Médica usa telefonia para ajudar milhões de mães e bebês na Índia
A uroginecologista Aparna Hedge ainda era uma médica residente em ginecologia e obstetrícia quando decidiu criar uma organização não governamental que usa a tecnologia da rede de telefonia para levar informação e cuidados para mães e seus bebês na Índia. O trabalho, que já atendeu mais de 26 milhões de mulheres em 19 estados do país, busca reduzir os índices de mortalidade materno-infantil. Na Índia, três mulheres morrem por hora no parto, enquanto duas crianças menores de cinco anos de idade morrem a cada minuto.
Essas perdas, conforme a fundadora da ARMMAN, não envolvem apenas condições terminais, mas problemas sistêmicos que poderiam ser evitados. É o caso de uma paciente chamada de Anita por Aparna. A moça tinha acesso à saúde, tanto que no primeiro trimestre da gestação procurou pela médica em um hospital de Mumbai. Apesar disso, Anita não teve a anemia crônica, condição com a qual lidava, tratada da maneira adequada durante a gravidez.
"Foram mais de quatro horas de espera na clínica quente, úmida, encardida e superlotada só para ter um minuto comigo, uma médica residente apressada e sobrecarregada, significando que ela nunca voltaria, apenas para morrer no parto meses depois. Me senti muito culpada. Será que se eu a tivesse aconselhado sobre os sinais de risco, do motivo dela merecer acesso a cuidados regulares, ela e seu bebê teriam sobrevivido?", questionou Aparna durante apresentação no TED Talks.
Outra situação parecida, lembrou a uroginecologista, ocorreu com Aruna, paciente que dava à luz ao primeiro filho quando a médica foi chamada para o pronto-socorro. Assim como Anita, ela não havia sido aconselhada na consulta de pré-natal sobre os cuidados necessários para evitar a diabetes gestacional. O bebê nasceu morto e Aruna faleceu dias depois.
Aparna diz assistir diariamente histórias como essas. "Percebi que as soluções clínicas não eram suficientes. E dada a escala dos problemas da Índia, qualquer solução que fizesse a diferença precisava ser escalável, acessível até a última mulher e criança, diretamente em suas casas, além de econômica", comentou.
Atendimento pelo celular
Com a chegada do celular à Índia, a médica se deu conta de que o aparelho poderia ser um aliado no trabalho com essas mulheres. Em 2008, ela criou então dois programas — o mMitra e o Kilkari, serviços de atendimento telefônico gratuito e semanal, capazes de oferecer informações preventivas diretamente às gestantes e mães com crianças na primeira infância, além de uma central de chamadas.
Todo o atendimento é feito no horário e idioma escolhidos pelas mulheres, como o Hindi, Marathi, Kannada e Gujarati. "Poderíamos apenas ter telefonado semanalmente à Anita com informações importantes para saúde. Por outro lado, talvez pudéssemos ter capacitado o profissional de saúde a usar o celular e diagnosticar a anemia de Anita em sua própria comunidade", observou Aparna.
Com o sistema da ARMMAN, hoje seria possível que no segundo mês da gestação Anita tivesse sido informada da necessidade diária de ferro a partir do mês seguinte. Ela receberia um aviso orientando sobre como tomar o suplemento e que alimentos deveriam ser evitados, como chá e café, para melhorar a absorção de ferro no sangue, além de possíveis efeitos adversos dos comprimidos.
Através do mMitra e o Kilkari, ainda são repassadas às mulheres informações sobre o desenvolvimento dos bebês, planejamento familiar e amamentação, entre outras questões. São 141 mensagens de voz individualizadas, com duração de 60 a 120 segundos, cujo envio é programado de acordo com o estágio da gravidez ou idade do bebê.
Treinamento para profissionais da linha de frente
Outro programa executado pela ARMMAN é o Mobile Academy, que treina profissionais de saúde do governo indiano que estão na linha de frente e atuam com saúde reprodutiva materno-neonatal e infantil. A capacitação aborda comportamentos de saúde preventivos que podem salvar vidas e melhorar a qualidade do envolvimento entre as famílias.
O programa usa tecnologia IVR (Interactive Voice Response), que detecta e interage com o usuário. São 33 meses de curso, compreendendo desde a gravidez até a criança completar 2 anos. Mais de 130 mil profissionais já passaram pelo treinamento.
Meta é alcançar mais de 15 milhões de mulheres
A meta da ARMMAN é expandir os serviços para todo o país nos próximos cinco anos. O objetivo, assinala a médica fundadora, é alcançar mais de 15 milhões de mulheres e seus filhos todo ano, o equivalente a mais da metade das mães e crianças nascidas anualmente na Índia. O uso de Inteligência Artificial também está nos planos da organização.
Para Aparna, não haverá progresso global até que todas as mães e filhos estejam bem. "Uma vila que pode cuidar bem de suas mães e crianças, por efeito cascata, cuidará bem de todas as outras condições. E gravidez não é uma doença. Infância não é uma enfermidade. Morrer por algo natural da vida não é aceitável", defendeu a médica.
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