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Gestora de RH arruma vaga em empresa para homem que pedia emprego no farol

Pedro Gomes e Raiza Selhorst, que lhe ajudou a conseguir um emprego - Arquivo pessoal
Pedro Gomes e Raiza Selhorst, que lhe ajudou a conseguir um emprego Imagem: Arquivo pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, do Recife (PE)

12/11/2021 06h00

Com a alta na taxa de desemprego no país, cada vez mais pessoas buscam alternativas para voltar ao mercado de trabalho e obter uma renda. Em Maringá, no Paraná, Pedro Gomes, 34, teve seu sonho atendido após passar dez dias em um semáforo segurando um cartaz em que dizia precisar de emprego. Uma pessoa se sensibilizou com a cena e o convidou para a seleção de uma vaga — e ele passou.

Pedro ficou desempregado em maio de 2020, quando entrou para as estatísticas das pessoas que perderam suas rendas em meio à pandemia do novo coronavírus. Divorciado e sem filhos, ele mora em uma casa alugada e depende do próprio trabalho para se manter.

O tempo foi passando, a crise sanitária aumentando e mais pessoas ficando desempregadas. A situação chegou a um ponto que Pedro Gomes decidiu colar cartazes pela cidade com seu contato e avisando que precisava trabalhar.

Sem respostas, ele decidiu fazer um grande cartaz e se posicionar em um cruzamento da cidade. Em menos de 15 dias, a estratégia surtiu efeito.

Atraindo a atenção do RH

"Uma moça passou e me viu. Ela me ligou e ofereceu uma cesta básica. Eu disse a ela que a cesta poderia ser doada a uma pessoa com uma necessidade maior do que a minha. Disse a ela que o que eu queria mesmo era um emprego", explicou a Ecoa.

Mensagem encaminhada para grupo de profissionais de RH ajudou Pedro a conseguir um trabalho - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mensagem encaminhada para grupo de profissionais de RH ajudou Pedro a conseguir um trabalho
Imagem: Arquivo pessoal

A atitude de Pedro impressionou a mulher, que decidiu ajudar a divulgar seu pedido. Como resultado, a foto dele segurando o cartaz foi parar em grupos de profissionais que trabalham com recursos humanos.

Passados alguns dias, veio a boa surpresa: uma pessoa lhe telefonou e contou que em breve teria uma vaga para lhe oferecer. Era a gestora de Recursos Humanos Raiza Selhorst, que tinha visto a foto de Pedro em um desses grupos. "Vi o pessoal perguntando se podíamos ajudar com oportunidade de emprego. Na época, eu não tinha a vaga, mas fiquei curiosa em conhecer a história para saber de que forma eu poderia ajudar, nem que fosse encaminhando para alguma outra empresa. Na foto havia um homem de aspecto sofrido, um pouco mirrado, mas a imagem sugeria também muita força de vontade", relembrou Raiza.

Logo no início da conversa, uma coincidência chamou a atenção. "Para minha surpresa, fizemos uma entrevista primeiro por vídeo devido à pandemia, e de cara ele contou que era de Rondônia, que também é minha terra natal. Dali em diante, contou uma história de abandono desde criança, de muita batalha e superação. E com experiências e habilidades comportamentais que se encaixam perfeitamente no perfil que eu quero cultivar dentro da indústria em que trabalho", continuou.

Embora tenha se sensibilizado com a história e de ter a certeza que ele tinha o perfil para a vaga, Raiza ressalta que Pedro passou no processo seletivo por méritos próprios e concorrendo com outros candidatos.

"Contratei e ele está com a gente. Para quebrar o tabu de que o RH só chama para dar bronca ou fazer desligamento, eu implementei uma prática de chamar colaboradores que se destacam para tomar um café comigo e trocar experiências. Isso ocorre uma vez por mês. Eu mesma passo o café, me aproximo. Eles sentem que estou ali também para servir e isso gera mais produtividade, saúde mental e satisfação no trabalho. Depois desse café, eu posto a história da pessoa para todos a conhecerem melhor", contou Raiza.

Pedro Gomes foi contratado como auxiliar de serviços gerais. Ele agradeceu a chance e lembrou que muitas pessoas no país estão esperando somente por uma oportunidade.

"Estou muito feliz e grato. Teve gente que passou por mim no semáforo, me chamou de vagabundo e disse que eu não conseguiria nada ali. Acho que falta mais empatia. Essa pessoa mesmo deveria imaginar que, se estamos colocando nossa cara no sol daquele jeito, já havíamos esgotado as alternativas. Graças a Deus, e ao pessoal que me fotografou, para mim deu certo. Fico aqui na torcida para que dê certo também para os outros tantos desempregados do Brasil", disse.

Dias depois de começar no novo emprego, ele retornou ao cruzamento, se ajoelhou e agradeceu ao universo por ter sido ouvido. "Agradeço a todo mundo que se colocou à disposição para me ajudar. Voltei ao semáforo também para dizer obrigado a todos que por ali passaram e me deram força", destacou.