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O que é Libras e por que sua interpretação deveria ser padrão?

Casal conversando por Libras - Jovanmandic/Getty Images/iStockphoto
Casal conversando por Libras Imagem: Jovanmandic/Getty Images/iStockphoto

Giacomo Vicenzo

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

30/11/2021 06h00

No Brasil há 10,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva, sendo 2,3 milhões com deficiência severa, de acordo com estudo feito pelo Instituto Locomotiva e a Semana da Acessibilidade Surda divulgado em 2019. A pesquisa também apontou que seis em cada dez brasileiros que vivem com a deficiência encontram dificuldades para realizar atividades do dia a dia.

Se ligar a televisão e entender tudo o que está acontecendo lhe parece algo comum, para as pessoas com deficiência auditiva esses pequenos acessos podem ser um desafio e uma barreira capaz de limitar ou excluí-los totalmente do contexto, a depender do nível de acessibilidade oferecido. A interpretação em Libras, ou Língua Brasileira de Sinais, se mostra uma alternativa e ponte de acesso importante para esses indivíduos.

Com base nisso, Ecoa conversou com um ativista que preside uma associação e com um intérprete de Libras - que fará a narração simultânea do Prêmio Ecoa no dia 02 de dezembro. Os profissionais explicam por que a interpretação em Libras deveria ser padrão e como a presença dessa língua pode garantir acessos mais igualitários. Confira a seguir.

O que é Libras?

Libras é a Língua Brasileira de Sinais, que permite interpretar e transmitir mensagens de forma gestual. Assim, quem tem deficiência auditiva pode compreender, mesmo que não consiga ouvir uma só palavra. A língua se desenvolveu no século 19, quando houve a fundação do Instituto Nacional de Educação de Surdos no Rio de Janeiro.

"É importante sempre ressaltar que a forma correta de se referir à Libras é como língua - e não como linguagem, pois cada país possui sua própria língua de sinais", alerta o empresário e intérprete de Libras, Ricieri Palha, 33, que estará presente no Prêmio Ecoa fazendo a tradução simultânea do evento.

Qual a importância da interpretação em Libras?

Jorge Suede, presidente da ASSP (Associação dos Surdos de São Paulo), defende que é preciso ter conteúdos acessíveis para que as pessoas com deficiência possam compreender o que está sendo dito ou visualizado neles. "É um direito básico — que é sempre negado em diversos espaços, seja virtual ou pessoalmente", aponta.

O próprio presidente tem deficiência auditiva e já sentiu o impacto da falta de interpretação em Libras nos espaços em que esteve. "A conversa e a interação presencial têm um impacto muito grande na minha vida, pois dependo da Libras para me comunicar com as pessoas de forma eficiente", diz.

"Quando estou na internet, uso o recurso de legendas e closed caption, mas ainda não temos conteúdos que sejam acessíveis para pessoas surdas que dependam de Libras para maior compreensão. A consequência disso é a exclusão digital, fazendo com que eles não consigam compreender o básico, como as notícias nos telejornais, por exemplo", explica.

Acompanhada da falta de acesso, o preconceito também se faz presente. "Essas são as maiores barreiras que enfrentamos, há falta de acessibilidade e visibilidade para a comunidade surda. Sofremos muito com essa desinformação da própria sociedade", diz o presidente da ASSP para Ecoa.

Por que a interpretação em Libras deveria ser padrão? E o que é na prática?

Suede explica que a interpretação, na televisão por exemplo, é quando vemos no canto da tela ou um ou mais intérpretes traduzindo o conteúdo paralelamente, enquanto áudio e texto são apresentados.

"Isso é necessário, visto que uma boa parcela de pessoas surdas sinalizadas não tem o conhecimento fluente em português. Compreender o conteúdo é um direito delas, assim como o de surdos 'oralizados' terem legendas nos conteúdos que consomem", defende.

Já Palha enxerga que a chegada da pandemia de covid-19 deu visibilidade e colocou a interpretação de Libras em evidência. "Ainda assim, ela já deveria ser um padrão faz tempo, pois consta em uma lei de acessibilidade do ano 2000, que garante o direito", lembra.

O intérprete se refere à lei nº 10.098, de 2000, que garante "normas gerais para promoção das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação". "Mas, infelizmente, o Brasil está muito atrasado na garantia desses direitos", comenta.

Mas é lutando para abrir espaço, mesmo com um cenário desigual, que Jorge Suede e sua associação investem em programas como oficinas de Libras, integração de pessoas surdas com ouvintes e parceria com empresas para a inserção no mercado de trabalho.

Por sua vez, Palha abre caminhos em meio ao empreendedorismo. "Com a criação da minha empresa de tradução de Libras, a Acessibiliart Libras, comecei a trabalhar em muitas lives de artistas e essa iniciativa fez com que mais pessoas pudessem participar de um momento histórico em que tudo se concentrou em shows virtuais, além de trazer mais visibilidade para a comunidade surda", acredita.