Eventos climáticos extremos estão mais frequentes; o que isso significa?
Nos últimos meses, fortes chuvas resultaram em enchentes que devastaram municípios do Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil, enquanto os termômetros na região Sul bateram mais de 40ºC. Como especialistas e organizações que estudam clima vêm alertando, esses eventos climáticos extremos estão se tornando cada dia mais frequentes.
O termo "novo normal", muito usado para descrever a vida após o começo da pandemia de covid-19, foi usado pela diretora executiva adjunta do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Joyce Msuya, para dizer que situações como as que assistimos em 2021 e agora em 2022 se tornarão a nova realidade daqui em diante.
O que são eventos climáticos extremos?
Apesar de a literatura científica não definir de apenas uma forma os eventos climáticos extremos, como explica a divulgadora científica e doutoranda em Climatologia pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Karina Lima, esses eventos podem ser descritos como algo que foge do que é considerado mais provável de acontecer.
"Temos observações de longo prazo e sabemos, por exemplo, a média do que é esperado para uma região, assim como o intervalo de variação que é comum em torno dessa média. Um evento fora desse intervalo, ou seja, mais raro e mais severo, pode ser considerado um extremo", diz, relembrando que esses eventos passam a ser considerados extremos também por causa do grande potencial destrutivo que possuem e de seus impactos negativos no dia a dia da população.
Como esses eventos podem afetar as nossas vidas?
2021 foi considerado por especialistas e organizações como o ano que abriu as portas para a era dos eventos climáticos extremos. Observando o noticiário e as redes sociais não fica difícil entender o motivo. As consequências estiveram por toda a parte.
As recentes chuvas do começo deste ano ainda estão frescas na memória. Segundo a Defesa Civil, foram 27 mortos atingidos pelas chuvas na Bahia. No final de janeiro, ao menos 15 pessoas perderam a vida após deslizamento de terra em Franco da Rocha (SP).
"Sem dúvida há inúmeros impactos possíveis sobre as vidas humanas, e também sobre a de animais domesticados e silvestres", explica o cientista de Clima e professor da UECE (Universidade Estadual do Ceará) Alexandre Araújo Costa.
"Além disso, podemos ter prejuízos econômicos e impactos sociais e sobre a saúde. Grandes alagamentos podem afetar o sistema de tratamento de água, inviabilizando o fornecimento de água tratada, por exemplo".
Já as ondas de calor intenso, como as que atingiram recentemente o Sul do país, podem afetar a saúde humana provocando casos de hipertermia e desidratação intensa — e até mesmo levando a óbito. O cientista lembra que isso ocorreu na Índia em 2015, quando cerca de duas mil pessoas morreram por causa das altas temperaturas.
Qual relação das mudanças climáticas com esses eventos?
Como contam os especialistas ouvidos por Ecoa, eventos climáticos extremos, na verdade, sempre existiram. "Mas é importante frisar que, ao longo da História, a nossa relação com os extremos mudou. Nós passamos a ser capazes de lidar cada vez melhor com isso, protegendo as pessoas de seus efeitos. No entanto, eu diria que hoje nós estamos passando por um ponto de inflexão nesse aspecto", diz Alexandre.
O cientista explica que, no decorrer do tempo, os seres humanos e suas ações na Terra mudaram o clima e, consequentemente, tudo mudou. Nossas emissões de gases de efeito estufa transformaram a atmosfera do planeta, deixando-a mais aquecida, ou seja, provocando o famoso aquecimento global.
"Uma atmosfera aquecida se comporta de maneira diferente. Primeiro, ela se transforma em um reservatório maior de vapor d'água, porque quanto mais quente estiver, mais vapor ela é capaz de conter. E isso tem uma dupla implicação: de um lado, torna a atmosfera capaz de produzir taxas de evaporação maiores, o que agrava as secas e favorece ondas de calor e incêndios, por exemplo; do outro, uma atmosfera mais quente é capaz de produzir sistemas precipitantes com mais água, produzindo tempestades mais severas, furacões mais intensos, chuvas mais concentradas?"
Alexandre Araújo Costa, cientista de Clima e professor da UECE
Produzido por 234 especialistas de 65 países, o último relatório do IPCC (o Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU), principal estudo sobre o clima, pela primeira vez associou o aumento desses eventos extremos com as mudanças climáticas.
"Quanto mais aquecermos o planeta, maiores as probabilidades de ocorrência e as tendências relacionadas a eventos extremos vão se tornando cada vez piores. Eventos extremos, junto a vulnerabilidades locais, são a receita para desastres", diz a cientista Karina Lima.
Por isso, para os especialistas, torna-se cada vez mais fundamental falar sobre o assunto — e não só quando esses eventos extremos ocorrem, mas cotidianamente para que soluções sejam encontradas. Eles apontam ainda que é necessário que os governos invistam mais na adaptação das cidades e na prevenção de desastres. Além de, claro, diminuir as emissões que poluem a atmosfera da Terra, freando, assim, o aquecimento do planeta.
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