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Maternidade sustentável: empresa fatura milhões com fraldas ecológicas

Pai trocando criança com fralda ecológica Nós e o Davi - Divulgação/Nós e o Davi
Pai trocando criança com fralda ecológica Nós e o Davi Imagem: Divulgação/Nós e o Davi

Camilla Freitas

Do UOL, em São Paulo (SP)

02/12/2021 06h00

Aos 21 anos, Lais de Oliveira Souza engravidou. Foi uma surpresa. Sem ter um planejamento prévio, ela se apoiou na internet para aprender sobre maternidade. Foi ali, em meio a blogs de outras mães, que ela se deparou com a realidade das fraldas descartáveis e a quantidade de lixo que elas geram. "Mas também encontrei algumas mães blogueiras que utilizavam fraldas que na época eram chamadas de fraldas de pano modernas", conta. A partir daí, sua vida mudou.

Mesmo sendo desencorajada a usar as fraldas de pano por pessoas que diziam que ela não daria conta de conciliar carreira, maternidade e a limpeza das fraldas, Lais decidiu tentar. Em meio a pesquisas por marcas, ela encontrou, no entanto, uma lacuna.

Os sites que vendiam as fraldas não continham informações importantes sobre, por exemplo, modo de uso e lavagem. Foi aí que ela viu uma oportunidade de negócio. E assim nasceu a Nós e o Davi.

"Minha carreira acabou?"

Antes da gravidez, Lais atuava na área de tecnologia em uma multinacional. Ainda muito jovem, assim que engravidou, seu primeiro pensamento foi "minha carreira acabou". Isso porque "era difícil ser mulher naquele meio, ser mulher com filho, então, era mais ainda".

Lais de Oliveira Souza, Nós e o Davi - Divulgação/Nós e o Davi - Divulgação/Nós e o Davi
Lais de Oliveira Souza, idealizadora da Nós e o Davi
Imagem: Divulgação/Nós e o Davi

Assim, fora da multinacional, ela decidiu empreender. Foi usando seu conhecimento sobre o mercado de tecnologia que Lais optou por resolver o problema que encontrou no ramo das fraldas de pano que usava em seu filho Davi.

Se antes os produtos que não eram descartáveis ainda vinham com plásticos e panos que dificultavam a lavagem, ela escolheu inovar. Queria que as fraldas da Nós e o Davi fossem realmente ecológicas.

Elas contam com tecidos absorventes e panos costurados na própria fralda para facilitar a lavagem, que pode ser feita máquina de lavar roupa com outras peças das crianças. "A gente não usa nossa roupa e joga fora. Da mesma forma, é possível lavar a fralda", explica Lais. Além disso, cada fralda conta com ajustes de botões que podem ser adaptados para o tamanho do bebê.

Apesar de não ter tecido biodegradável, Lais afirma que as fraldas da Nós e o Davi são pensadas para uma longa durabilidade, o que reforça o compromisso ecológico da marca de não criar um produto facilmente descartável.

"As pessoas sempre duvidam se esse mercado de fato dá dinheiro porque, para elas, um dos princípios da venda é vender várias vezes para o mesmo cliente, e meu produto não requer isso. Eu vou vender uma vez e a pessoa não precisa mais comprar, mas eu conto que ela vai ficar feliz com a experiência, vai ver os benefícios na economia da família, na saúde do bebê e na contribuição com o meio ambiente e vai indicar para outras pessoas. Tem sempre bebês nascendo, então acho que esse nicho é muito promissor", diz Lais.

Em oito anos de empresa foram cerca de 162 mil fraldas vendidas, o que gerou um faturamento de mais de 5 milhões de reais.

Outro ponto de inovação que Lais quis trazer para sua marca foi a experiência do usuário. Para além de vender fraldas, ela decidiu também produzir conteúdos ensinando como usar as peças. Se os conteúdos postados não forem o suficiente para esclarecer as dúvidas, não tem problema. A empresa conta com uma equipe de suporte para ajudar as famílias.

Bebê desenhando com fralda da Nós e o Davi - Divulgação/Nós e o Davi - Divulgação/Nós e o Davi
O site da Nós e o Davi ensina como é possível lavar as fraldas junto com outras roupas sem contaminar a máquina e as peças.
Imagem: Divulgação/Nós e o Davi

"Nossa preocupação não é só vender as fraldas para bater a meta comercial. Eu quero que as pessoas usem e deixem de poluir o planeta. Então, se comprar e não usar, meu objetivo não foi cumprido", explica Lais.

Além de querer diminuir a poluição por meio das fraldas ecológicas, ela investiu em outra frente, a social. Formada por seis funcionárias, a Nós e o Davi só conta com mulheres e preferencialmente mães que buscam se recolocar no mercado de trabalho. "A maternidade não tirou a minha credibilidade profissional. Eu acho que fiquei ainda melhor e isso se estende para minha equipe", diz.

Bom para o bolso, para o meio ambiente e para o bebê

Foi em uma pesquisa para um enxoval enxuto que Maykon Campanharo encontrou a Nós e o Davi. Usar as fraldas ecológicas, de início, foi uma excelente opção para o bolso. Apenas 26 unidades foram necessárias, número que levará até o desfralde do pequeno Murilo que ainda não completou um ano. "As fraldas descartáveis vão aumentando de valor de acordo com o tamanho da criança", conta Maykon.

Depois da economia, a questão ambiental também colaborou para a escolha. "Não estamos gerando lixo plástico", explica. Segundo Lais de Oliveira, sua marca deixa de liberar no meio ambiente cerca de 6 mil toneladas de lixo que dificilmente é reciclado.

O Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos de 2019, mostrou que apenas 2,1% do total de resíduos coletados no Brasil é reciclado. Além disso, só 41,4% da população tem acesso à coleta seletiva e uma fralda descartável pode levar, em média, até 600 anos para se decompor totalmente na natureza.

Para se ter uma dimensão desse número, tendo em vista que a primeira fralda descartável foi inventada em 1951, apenas no ano 2550 ela seria totalmente decomposta — se levasse a composição que leva hoje.

E por fim, outro ponto que fez Maykon escolher as fraldas ecológicas foi a saúde do bebê. "Com 24 dias de nascido, começamos a utilizar as fraldas no Murilo e fomos nos adaptando à rotina com elas. Aconteceram alguns vazamentos no início, até aprendermos a fazer os ajustes corretamente. O Murilo até hoje não teve assaduras", conta.

Lais - Divulgação/Nós e o Davi - Divulgação/Nós e o Davi
"Acredito muito no nosso poder de transformação a partir da compra porque as empresas vão começar a perceber que precisam mudar a partir do momento que a gente deixar de dar o nosso dinheiro para quem faz as coisas de sempre", diz Lais.
Imagem: Divulgação/Nós e o Davi

Todo mundo pode usar

O preço das fraldas ecológicas varia entre R$ 62,90 e R$ 82,90, valor inacessível para muitas famílias. Também há o fato de que nem todas as pessoas do Brasil possuem saneamento básico. Pensando nisso, a marca decidiu atuar em duas frentes.

A primeira é pensar que há pessoas que têm acesso financeiro, acesso ao saneamento básico, a uma máquina de lavar, e que poderiam fazer essa opção pela fralda ecológica e não fazem. A segunda é o projeto A.M.A de doação de fraldas ecológicas.

São doadas as fraldas que são devolvidas para a marca depois que os bebês param de usar. A marca higieniza, faz reparos e coloca para a doação. Há também a doação de fraldas que não são colocadas para venda por algum problema de costura, ou outro pequeno defeito que não interfira na qualidade do produto. Tudo é feito por meio de uma parceria com a Cufa, que não apenas distribui fraldas, mas também ensina a usá-las.

"Não tem como a gente exigir de alguém que não tem saneamento básico, mas tem dificuldade financeira e até com alimentação que ela se preocupe com o lixo que gera no planeta. Essa pessoa está preocupada com hoje. Mas tem muita gente que tem possibilidade de pensar nesse futuro do planeta e não está fazendo. Nosso foco inicial, então, é nesse grupo", diz Lais.

Toda mudança conta. Se a pessoa não consegue optar só pelas fraldas ecológicas, que ela use nos bebês, então, em um período do dia ou nos finais de semana, quando tem mais tempo para lavar. Tudo isso vai contar tanto para saúde de bebê quanto para o planeta.

Lais de Oliveira Souza, fundadora da Nós e o Davi