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Mesmo sem saber ler, mulher abre escola que ajuda crianças na Paraíba

A Casa Escolinha da Dona Boneca já existe há quase sete anos - Arquivo pessoal
A Casa Escolinha da Dona Boneca já existe há quase sete anos Imagem: Arquivo pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, do Recife (PE)

21/12/2021 06h00

A infância foi tão difícil que a Adeilda da Silva, 48 anos, nem gosta de contar. As dificuldades que enfrentou nesse período deixaram marcas e a impediram de ser alfabetizada. Em 2017, Tia Boneca, como é conhecida no bairro de Mangabeira, em João Pessoa (PB), descobriu um tumor no cérebro e fez uma promessa: ajudar crianças da comunidade se obtivesse mais tempo de vida. E deu certo. A Casa Escolinha da Dona Boneca atualmente oferece reforço escolar e alimentação para 68 crianças da comunidade Tiago Neres.

Adeilda viu nisso a oportunidade de participar da construção do intelecto desses pequenos cidadãos. Com idades entre 5 e 13 anos, os alunos estão matriculados no ensino regular e vão até a escolinha para terem aulas reforço.

A Casa Escolinha da Dona Boneca começou a funcionar há quase sete anos. Na época, atendia cerca de 25 crianças, com brincadeiras e alimentação básica. Hoje, 68 crianças frequentam a pequena instituição, que já oferece aulas de reforço dadas por professores voluntários.

"Eles são de famílias carentes. Muitos vêm só pela alimentação. A maioria vem pela manhã, faz o reforço, almoça e vai para a escola regular, ou vem à tarde", dia Tia Boneca a Ecoa.

"O trabalho é voltado para minhas crianças, mas temos espaço à noite para adultos. É uma turma do EJA (Educação de Jovens e Adultos). Tem uma professora da rede pública que vem dar aulas para eles", continuou.

Tia Boneca ainda trata o tumor que foi descoberto na cabeça. Ela lembra que os médicos previram sobrevida de apenas quatro meses. "Mas eu entreguei a Deus. Comecei a tratar e trato até hoje. E graças a Deus já vamos em oito anos de luta", disse.

Retomada

Com a chegada da pandemia do novo coronavírus e as medidas de prevenção e controle da doença, a escola precisou suspender as atividades, assim como as demais unidades de ensino do país. Um ano depois, todos comemoraram a retomadas das aulas.

Hoje, 68 crianças frequentam a pequena instituição, que oferece aulas de reforço e alimentação - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Hoje, 68 crianças frequentam a pequena instituição, que oferece aulas de reforço e alimentação
Imagem: Arquivo pessoal

"A gente tem aula de reforço e tem crianças que ainda não estão na escola e passam o dia todo. Tomam café da manhã, banho, almoçam. Não cobro um centavo. Tudo isso só possível por causa das doações que recebo", explicou.

Marinete Braz tem um filho que frequenta a escola da tia Boneca. Ela avalia o trabalho do espaço como importante para a comunidade. "As crianças mantêm as cabeças ocupadas", disse.

"Ela ainda faz almoço nas quartas-feiras e entrega na comunidade. E tem sopão nas sextas e nas segundas-feiras. É um trabalho que ajuda também os pais das crianças, e espero que cresça cada vez mais. É muito importante que essa escola resista porque é onde a gente acha apoio", ressaltou.

Além dos professores, outros profissionais engrossam o quadro de voluntários. O corretor de seguros Igor Elias está entre eles. Igor conheceu o projeto em abril de 2020, quando estava distribuído cestas básicas na comunidade vizinha. Uma amiga o apresentou a tia Boneca, sua escolinha de reforço e suas crianças.

"Me apaixonei pelo que ela faz e passei a admirá-la, pois tudo o que arrecada divide com a comunidade. Encabecei uma vaquinha para construir a casa dela. Passamos um ano e quatro meses construindo e, após isso, conseguimos tirá-la do barraco onde vivia. Hoje ela mora em uma casa de verdade, digna e de muito amor. Foi uma das ações minhas que mais me encantou", contou.

Igor participa dos trabalhos captando doações de pessoas e empresas. Tudo é entregue a Tia Boneca, que distribui pela comunidade.

"É um prazer fazer o bem. É um prazer sempre estar presente lá. Aprendo bastante o significado da simplicidade, humildade e de sempre estender a mão para ajudar quem precisa", destacou o voluntário.