Professor retoma encanto por ensinar em filme que disputa lugar no Oscar
Lunana. População: 56. Altitude: 4.800 m. O vilarejo mais remoto e isolado do Butão só pode ser acessado após oito horas de caminhada montanha acima saindo da cidade mais próxima, Gasa. No filme "A Felicidade das Pequenas Coisas", é para lá que o governo envia um jovem professor desmotivado, que quer abandonar o ensino e se tornar um cantor famoso na Austrália.
Ugyen Dorji (Sherhab Dorji) deixa sua cidade natal a contragosto e vai para Lunana cumprir a tarefa de ensinar as crianças da comunidade durante um ano letivo, até o início do inverno. O distanciamento inicial do professor é desarmado pela receptividade e pela reverência dos habitantes, entre eles os pequenos que anseiam pelas aulas.
A estreia na direção do butanês Pawo Choyning Dorji chamou a atenção de distribuidores internacionais e integra a pré-lista do Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional. No Brasil, o longa foi lançado ontem (27) nos cinemas.
"Com esse filme, tentei contar o que está acontecendo no meu país atualmente. O Butão é conhecido como o país mais feliz do mundo, mas muitos dos nossos jovens estão deixando o país para buscar a felicidade em outro lugar, majoritariamente no Ocidente", disse o diretor a Ecoa. Dorji também queria mostrar ao mundo a singularidade do pequeno reino himalaio e sua rica tradição narrativa.
Em Lunana, o professor Ugyen quase dá meia volta e abandona seu dever ao se deparar com a falta de conforto e de condições para dar aulas. Mas logo se envolve com as crianças e a vida no povoado, abrindo-se para sua beleza, sabedoria e calor humano, e decide ficar.
A partir daí, ele não mede esforços para realizar seu trabalho da melhor forma possível: constrói um quadro negro, pede que enviem materiais da cidade, canta músicas e, quando falta papel para as crianças escreverem, tira o que impede a entrada do vento frio nas janelas de seu quarto para dar a elas.
Uma curiosidade é que Lunana não possui abastecimento de energia elétrica e a equipe precisou utilizar baterias carregadas com energia solar para gravar.
'Aquele que toca o futuro'
O respeito e a confiança que os habitantes de Lunana têm na educação fazem com que Ugyen enxergue seu trabalho de outra forma. Na comunidade, corre o ditado de que o professor deve ser respeitado porque é "aquele que pode tocar o futuro".
A Ecoa, o diretor Pawo Choyning Dorji explicou a origem da frase: sempre enviado à sala da direção da escola quando menino, leu certa vez a frase "eu sou professor, eu toco o futuro" num quadro enquanto aguardava o encontro com a diretora, e nunca mais esqueceu.
"Ugyen poderia ter sido um médico ou alguém que foi medir os lagos glaciais de Lunana, mas decidi fazer dele um professor porque a maioria dos jovens deixando sua profissão para migrar do Butão são professores. Eu queria enviar uma mensagem a eles, dizendo que eles têm essa responsabilidade sagrada e que o que buscam pode estar bem aqui", disse.
No filme, o mestre não só ensina como também aprende. Saldon, jovem que possui o título de melhor cantora da aldeia, mostra a ele uma linda canção tradicional que ele se dedica a aprender. Situações cotidianas vão desvelando os conhecimentos ancestrais dos moradores, e o professor se abre para tradições que antes ignorava ou rejeitava.
Um dia, Saldon presenteia Ugyen com um iaque, bovino da Ásia que tem grande importância para a vida em Lunana. O animal, chamado Norbu, passa a viver pacificamente dentro da sala de aula, parecendo simbolizar a harmonia entre o mundo representado pela escola e por Ugyen, da instrução e da modernidade, e o modo de vida milenar dos habitantes do lugar.
País mais feliz do mundo
Mencionada pelo diretor, a fama de "país mais feliz do mundo" não é apenas propaganda. Desde os anos 1970, a Felicidade Interna Bruta (alusão ao PIB, Produto Interno Bruto) é o princípio que norteia as políticas do governo do Butão, com foco no bem-estar coletivo de seus cidadãos. O conceito tem como pilares o desenvolvimento sustentável, a conservação ambiental e a promoção e preservação da cultura.
"Tudo que fazemos é para nos deixar felizes, estamos buscando a felicidade. Sendo um país budista, estamos muito baseados no nosso bem-estar", disse Pawo Choyning Dorji.
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