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Vizinhos se unem para salvar árvore ferida no Rio de Janeiro

Vizinhos se unem para salvar árvore ferida no Rio de Janeiro  - Arquivo pessoal
Vizinhos se unem para salvar árvore ferida no Rio de Janeiro Imagem: Arquivo pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, do Recife (PE)

20/12/2021 06h00

Desentendimento entre vizinhos é algo até comum em alguns bairros. Um som alto, um lixo no local inadequado e pronto, um gatilho para uma desavença está formado. Mas no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, moradores estão bem afinados e em harmonia. Recentemente, a população local se uniu em prol de uma árvore que foi vítima de "tentativa de assassinato". A espécie, que fica em uma calçada, apareceu com um ferimento chamado anelamento, que poderia levá-la à morte não fosse o olhar atento das pessoas da área.

Uma pessoa viu a árvore ferida e postou nas redes sociais. A repercussão chegou até a Amab (Associação de Moradores e Amigos de Botafogo). Segundo Regina Chiaradia, presidente da entidade, a primeira reação foi procurar um especialista conhecido.

"Mandei a foto para um amigo e disse que foi uma agressão criminosa, porque quem fez sabia que mataria a árvore. Até hoje a gente não sabe quem foi", disse.

José dos Guimaraens, arquiteto e paisagista, foi acionado pela Amab. A Ecoa, ele explicou que a agressão se chama anelamento porque é retirada a casca da árvore fazendo um anel em volta do tronco, o que afasta uma parte da outra e corta a circulação da seiva.

"Se faz isso, a seiva não circula e árvore morre em meses. O sistema funciona como o nosso sangue, que circula pelo corpo. Assim como nosso sangue, a seiva precisa circular pela árvore toda. Se isso é interrompido, ela morre", ressaltou.

A árvore apareceu com um ferimento chamado anelamento, que poderia levá-la à morte não fosse o olhar atento das pessoas da região - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A árvore apareceu com um ferimento chamado anelamento, que poderia levá-la à morte não fosse o olhar atento das pessoas da região
Imagem: Arquivo pessoal

O paisagista fez um curativo no tronco e disse à população que seria preciso regar o local diariamente por pelo menos 30 dias, na tentativa de salvá-la. A orientação foi aceita de imediato pelos moradores, que se organizaram para cumprir a missão.

"Faço parte de um grupo que cuida e planta árvores no Rio e a gente já fez esse tipo de curativo em várias árvores. Lá em Botafogo mesmo, já fiz isso em duas há uns dois anos e elas estão bem. Usei barro vermelho, pegajoso, e coloquei um tecido. Mas o curativo precisa ser molhado diariamente. E as pessoas do entorno estão mobilizados para salvar a árvore", continuou.

José acredita que a árvore pode estar atrapalhando de alguma forma a vida do agressor. Ele avalia que a espécie, Coroupita guianensis (abricó de macaco), não é adequada para calçadas.

"Mas isso não dá direito a um cidadão de atentar contra a árvore, que tem um papel importante no meio ambiente, com a purificação do ar etc. Se uma árvore está ameaçando imóveis ou pessoas de alguma forma, a prefeitura da cidade é quem deve ser acionada", destacou.

Clemente Coelho Junior, do Instituto de Ciências Biológicas da UPE (Universidade de Pernambuco), também teve acesso às imagens e avaliou que o curativo faz todo sentido. O especialista destacou que, quando a casca é retirada, pode-se comprometer o tecido que fica um pouco abaixo dessa casca, que os biólogos chamam de epiderme. É lá que passam os vasos condutores da seiva e por onde circulam os nutrientes para a árvores.

"Então, quando você corta e faz um círculo em volta, retirando o córtex da árvore, você está retirando o transporte dos nutrientes para a árvore, e ela morre. Algumas espécies têm alguma capacidade de cicatrização. Se tem um pedacinho que ficou ainda vivo, a chance é boa de se recuperar", esclareceu.

"Além de perder esses vasos, ela fica exposta à penetração de fungos, o que pode levar a árvore a desenvolver doenças", acrescentou.

Pelas imagens, o especialista pôde avaliar que a estratégia dará certo porque o ferimento parece ser superficial. Mas adianta que tudo depende da distribuição dos feixes. "Se os feixes forem mais profundos a árvore se cura e ficará a cicatriz. Seria bom o uso de um fungicida para protegê-la de doenças", disse.

A advogada Renata Karvaly mora no bairro e soube do problema por uma amiga que tem uma página de assuntos ambientais nas redes sociais. A amiga lhe telefonou e pediu sua ajuda para a rega. "Eu vi que muita gente está indo também. O assunto tomou uma grande proporção e muita gente se mobilizou para cuidar desse curativo", disse.