Novo rascunho da COP26 suaviza menções a carvão e fundo
GLASGOW, 12 NOV (ANSA) - Um novo esboço da declaração final da COP26 atenuou a única citação no texto aos combustíveis fósseis, principais responsáveis pela emissão de gases do efeito estufa, e ainda retirou qualquer menção ao prazo para implantação do fundo de US$ 100 bilhões por ano para países em desenvolvimento.
O texto foi divulgado na manhã desta sexta-feira (12), dia do encerramento oficial da cúpula climática de Glasgow, embora rumores apontem para uma extensão das negociações até o fim de semana.
A versão inicial do comunicado conclusivo da COP26, divulgada há dois dias, já havia sido criticada por ambientalistas, mas o novo esboço é ainda menos incisivo em alguns pontos cruciais na luta contra a crise climática.
O primeiro deles é a menção aos combustíveis fósseis, termo que aparece apenas uma vez nas sete páginas do texto. A versão de 10 de novembro exortava as partes a "acelerar a eliminação progressiva do carvão e dos subsídios aos combustíveis fósseis", mas sem fixar prazos.
Já o texto desta sexta-feira é ainda mais genérico, pedindo para os países "acelerarem o desenvolvimento, implantação e disseminação de tecnologias, e a adoção de políticas, para a transição para sistemas energéticos de baixa emissão, incluindo o rápido aumento da geração de energia limpa e a aceleração da eliminação progressiva do uso sem restrições da energia a carvão e dos subsídios ineficientes para combustíveis fósseis".
A inclusão dos termos "sem restrições" e "ineficientes" pode servir de muleta para países continuarem usando carvão como fonte de energia ou subsidiando combustíveis fósseis, com o argumento de que o estão fazendo de forma restrita ou eficiente.
Além disso, o texto de 10 de novembro dava as "boas-vindas" ao compromisso de implantar o fundo anual de US$ 100 bilhões até 2023, mas a nova versão apenas "exorta" que as partes instituam o instrumento "urgentemente" e que ele permaneça em vigor até 2025.
O Acordo de Paris previa que o fundo de US$ 100 bilhões fosse constituído até 2020 e ficasse vigente ao menos até 2025, quando a quantia passaria por uma revisão, mas o instrumento ainda não saiu do papel.
Reações - A diretora da ONG Greenpeace, Jennifer Morgan, disse que o documento conclusivo da COP26 "pode e deve ser melhorado".
"O novo texto ainda tem as patas do lobby dos combustíveis fósseis e não é ambicioso como as pessoas esperam", declarou.
Segundo ela, o trecho sobre carvão e combustíveis fósseis foi "gravemente enfraquecido", mas "ainda está presente e deve ser reforçado antes da conclusão da cúpula". "Essa é uma batalha crucial que não podemos perder", acrescentou.
Já a WWF alertou que o novo rascunho dá "passos para trás em algumas áreas críticas". "A eliminação acelerada da energia a carvão e dos subsídios ineficientes para os combustíveis fósseis é notavelmente mais frágil que no texto anterior, mas ainda assim é um sinal importante" afirmou a ONG.
O esboço da declaração final também reafirma o compromisso do Acordo de Paris de manter o aquecimento global neste século "bem abaixo" de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais, com a ressalva de que são necessários "esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C".
O texto "reconhece que os impactos das mudanças climáticas serão muito menores com uma elevação de 1,5ºC do que com 2ºC" e cobra uma redução de 45% nas emissões globais de dióxido de carbono (CO2) até 2030, em relação ao nível de 2010, e o fim das emissões líquidas até a metade do século.
Os negociadores na COP26 também precisam destravar os nós de outras questões delicadas, como a regulamentação do mercado de créditos de carbono, o conjunto de regras para implantar o Acordo de Paris e a governança sobre os resultados nacionais de descarbonização.
"Algumas questões cruciais ainda precisam ser resolvidas", reconheceu o presidente da cúpula, Alok Sharma, abrindo a última reunião plenária da conferência. (ANSA).
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