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Não quer cair em fake news? Aprender sobre mídias ajuda a reduzir riscos

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Imagem: iStock

Giacomo Vicenzo

Colaboração para Ecoa, em São Paulo (SP)

15/02/2022 06h00

Com smartphones, tablets, computadores e televisão, as pessoas estão tendo contato cada vez mais cedo — e mais frequente — com diversas fontes de informação e entretenimento.

No entanto, mesmo com o acesso quase ilimitado por quem tem internet, o país não vai bem na separação entre o que é real e o que é falso em termos de informação. A maior parte dos brasileiros (62%) não sabe identificar ou não tem certeza se consegue diferenciar fake news de uma notícia real, segundo apontou uma pesquisa com países latino-americanos feita pela Kaspersky, empresa global de cibersegurança.

Na era do deepfake — tecnologia que permite criar vídeos falsos, mas extremamente realistas — e dos robôs que disparam fake news pelo WhatsApp e outras redes sociais, há muitas armadilhas feitas para confundir as pessoas sobre o que é real.

Mas qual a importância da educação midiática nesse cenário? Como ela pode ajudar na interpretação crítica de informações e na manutenção da democracia? Para responder a essas e outras perguntas, Ecoa conversou com pesquisadores, advogados e outros estudiosos sobre o tema.

O que é educação midiática?

Mídia engloba todos os canais de comunicação a que temos acesso, seja de forma impressa, digital, na televisão ou nos celulares. Por meio desses e de outros dispositivos recebemos informações, que podem ser verdadeiras ou não. O papel da educação midiática está no desenvolvimento de habilidades críticas, que nos ajudam a identificar a qualidade e veracidade desses conteúdos.

"A educação midiática é um conjunto de habilidades que mostra como analisar as informações, refletir sobre elas e criar um ambiente informacional rico, crítico e ético em todos os meios. Tem a ver com reflexão e responsabilidade dentro do contexto informacional", explica Sílvia Piva, pesquisadora do IEA (Instituto de Estudos Avançados) da USP, onde estuda as relações com a mídia.

Entre os questionamentos que esse tipo de educação orienta a fazer estão: "Sobre o que esse material está falando? Quem o produziu? É um conteúdo pago? Vem de uma guerra de narrativas? Quer me convencer a comprar algo? Qual é o objetivo dessa mensagem?"

Qual a importância da educação midiática?

Para Piva, a educação midiática é essencial para entender as informações criticamente e também evitar disseminar fake news. "Essa educação se coloca de uma forma ampla, como um direito humano, que transforma pessoas em agentes fortalecedores do ambiente democrático, contribuindo positivamente para a sociedade e para um debate produtivo sobre as informações", explica.

"Um cidadão que recebe uma educação midiática entende o valor da liberdade de expressão, da pluralidade de opiniões, da transparência, tolerância e das liberdades individuais na sua forma de se expressar", completa.

Com a conexão à internet mais constante, o fluxo de informações aumenta - e, de acordo com Piva, a nossa relação com o que recebemos também fica mais intensa. "Construir o conhecimento ficou mais complexo. Na época das mídias de massa, o emissor da informação estava concentrado e os receptores não podiam se manifestar imediatamente. Agora, esse paradigma é totalmente alterado e a informação que era de um para muitos passa a ser de muitos para muitos", comenta.

Toda essa avalanche de conteúdos produzidos em rede, por sua vez, muitas vezes é recebida sem qualquer filtro. "Não há um curador da interpretação, não há intermediários direcionando o que é real ou o que é fake news. Tudo isso pode trazer um paradoxo: ao mesmo tempo em que se pode ser mais crítico ao que se recebe, também é possível estar mais vulnerável", completa a pesquisadora.

Ela lembra, ainda, que os conteúdos falsos muitas vezes dialogam com algo em que acreditamos ou gostaríamos de acreditar, o que pode tornar mais difícil resistir a eles.

É por tudo isso que a falta da educação midiática pode comprometer a percepção do que é real, acredita Lúcia Helena Galvão, filósofa e professora da Nova Acrópole, organização internacional filosófica sem fins lucrativos.

"Quando sofremos pelas sequelas da covid-19, às vezes ficamos muitos dias sem que se restitua o paladar e o olfato. Deixamos de ter contato com uma dimensão da realidade, pois perdemos a sensibilidade. Imaginemos o que deve ser a perda da sensibilidade diante de ideias entre seres que se classificam como Homo sapiens. De repente, tornamo-nos receptores passivos que engolem sem saborear tudo aquilo que nos é oferecido", compara.

O que pode e está sendo feito para assegurar a educação midiática?

Para Fabrício Polido, advogado que atua na área de direito digital do escritório LO Baptista, dificilmente haverá uma lei específica que discipline sobre o assunto e estabeleça parâmetros para a implementação de uma educação midiática no país por si só. Ele lembra, porém, que já há bons exemplos e recomendações internacionais.

"Em uma escala internacional, organizações mundiais já abordam esse tema em artigos próprios. A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) já se pronunciou sobre a importância da educação midiática e do letramento digital. Assim como a ONU. A tendência é que isso se torne cada vez mais relevante e se torne foco de novas políticas", explica.

O professor Luís Landeira, doutor em educação pela USP, lembra que o ensino é parte da BNCC (Base Nacional Comum Curricular): "Não podemos pensar no aluno dissociado da era digital em que vivemos. Os meios de comunicação são instrumentos e não fins em si mesmo, por isso é muito adequado desenvolver nos estudantes a competência de usá-los adequada e eticamente."

Mas essa formação, para ele, deve ir para além da escola. "Pais e responsáveis também devem cuidar do desenvolvimento da educação midiática. Isso não significa, necessariamente, colocar o filho numa escola de computação, mas aprender a usar instrumental e eticamente esses meios digitais", completa.

Entre as boas iniciativas no Brasil, Piva aponta para projetos como o Instituto Palavra Aberta e o Educamídia, que difundem a educação midiática e lançaram um guia para educadores.

Para a pesquisadora, entre as referências mundiais de educação midiática está a Finlândia, que começou a investir nisso a partir de 2014, época em que houve um aumento das fake news relacionadas à anexação da Crimeia pela Rússia. "A inclusão da educação midiática como parte do currículo elevou o patamar crítico do país", explica.