Doação anônima vai financiar bolsas estudantis por mais de 10 anos nos EUA
Após meses sem ir até a City College of New York lecionar pessoalmente, devido à pandemia da covid-19, o professor Vinod Menon, 49, jamais poderia imaginar o que o aguardava junto à pilha de correspondências do Departamento de Física. Ao chegar à sala, no campus do Harlem, Menon se deparou com uma caixa de papelão discreta, apesar de pesada, do tamanho de uma torradeira, cuja postagem para ele, o chefe do setor, havia sido feita nove meses antes. Depois de inspecionar a encomenda e abri-la, veio a surpresa: o pacote estava cheio de dinheiro. Somadas, notas de US$ 50 e US$ 100 totalizavam US$ 180 mil em espécie, o equivalente a mais de R$ 1 milhão.
O valor, segundo o professor, será suficiente para financiar pelo menos duas bolsas integrais de estudo na instituição a cada ano por mais de uma década, um tipo de ajuda que segue o intuito de quem enviou a encomenda. Menon relata que o doador, apesar de secreto, anexou uma carta ao pacote, explicando que o dinheiro deveria ser destinado a ajudar estudantes de baixa renda, matriculados na área de Física e Matemática.
A motivação era simples. De acordo com a carta, o doador também foi um aluno da City College, onde aproveitou "a excelente oportunidade educacional" de cursar um bacharelado e um mestrado em Física. Isso o teria levado a uma carreira científica "longa, produtiva e imensamente gratificante".
Impacto além do valor
A ação surpreendeu a todos na universidade, contou Menon. "Foi um choque total. Conheço muitos acadêmicos e nunca ouvi falar de nada parecido", disse o professor, em entrevista ao The New York Times. Ele recordou que a instituição já recebeu outras doações de egressos, mas nunca dessa maneira. Desde o ano fiscal iniciado em julho passado, por exemplo, foram arrecadados US$ 17,2 milhões em fundos.
Mesmo assim, reforçou o professor, a iniciativa do doador secreto chamou atenção mais por indicar o potencial do Departamento de Física do que pelo valor depositado na caixa. "É uma prova do que o Departamento de Física tem fornecido todos esses anos", definiu.
Fundada em 1847, a City College tem em sua história três ex-alunos do Departamento de Física vencedores do Prêmio Nobel. A instituição também recebeu, em 1921, uma das primeiras palestras do cientista Albert Einstein nos Estados Unidos.
Hoje, a taxa de matrícula na instituição é de US$ 7,5 mil por ano.
Para Menon, o impacto da doação está justamente na possibilidade de oferecer educação de qualidade a um corpo de estudantes diverso, composto por muitos imigrantes. Em meio a esses casos, há alunos cujos pais não tiveram acesso ao ensino superior ou que nunca estiveram em um laboratório.
O próprio chefe do Departamento de Física foi um estudante imigrante. Deixou a Índia em 1996 e, apesar de ter lecionado em outras instituições, como Princeton e no Massachusetts Institute of Technology (MIT), disse ter escolhido permanecer na City College devido a esse compromisso educacional da casa. "O fator de impacto do ensino aqui é muito maior. É um lugar onde você pode elevar alguém", afirmou ele ao The New York Times.
Tentativa de rastreio
Apesar da surpresa causada pela doação, a direção da City College não aceitou o dinheiro de imediato. Foi necessária uma investigação para tentar descobrir a origem da doação. As autoridades federais foram chamadas para verificar se as notas eram oriundas de alguma atividade criminosa e o dinheiro foi mantido em um cofre.
Depois de um mês, os agentes federais chegaram à conclusão de que os dados trazidos na parte do remetente do pacote eram falsos. O nome indicado, Kyle Paisley, não fazia parte da relação de ex-alunos da City College. Além disso, o endereço assinado, que seria de uma casa em Pensacola, no estado da Flórida, também não levava a ninguém relacionado à doação. Os funcionários do serviço de postagem também não conseguiram o vídeo do envio da caixa.
A descoberta, no entanto, de que o dinheiro havia sido retirado de bancos em Maryland nos últimos anos e não estava ligado a operações criminosas levou o conselho de curadores da instituição a votar, em dezembro, pelo uso da doação. Eles cogitam, inclusive, colocar a caixa em uma vitrine, como o presente mais generoso já recebido. As bolsas custeadas pela doação devem estar disponíveis para os novos alunos a partir deste ano.
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