O que é Libras e por que sua interpretação deveria ser padrão?
No Brasil há 10,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva, sendo 2,3 milhões com deficiência severa, de acordo com estudo feito pelo Instituto Locomotiva e a Semana da Acessibilidade Surda divulgado em 2019. A pesquisa também apontou que seis em cada dez brasileiros que vivem com a deficiência encontram dificuldades para realizar atividades do dia a dia.
Se ligar a televisão e entender tudo o que está acontecendo lhe parece algo comum, para as pessoas com deficiência auditiva esses pequenos acessos podem ser um desafio e uma barreira capaz de limitar ou excluí-los totalmente do contexto, a depender do nível de acessibilidade oferecido. A interpretação em Libras, ou Língua Brasileira de Sinais, se mostra uma alternativa e ponte de acesso importante para esses indivíduos.
Com base nisso, Ecoa conversou com um ativista que preside uma associação e com um intérprete de Libras - que fará a narração simultânea do Prêmio Ecoa no dia 02 de dezembro. Os profissionais explicam por que a interpretação em Libras deveria ser padrão e como a presença dessa língua pode garantir acessos mais igualitários. Confira a seguir.
O que é Libras?
Libras é a Língua Brasileira de Sinais, que permite interpretar e transmitir mensagens de forma gestual. Assim, quem tem deficiência auditiva pode compreender, mesmo que não consiga ouvir uma só palavra. A língua se desenvolveu no século 19, quando houve a fundação do Instituto Nacional de Educação de Surdos no Rio de Janeiro.
"É importante sempre ressaltar que a forma correta de se referir à Libras é como língua - e não como linguagem, pois cada país possui sua própria língua de sinais", alerta o empresário e intérprete de Libras, Ricieri Palha, 33, que estará presente no Prêmio Ecoa fazendo a tradução simultânea do evento.
Qual a importância da interpretação em Libras?
Jorge Suede, presidente da ASSP (Associação dos Surdos de São Paulo), defende que é preciso ter conteúdos acessíveis para que as pessoas com deficiência possam compreender o que está sendo dito ou visualizado neles. "É um direito básico — que é sempre negado em diversos espaços, seja virtual ou pessoalmente", aponta.
O próprio presidente tem deficiência auditiva e já sentiu o impacto da falta de interpretação em Libras nos espaços em que esteve. "A conversa e a interação presencial têm um impacto muito grande na minha vida, pois dependo da Libras para me comunicar com as pessoas de forma eficiente", diz.
"Quando estou na internet, uso o recurso de legendas e closed caption, mas ainda não temos conteúdos que sejam acessíveis para pessoas surdas que dependam de Libras para maior compreensão. A consequência disso é a exclusão digital, fazendo com que eles não consigam compreender o básico, como as notícias nos telejornais, por exemplo", explica.
Acompanhada da falta de acesso, o preconceito também se faz presente. "Essas são as maiores barreiras que enfrentamos, há falta de acessibilidade e visibilidade para a comunidade surda. Sofremos muito com essa desinformação da própria sociedade", diz o presidente da ASSP para Ecoa.
Por que a interpretação em Libras deveria ser padrão? E o que é na prática?
Suede explica que a interpretação, na televisão por exemplo, é quando vemos no canto da tela ou um ou mais intérpretes traduzindo o conteúdo paralelamente, enquanto áudio e texto são apresentados.
"Isso é necessário, visto que uma boa parcela de pessoas surdas sinalizadas não tem o conhecimento fluente em português. Compreender o conteúdo é um direito delas, assim como o de surdos 'oralizados' terem legendas nos conteúdos que consomem", defende.
Já Palha enxerga que a chegada da pandemia de covid-19 deu visibilidade e colocou a interpretação de Libras em evidência. "Ainda assim, ela já deveria ser um padrão faz tempo, pois consta em uma lei de acessibilidade do ano 2000, que garante o direito", lembra.
O intérprete se refere à lei nº 10.098, de 2000, que garante "normas gerais para promoção das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação". "Mas, infelizmente, o Brasil está muito atrasado na garantia desses direitos", comenta.
Mas é lutando para abrir espaço, mesmo com um cenário desigual, que Jorge Suede e sua associação investem em programas como oficinas de Libras, integração de pessoas surdas com ouvintes e parceria com empresas para a inserção no mercado de trabalho.
Por sua vez, Palha abre caminhos em meio ao empreendedorismo. "Com a criação da minha empresa de tradução de Libras, a Acessibiliart Libras, comecei a trabalhar em muitas lives de artistas e essa iniciativa fez com que mais pessoas pudessem participar de um momento histórico em que tudo se concentrou em shows virtuais, além de trazer mais visibilidade para a comunidade surda", acredita.
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