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Após ação contra covid, projeto faz mutirão cirúrgico na Amazônia

ONG já realizou 64 mil atendimentos, 8886 cirurgias e 102 mil exames e procedimentos - Divulgação
ONG já realizou 64 mil atendimentos, 8886 cirurgias e 102 mil exames e procedimentos Imagem: Divulgação

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió (AL)

21/02/2022 06h00

A Associação Expedicionários da Saúde é conhecida pelos seus serviços de medicina especializada, mas precisou mudar de foco em 2020, quando a covid-19 aportou no Brasil. Criada em 2003 por médicos voluntários, a entidade deixou de lado as cirurgias feitas em um centro móvel para montar enfermarias e levar assistência aos povos indígenas da Amazônia.

Passados dois anos da chegada do novo coronavírus, a ONG vai voltar a realizar um grande mutirão de cirurgias e exames, em abril. Com a redução nos casos de covid entre os povos indígenas, o grupo dá apoios pontuais. Um deles é o envio emergencial de alimentação adequada para a população Yanomami.

"Ela está sofrendo com o surto de malária e a nova onda de covid. Mas todo o trabalho ostensivo aconteceu mesmo nos dois anos passados, quando montamos as enfermarias de campanha na Amazônia, o Hospital de Campanha de Campinas e doamos as máscaras de mergulho para oxigenioterapia em pacientes internados", afirma Marcelo Moraes, coordenador de comunicação da associação.

Nos dois anos da pandemia, os expedicionários tiveram uma atuação em 17 estados. "Desenvolvemos um modelo de enfermaria de campanha para fornecer oxigênio em 300 localidades na Amazônia, evitando que pacientes indígenas tivessem que se deslocar até os centros urbanos", conta.

Segundo a entidade, todas as ações realizadas na Missão Covid-19 foram custeadas com recursos próprios, provenientes de parcerias e doações e sem qualquer tipo de repasse financeiro governamental. A atuação contra a covid-19 foi expressiva até ano passado, com 262 enfermarias de campanha que agora ficaram para as comunidades.

Foco agora em cirurgias

Expedicionários - Divulgação - Divulgação
Enfermaria montada para o povo Munduruku, na região do Tapajós, no Pará, atende comunidades isoladas
Imagem: Divulgação

Durante esse período, a ONG fugiu do seu habitual, que é levar um centro cirúrgico móvel para comunidades isoladas. "Agora estamos focados nas expedições cirúrgicas, que são o nosso carro-chefe — mas sempre de olho na evolução das novas ondas de covid-19 para atuar se for preciso", diz Moraes.

Por conta da pandemia, a expedição foi adiada duas vezes. Agora ela já tem data para ocorrer: de 15 a 23 de abril. O local selecionado foi o território da Raposa Serra do Sol, em Roraima. "Além da demanda cirúrgica daquele local, o índice de vacinação lá atingiu um número seguro para que nós possamos entrar", assegura.

O objetivo do grupo é realizar cerca de 350 cirurgias, além de 3.500 consultas em diversas especialidades médicas, 5.000 exames e procedimentos laboratoriais e doar mais de 500 óculos. Segundo ele, há uma demanda cirúrgica reprimida por causa da pandemia, os pacientes que serão operados já foram triados previamente.

Moraes conta que, graças ao avanço da vacinação entre populações indígenas e profissionais da saúde, em setembro e novembro de 2021, a ONG já pôde realizar duas expedições de pequeno porte, que resultaram na inauguração do CMI (Centro Médico Indígena), construído no Alto Rio Negro (AM) próximo à fronteira com a Colômbia. "Foi o primeiro centro cirúrgico fixo da associação e trata-se de um projeto piloto para uma possível expansão na Amazônia", completa Moraes.

64 mil atendidos

Para atuar nessas ações, a ONG conta com apoio da Sesai, do Exército, da FAB (Força Aérea Brasileira) e da Funai (Fundação Nacional do Índio). "Naturalmente o acesso à saúde especializada é mais difícil para esses indígenas. Quando precisam de um atendimento com especialista, precisam se deslocar para as grandes cidades e muitos deixam de receber diagnóstico e tratamento, pois não podem deixar suas famílias nem o trabalho."

Desde 2003, a ONG já atuou em uma área de 500 mil km², realizou 46 expedições, 64 mil atendimentos, 8886 cirurgias, 102 mil exames e procedimentos e doou 5.076 óculos.

Marcelo cita as hérnias como algo muito comum entre os povos indígenas. Segundo ele, muitas vezes são provocadas pelo esforço do trabalho pesado. As cataratas são ainda mais comuns em regiões equatoriais e surgem precocemente nos pacientes indígenas. "Também ocorrem justamente por conta do trabalho na floresta. É uma cirurgia relativamente simples, mas com um resultado fantástico, por ser a principal causa de cegueira reversível do planeta", diz.