Contra a pobreza menstrual, campanha aposta em saneamento básico e educação
"Toda vez que íamos entregar kits de higiene, as pessoas perguntavam por que não tinha absorvente íntimo". O relato de Rayanne França, oficial de programas do UNICEF no Brasil, revela boa parte do que foram as doações durante a pandemia. Entre álcool em gel e sabonetes, muitas pessoas sentiam a falta de um item também essencial e pouco doado junto às cestas básicas: o absorvente.
Isso reflete o que é chamado de pobreza menstrual. Esse fenômeno complexo, para além da falta de absorventes em lares de pessoas que menstruam, reflete a ausência de saneamento básico em boa parte do país.
No Brasil, mais de 4 milhões de meninas (ou 38,1% do total das estudantes) sofrem com pelo menos uma privação de higiene em suas escolas, como a falta de banheiros com pias ou lavatórios, papel higiênico ou sabão. Além disso, 713 mil não possuem banheiro ou chuveiro em casa, segundo o estudo "Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos", feito pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Foi para combater esse cenário alarmante que o UNICEF chamou a RD - RaiaDrogasil para que pudessem construir juntos uma campanha em prol da dignidade menstrual. "Temos buscado o apoio de empresas que sejam parceiras e que estejam sempre pensando no direito à dignidade menstrual das pessoas e no amplo aspecto disso quando pensamos em direitos humanos", comenta Rayanne França.
Intitulado #PraQuemMenstrua, o projeto irá atuar por meio da marca Needs em comunidades vulneráveis de Belém, no Pará. "A escolha de Belém é muito estratégica porque já temos um trabalho muito interessante de empoderamento de meninas por lá", conta Rayanne.
A iniciativa será dividida em três pilares: contribuir com a transformação cultural da comunidade; melhorar a infraestrutura local com construção de estações de lavagens das mãos; e capacitar profissionais de educação.
A campanha tem duração inicial de 12 meses e seu financiamento acontecerá por meio da destinação de parte das vendas de absorventes da marca Needs e pela alocação de fundos da RaiaDrogasil na estratégia Wash, do UNICEF, voltada para a implementação de saneamento básico e distribuição de itens de higiene pessoal em comunidades em situação de vulnerabilidade.
"Entendemos que doar o produto é algo importante, mas queríamos algo a mais. Por mais que a gente pudesse doar uma grande quantidade de absorventes, entendemos que só isso não permitiria uma transformação na comunidade a longo prazo", explica Marcelo Pertile, gerente de Trade Marketing de marcas próprias da RaiaDrogasil.
Quando pensamos em igualdade de gênero, estamos pensando em direitos iguais para todos e, nesse sentido, também é preciso olhar para as pessoas que menstruam. Quando falamos em pobreza menstrual, estamos falando sobre autoestima, direito à água, saneamento básico, higiene. Não é somente sobre a ausência de absorventes, mas também sobre como isso afeta a vida de todas as pessoas que menstruam.
Rayanne França, oficial de programas do UNICEF no Brasil
Ações educativas
Para além da distribuição de absorventes e investimentos em infraestrutura, o projeto #PraQuemMenstrua contará com ações focadas em educação, como rodas de conversa sobre autoestima e autoconhecimento. Além disso, cada pacote de absorvente será entregue com um folheto explicativo sobre menstruação e também serão realizadas formações de grupos de apoio, treinamento sobre práticas de higiene e capacitação de profissionais da educação que atuam na região.
A expectativa é impactar, até o fim de 2021, oito escolas com 1.600 crianças e adolescentes, além de capacitar no mínimo 80 gestores e profissionais da educação para abordar o tema nas escolas. Segundo informações do projeto, também serão instalados 16 novos pontos de água e saneamento.
Como a iniciativa é recente e passou a ser implementada desde o dia zero de venda dos novos absorventes da Needs, em setembro, a RaiaDrogasil ainda não estuda outros projetos com o UNICEF, mas não descarta a possibilidade de acontecer no futuro.
"Estamos abertos a outros projetos de transformação social, de saúde de comunidades vulneráveis, de sustentabilidade e de cuidado com as pessoas. Somos uma empresa que leva saúde, bem-estar e que tem essa preocupação, então é totalmente aderente à nossa estratégia", comenta Marcelo Pertile.
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