Topo

Professor indiano transforma rua em sala de aula durante a pandemia

Professor cria quadros negros nas paredes das ruas na Índia durante a pandemia - Divulgação
Professor cria quadros negros nas paredes das ruas na Índia durante a pandemia Imagem: Divulgação

Antoniele Luciano

Colaboração para Ecoa, de Curitiba

13/11/2021 06h00

A pandemia da covid-19 provocou em março de 2020 o fechamento de escolas em 191 países, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Se para uma parcela de alunos o ensino remoto se tornou uma alternativa, para mais da metade dos 1,5 bilhão de estudantes impedidos de ir à escola, a continuidade da aprendizagem ficou sob ameaça. Na Índia, um professor de 34 anos decidiu transformar as ruas da própria aldeia em sala de aula para evitar que essas restrições afetassem a sua turma.

Moradores da aldeia Joba Attpara, em uma região remota do estado de West Bengal, a maioria dos 60 alunos de Deep Narayan Nayak não têm acesso a computadores nem à internet. Eles estudavam na única escola primária da comunidade, a Tilka Majhi Adivasi Primary School, quando a interrupção dos serviços ocorreu. A unidade segue fechada há mais de um ano.

Ao ar livre

Preocupado com a possibilidade de as crianças perderem os estudos ou esquecerem o que aprenderam, o professor criou quadros negros nas paredes das ruas da aldeia, como forma de atender esse público em tempos de distanciamento social. Com recursos próprios, ele distribuiu máscaras, álcool em geral e levou ainda laptops e microscópios para a sala de aula improvisada, a fim de incrementar as lições ao ar livre. A ideia foi despertar o interesse dos pequenos sobre a tecnologia e explicar sobre a malária, doença comum na região. "Eu vi as crianças simplesmente andando pela aldeia ou levando o gado para pastar. Queria ter certeza de que seu aprendizado não iria parar", disse ele à agência de notícias Reuters.

Aos poucos, as ruas estreitas e sem calçamento de Joba Attpara ganharam a presença de crianças com suas mochilas e livros. Elas são organizadas em frente a quadros pintados pelo professor nas paredes externas das casas, moradias dos próprios estudantes atendidos. Nesse arranjo, evita-se o deslocamento e o contato de alunos de diferentes pontos da aldeia. Nayak atende um por um, transmitindo ensinamentos, brincadeiras e cantigas ao grupo. Muitos deles são a primeira geração da família a ter formação escolar. As crianças não precisam pagar nada pelas atividades.

Professor cria quadros negros nas paredes das ruas na Índia durante a pandemia - Divulgação - Divulgação
Professor dá aulas nas ruas a estudantes na Índia
Imagem: Divulgação

Quem estuda diretamente com Nayak diz gostar da nova sala de aula e que a iniciativa tem trazido resultados positivos. "Aqueles alunos que deixaram os estudos devido às restrições voltaram conosco. Isso é bom", relatou a estudante Maundiya Ora à BBC.

Prevenção

Chamado carinhosamente de "professor das ruas", Nayak já costumava ensinar todas as matérias para a turma. Com a pandemia, incluiu no conteúdo escolar informações relacionadas à prevenção do novo coronavírus. "Nós estamos ensinando tudo para as crianças — como manter o distanciamento social, como usar a máscara, a importância de levar as mãos", comentou o educador à rede britânica.

Professor cria quadros negros nas paredes das ruas na Índia durante a pandemia - Divulgação - Divulgação
Professor cria quadros negros nas paredes das ruas na Índia durante a pandemia
Imagem: Divulgação

Ao atender as crianças nessas condições, o professor descobriu que a maior parte dos moradores da aldeia não tinha sido vacinada ainda contra a covid-19 e estava hesitante em receber o imunizante. Sua proximidade com os estudantes o ajudou a influenciar positivamente os responsáveis pelos pequenos. Foi então que ele incentivou a vacinação de 1,2 mil pessoas, organizando, junto a amigos, o transporte desse público até os centros de imunização mais próximos.

Levantamento

Uma pesquisa realizada em agosto na Índia pelo Road Scholarz, com 1,4 mil crianças em idade escolar oriundas de famílias em situação de vulnerabilidade, mostrou que somente 8% desse público têm aulas online nas áreas rurais. Trinta e sete por cento não estudam e metade não lê mais do que algumas palavras.