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Com reforma de casas, voluntários transformam vida de 4 mil pessoas no RN

Voluntários da Reforamar trabalhando em obra - Divulgação
Voluntários da Reforamar trabalhando em obra Imagem: Divulgação

Pâmela Carbonari

Colaboração para Ecoa, de Florianópolis (SC)

18/01/2022 06h00

Quem vê a engenheira Fernanda Silmara à frente da Reforamar, ONG que reforma casas no Rio Grande do Norte para que mais pessoas possam viver em moradias dignas, não imagina que ela mesma já sonhou em viver em uma casa menos precária.

A missão de transformar vidas reformando lares só existe porque Fernanda sentia que a casa onde cresceu no bairro do Alecrim, em Natal, não era um lar. O imóvel de taipa e tijolo branco tinha piso de cimento e seu teto era repleto de goteiras, que muitas vezes a obrigavam a dormir no chão para se esquivar da água que entrava nos dias de chuva. Ainda criança, Fernanda parou de convidar pessoas para visitar sua casa depois de uma amiga dizer que o local cheirava mal. Anos depois, com o que ganhava como bolsista do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, um tio a ajudou a fazer melhorias na casa.

O impacto dessas mudanças foi tão poderoso que Fernanda decidiu cursar engenharia civil. Foi na faculdade que a Reforamar nasceu, para que mais pessoas pudessem sentir a revolução que a obra causou em sua vida. A primeira ação aconteceu em 2018 com a ajuda de quatro amigos. Hoje, três anos depois, a ONG tem sede própria, já fez 20 ações e impactou mais de 4 mil pessoas que não tinham condições de arcar com os custos de uma reforma.

Fernanda Silmara, da Reforamar - Divulgação - Divulgação
Fernanda Silmara, da Reforamar
Imagem: Divulgação

Qualquer um pode se inscrever ou indicar casas ou instituições que precisem de reparos - basta preencher um formulário, contar a história do local e compartilhar fotos da construção no site da Reforamar. Depois de uma triagem interna, a equipe de engenharia da organização analisa o imóvel presencialmente e dá início ao financiamento coletivo nas redes sociais para custear a obra. Além da colaboração monetária de doadores e empresas parceiras, a ONG também recebe materiais de construção, itens de decoração, eletrodomésticos e conta com o apoio de centenas de voluntários para colocar a mão na massa.

"Nós ensinamos os voluntários a fazerem demolição, reboco, pintura e outros serviços gerais. Mas algumas etapas mais específicas, como colocar cerâmica ou instalação de telhado, por exemplo, são coisas mais complexas. Então contratamos mão de obra especializada do pessoal do bairro, porque isso acaba impactando positivamente o entorno da obra", disse Fernanda. Ela explica que trabalham com ações de diferentes portes, desde pequenos reparos até grandes reconstruções em que toda a estrutura do imóvel precisa ser refeita.

"Casa da Superação"

Em 2019, havia no país mais de 5,1 milhões de domicílios em condições precárias, de acordo com um levantamento do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE). Uma dessas residências pertencia a Raimunda Pires, moradora do bairro natalense Dix-Sept Rosado. Aos 66 anos, ela já tinha passado por dois tratamentos contra câncer e convivia com sequelas deixadas pela doença, além de outros problemas crônicos, como hipertensão, doença renal e diabetes. A casa onde a aposentada vive pertencia ao falecido marido e há anos não passava por reparos.

"A casa estava muito feia, cheia de rachaduras, infiltrações, o telhado tinha muitas goteiras, o madeiramento estava podre, infestado de cupins. Tinha buracos nas paredes, principalmente na fachada e a fiação era velha. Tudo nela me incomodava. Tinha um cheiro desagradável. Sentia muito medo de que caísse quando estivesse chovendo ou ventando forte", explicou Francisca das Chagas Pires, que vive com a mãe Raimunda. Foi ela quem indicou a casa para participar da seleção da Reforamar.

"A Fernanda nos fez uma visita para analisar a casa e disse que entraria em contato caso fosse selecionada. Depois de um tempo, ela ligou para marcar outra visita e perguntou se podia tirar fotos e nos fazer mais algumas perguntas. No dia, ela nos surpreendeu contando que na verdade nós já tínhamos sido selecionadas", complementou.

A equipe da Reforamar encontrou a moradia bastante comprometida e a apelidou carinhosamente de "casa da superação". Não bastassem os sérios problemas estruturais citados por Francisca, os cômodos eram separados por vários degraus, o que dificultava o acesso de Raimunda, e a parte elétrica do imóvel estava completamente exposta, o que aumentava o risco de incêndio.

Ao longo de dois meses, toda a fachada foi demolida, assim como as paredes que apresentavam fissuras. O piso foi nivelado e coberto com cerâmica, o telhado foi substituído, a parte elétrica e hidráulica foram trocadas e a casa foi adequadamente saneada. Durante a reforma, mãe e filha tiveram que morar na casa de uma prima, porque a ONG queria surpreendê-las com o resultado final.

"Estou maravilhada. Está tudo quebrado, mas eu sei que em breve minha casa vai estar linda e segura. O medo que eu estava era de começar o inverno desse jeito e ela desabar, não ia aguentar. Agora estou feliz, meu coração está cheio de ansiedade", disse Raimunda em um dos vídeos feitos pela Reforamar enquanto a obra estava acontecendo.

A reforma foi entregue em setembro do ano passado e, além de móveis e eletrodomésticos novos, as casas de outras duas filhas de Raimunda que ficam no mesmo terreno também foram melhoradas.

"Eu amei cada detalhe! Agora temos uma casa digna, segura e bonita. Podemos dormir tranquilas e não temos mais vergonha de receber visitas. Me sinto mais segura, confortável e feliz. Sou grata a Deus por ter colocado estes anjos em nossas vidas", afirmou Francisca sobre a obra.

A Reforamar | ONG de Reforma
Pix: reforamar@gmail.com
Para mais informações, acesse a página do Instagram @reforamar_/