Dilma Souza Campos: do Castelo Rá-Tim-Bum a empreendedora e CEO
Dilma Souza Campos tem uma trajetória profissional fora do comum. Antes de se tornar fundadora e CEO da Outra Praia, boutique de criatividade estratégica na área da comunicação que faturou mais de R$ 6,9 milhões em 2019, iniciou sua carreira como bailarina e atriz. Ela interpretava uma das Patativas, dupla de passarinhas que habitavam o ninho de joão-de-barro, instalado no galho da árvore da cobra Celeste, no programa infantil Castelo Rá-Tim-Bum, da TV Cultura.
Foi participando de aberturas de shows e convenções de vendas, entre outros trabalhos, que a sua paixão por eventos foi despertada. Depois de atuar em grandes agências brasileiras nas áreas de direção artística, direção de produção e planejamento, decidiu fundar a própria companhia focada em live marketing e experiência com marcas.
A equipe pensa desde a comunicação interna das empresas até a comunicação com os próprios consumidores ou diretamente com os clientes, o chamado negócios para negócios (B2B), com um viés de diversidade e inclusão. O nome, acrescenta ela, vem da vontade de querer ser diferente, de querer ser "outra praia", uma praia bonita, onde tem sol e onde sempre tem mar, quando se falava muito pouco sobre diversidade.
"Aqui é uma praia diferente, aqui a gente realmente quer emocionar as pessoas. Quando a gente toca pela emoção, seja numa ativação de marca, numa experiência, num evento, numa convenção de vendas, ou simplesmente um brinde de final de ano, isso é muito legal", comemora. Não à toa, Dilma levou em outubro o Troféu Garra do Galo na categoria Diversidade e Inclusão na 20ª edição do Prêmio Contribuição Profissional da Associação dos Profissionais de Propaganda. A premiação homenageia profissionais que promovem e realizam ações que valorizam as atividades do mercado da comunicação e que ao longo dos últimos anos tenham apresentado ideias inovadoras para o setor.
Para chegar até aqui, conta Dilma, muito se deve ao seu talento para a dança. Vivendo em uma família de esportistas em São Paulo, mas sem habilidade para atividades com bola, ela foi matriculada ainda criança em uma escola de balé. "Acabaram me colocando na dança como uma opção de fazer exercício físico, mas nunca pensei em ter essa experiência assim, de ser artista, de sonhar e falar 'ah, eu quero estar na TV'", diz.
Tudo foi acontecendo por causa da dança. A dança me abriu portões, não foram nem portas, inesperados. A dança me trouxe o que eu faço hoje com a Outra Praia. Se não fosse a dança eu não estaria aqui.
Foi depois da experiência com apresentações em eventos corporativos que ela começou a aprender sobre os bastidores de construção de marcas, estratégias de marketing e organização de eventos. Essa vivência da dança também preparou Dilma para as apresentações de trabalho e até as palestras para incentivar outras mulheres empreendedoras que ela faria futuramente. "Ela me trouxe pontualidade, objetivo, a vontade de se conquistar aquele passo que parecia impossível, mas que repetido milhares de vezes ficava próximo a ser perfeito. É isso o que eu busco na minha vida. Eu vivo ainda dançando, procurando a cada dia entregar um resultado melhor para as pessoas."
Como se o já extenso currículo não bastasse, Dilma também estudou odontologia — ela é especialista em periodontia. Para fazer a faculdade, foi preciso também fazer muitos eventos de dança para pagar tudo o que ela precisava —material, transporte, alimentação e uma parte da mensalidade. "As coisas acontecem na nossa vida e a gente tem a oportunidade de pegá-las ou não, e eu nunca deixei passar uma oportunidade de estudo", diz.
Mais tarde, fez o primeiro MBA em gestão e gerenciamento de projetos na FGV. Daqui seis meses, termina o segundo MBA, em estudos e tendências do futuro na ESPM. "Aquela primeira carreira, que parecia meio sem sentido a princípio, para mim faz todo sentido. Ela significa toda essa diversidade de espaços ocupados, de olhares de carreiras completamente separadas, que fazem eu ser o que sou hoje."
Empreendendo com o próprio dinheiro
Quando decidiu ser empreendedora, em dezembro de 2012, vindo de grandes agências em que atuava como diretora de produção e artística, Dilma tinha noção de que ali era o seu trabalho que teria de aparecer. E enfrentou muitos desafios como mulher negra nesse mercado. "O racismo estrutural no Brasil é muito silencioso e, por isso, nem sempre é percebido."
Ela recorda a ocasião de uma reunião em que a recepcionista não a atendeu esperando chegar o CEO da Outra Praia: "Quando eu, uma mulher preta, era justamente a CEO da Outra Praia". "Desde eventos assim, como entender que existem grandes marcas e a gente demorou três anos para conseguir fazer um cadastramento da Outra Praia, porque batia numa porta —'ah, não, não é aqui'— e assim sucessivamente. E nós ali, perseguindo aquele caminho, lutando porque sabemos da qualidade que entregamos aos nossos fornecedores."
Em um cenário de economia instável, carga tributária alta e muitas incertezas, Dilma precisou se arriscar a colocar dinheiro do próprio bolso no novo negócio. "Eu não tive nesse início ajuda de qualquer projeto de incentivo, de fomento ao empreendedorismo para mulheres pretas ou simplesmente de empreendedorismo aqui no Brasil."
'É possível uma mulher preta ser CEO'
Recentemente, ela atuou como mentora do reality do Multishow "O Plano É Esse", em que acompanhou a trajetória de cinco empreendedores com seus pequenos negócios. Ela é, ainda, conselheira da AMPRO (Associação de Marketing Promocional), Winning Women 2016 da EY, influenciadora e mentora da Rede Mulher Empreendedora (RME), facilitadora do programa do Google Women Will - Cresça com o Google, colunista no Portal Promoview e TED Speaker.
Outra de suas conquistas atuais é a participação na obra coletiva "Publicidade Antirracista: reflexões, caminhos e desafios", finalista na categoria Economia Criativa para o Prêmio Jabuti, como autora do capítulo "Desafios e caminhos estratégicos para a expressão da igualdade racial na publicidade", tema vivido por ela desse o início de sua carreira.
"Se há uma mensagem que eu posso deixar como CEO é que, sim, é possível para uma mulher preta ser CEO de uma empresa e trabalhar com grandes empresas. É possível sim."
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