as obras.