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O que são empresas de impacto social?

Igor Alecsander/Getty Images
Imagem: Igor Alecsander/Getty Images

Giacomo Vicenzo

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

20/11/2021 06h00

Você sabe o que são empresas de impacto social? Ao longo dos anos, as organizações têm participado cada vez mais da busca por soluções para problemas da sociedade. Só nos últimos 20 anos, os projetos de empreendedorismo social impactaram 622 milhões de pessoas ao redor do mundo, de acordo com dados da Fundação Schwab.

No Brasil, mesmo em meio à pandemia de covid-19, as empresas de impacto social cresceram e chegaram à marca de 1.272 negócios, de acordo com o terceiro Mapa de Negócios de Impacto Social + Ambiental desenvolvido pela Pipe.Social. Em 2017 e 2019, os números eram de 579 e 1.002 negócios do tipo, respectivamente.

O posicionamento diante de demandas sociais também fez parte do cenário do mercado brasileiro. Este ano, por exemplo, pelo menos 800 empresas se uniram para derrubar um projeto de lei que tentava restringir a representação da comunidade LGBTQIA+ na publicidade.

Mas qual o real papel das empresas nas mudanças sociais? Será que movimentos como esses existiram no passado? O que pode ser considerado uma empresa de impacto social? Ecoa reuniu informações, conversou com especialistas em mercado, diversidade e sustentabilidade para responder a esses e outros questionamentos. Acompanhe a seguir.

O que são empresas de impacto social?

Na definição do Sebrae, os negócios de impacto social são os que buscam impacto socioambiental positivo por meio da atividade básica da empresa. Nesse sentido, devem ser empreendimentos que beneficiam diretamente pessoas das classes C, D e E. Portanto, é preciso entender que empresas que praticam ações sociais não são necessariamente empresas de impacto social.

"Negócios de impacto social são todos os negócios que trazem uma melhoria para a condição social de determinados grupos. Mas não podemos confundir impacto social com uma ação de responsabilidade social ou com voluntariado. Por exemplo, quando uma empresa tem um investimento num time de futebol de adolescentes de uma comunidade, isso é uma ação social, mas não a transforma em um negócio de impacto social", explica Fábio Mariano Borges, doutor em sociologia pela PUC-SP, consultor de Inclusão da Diversidade e professor visitante da Universidade de Nottingham (Reino Unido).

Marcus Nakagawa, professor da ESPM e especialista em sustentabilidade, lembra que uma ação de impacto social geralmente é desenhada por meio de um projeto, com um objetivo, um começo, um meio e por vezes um fim. "A ação pode ser temporária para resolver um problema pontual e não estrutural", explica.

No caso de uma empresa de impacto social é preciso que ela tenha o funcionamento e a lógica de uma empresa tradicional, com planejamento, estrutura, vendas de produtos e serviços e faturamento, como toda organização. "O diferencial é que a sua missão é resolver um problema social ou ambiental, que pode ser uma demanda estrutural", completa Nakagawa.

O que é impacto social na prática?

Mas então, o que realmente pode ser considerado impacto social? Um exemplo, que já apareceu em Ecoa, é o Conta Black, um banco que oferece conta digital com direito a pagamentos, transferências e linha de crédito voltado para pessoas que não têm acesso a serviços financeiros em instituições tradicionais — algo comum, no Brasil, especialmente entre a população negra.

"Entendemos que o desafio da desbancarização e exclusão financeira também impacta na desigualdade social e na economia dos mais pobres. Tomamos como missão ampliar o acesso a serviços financeiros a todas as pessoas, sem burocracia, mas com educação financeira, por meio de ferramentas simples, para que o crédito também não se torne um inimigo", explicou o fundador Sérgio All.

A empresa surgiu para tentar resolver um problema estrutural na sociedade brasileira: segundo pesquisa do Instituto Locomotiva, das cerca de 45 milhões de pessoas com mais de 16 anos que não têm conta em bancos no Brasil, 69% são negros e 86% são das classes C, D e E. Ao mesmo tempo, trata-se de um negócio que visa não somente a mudança social, mas também o lucro — o que o difere de uma ONG, por exemplo.

Qual o papel das empresas nas mudanças sociais?

Borges ressalta que é importante lembrar que as causas são sempre das pessoas e dos grupos, não propriamente das empresas. "O compromisso dessas empresas com as mudanças sociais é total, mas as causas não pertencem elas. São as pessoas que lutam por inclusão na empregabilidade. São pessoas LGBTs que lutam por aceitação e por não serem assassinadas. Empresas não sofrem racismo, quem sofre racismo são as pessoas", diz o sociólogo para Ecoa.

A responsabilidade das empresas viria por serem atores sociais do macro cenário, que compreende o campo econômico, político, sociocultural, legislativo, tecnológico e demográfico. Escolher agir ou não, aliás, pode levar a prejuízos ou lucros para as organizações.

Assim, longe de dizer que empresas são boazinhas ou ruins, ele explica que aquelas que tomam essas iniciativas estão contribuindo para os seus próprios negócios. Ele recorre ao exemplo histórico do movimento sufragista, que lutou pelo direito de mulheres votarem no fim do século 19 e início do 20, e que contou com a participação e apoio de algumas empresas na época.

"Várias empresas apoiaram o movimento e concediam salas gratuitamente para o encontro dessas sufragistas, onde elas discutiam sobre emancipação feminina, direito ao voto e participação nas empresas. Isso era de muito interesse para essas redes, sobretudo varejistas, que tinham predominantemente mulheres como vendedoras e precisavam que elas fossem mais qualificadas, tivessem acesso à educação e fossem mais independentes de seus maridos, pois tinham que trabalhar em diferentes turnos", explica o sociólogo.

Borges defende que sempre que há ganhos no ambiente social, a empresa ganha também e viverá mais tempo — e de forma sustentável. "Toda causa social tangencia a atuação das empresas e traz impactos positivos para os negócios e sociedade", acredita.