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Comunidade em SP será a primeira da América Latina com energia 100% solar

Novidade deve colocar fim aos riscos de acidentes provocados por ligações clandestinas de energia elétrica e gerar economia de 95% - Victor Natureza
Novidade deve colocar fim aos riscos de acidentes provocados por ligações clandestinas de energia elétrica e gerar economia de 95% Imagem: Victor Natureza

Antoniele Luciano

Colaboração para Ecoa, de Curitiba (PR)

13/03/2022 06h00

Moradores de uma comunidade de São José do Rio Preto, no interior paulista, estão contando os dias para começar a usar energia elétrica gerada por placas solares. A localidade, conhecida como Favela Marte, foi contemplada por um projeto encabeçado pela organização não governamental Gerando Falcões e deve ser a primeira comunidade com energia 100% solar na América Latina.

"As pessoas estão impactadas pela possibilidade de ter uma conta de energia menor no fim do mês. Recebemos o projeto com muita felicidade por saber que é um trabalho que nos contempla e não agride a natureza", comenta o líder comunitário Benvindo Neri Pereira, de 56 anos.

A comunidade tem 240 famílias — aproximadamente 700 pessoas, a maioria mulheres. A novidade deve pôr fim aos riscos de acidentes provocados por ligações clandestinas de energia elétrica e gerar uma economia de 95% do custo mensal atual com eletricidade de cada família, estima a Gerando Falcões.

No Brasil, a energia solar corresponde a apenas 1,7% da oferta de eletricidade atual, aponta o Balanço Energético de 2021 da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME). A fonte hidráulica ainda é responsável pela maior fatia, com 65% da oferta interna. Para 2030, a expectativa do MME é que 5% do total de eletricidade gerada seja de fonte solar.

Habitação, infraestrutura e capacitação

A Favela Marte, de São José do Rio Preto - Victor Natureza - Victor Natureza
A Favela Marte, de São José do Rio Preto
Imagem: Victor Natureza

Prevista para ocorrer a partir do segundo semestre deste ano, a instalação das placas faz parte de um projeto mais amplo, o Favela 3D (Digital, Digna e Desenvolvida). A ação envolve uma parceria entre a iniciativa privada, o poder público e o terceiro setor, movimentando, ao todo, R$ 58 milhões. Além dos painéis fotovoltaicos — mais de mil a serem instalados até 2023 —, a comunidade terá a área ocupada regularizada junto à Prefeitura e deve receber água tratada, rede de esgoto, asfalto, iluminação pública e novas moradias. As unidades de alvenaria terão 47 metros quadrados e vão substituir os barracos de madeira em que a população vive.

Paralelamente a isso, devem ocorrer ainda outras intervenções urbanas, como a instalação de equipamentos públicos, que também terão energia solar, área de lazer com acesso à internet, e capacitação para geração de renda entre os moradores.

Um dos cursos técnicos previstos envolve justamente a instalação dos painéis solares que acompanharão as novas casas. A ideia é que os moradores possam usar os conhecimentos sobre os equipamentos como mais uma forma de ingressar ou se manter no mercado de trabalho. "Isso gerou bastante interesse, movimentou nosso povo. É um projeto inovador, que vai construir nossa vida a partir da educação e capacitação", avalia Pereira, morador da comunidade há cinco anos.

Mudança social

A diretora de Tecnologias Sociais da Gerando Falcões, Nina Rentel, salienta que a intenção é levar as ações do Favela 3D para outras comunidades no futuro. Ela explica que o trabalho na Favela Marte teve início em 2021, com um diagnóstico das necessidades dos moradores. A escolha da comunidade para ser piloto da iniciativa se deve à atuação prévia de parceiros da ONG no local.

No momento, o desenho urbanístico do projeto está em fase de finalização. "O acesso à energia solar que eles terão é o mesmo que qualquer outra família teria. Isso vai ajudar a diminuir os problemas com 'gato', a oferecer uma energia de qualidade, com segurança. Esperamos que essa inovação contribua para novas formas de erradicar a pobreza no Brasil", define Nina.

Tiago Soares, gerente de Sustentabilidade do Banco BV, um dos parceiros do projeto, assinala que as intervenções relacionadas à energia solar vão além da questão ambiental, já que podem proporcionar mudanças sociais. "Existe uma parte muito importante que é apoiar as famílias na profissão de instalador de placas solares. É uma profissão com demanda, que cresce exponencialmente, uma oportunidade para eles", observa.