Jovem volta a ouvir depois de implante conseguido por colegas de firma
Foram sete anos de uma surdez que começou aos 11 anos e se tornou definitiva aos 15. A estudante de direito Ester Garcia, 22 anos, teve que adequar sua vida à nova realidade e conviver com a deficiência até bem recentemente. É que colegas da firma de advocacia onde atua em Belo Horizonte (MG), sensibilizados, uniram-se para buscar uma solução. O esforço culminou em um procedimento de implante coclear, que devolveu a audição à jovem. O momento do teste de eficácia do dispositivo foi registrado em vídeo e viralizou nas redes sociais ao mostrar a emoção da jovem em perceber os sons novamente.
A Ecoa, Ester contou que os primeiros sinais da deficiência começaram aos 11 anos sem um motivo conhecido. Ela foi perdendo a audição aos poucos e continuamente. Aos 15 anos, teve um salto de piora. "Naquele ano, fui de perda moderada para profunda em menos de seis meses. Não ouvia mais minha voz, nem das pessoas ao redor", relembrou.A jovem foi obrigada a mudar hábitos e aprender nova linguagem para poder se comunicar. Isso tudo aliado aos obstáculos enfrentados na escola e na convivência social.
"No colégio, foi uma das fases mais difíceis. Perdi amigos, fui alvo de bullying. Não entendia o que professores falavam. Tive suporte de duas amigas: Thais e Stepahnny, que repetiam o que os professores falavam, respondiam até a chamada para mim. Não ouvia nem quando chamavam meu nome. Tive momentos em que os professores gritavam — como se fosse adiantar", disse.
A fase aproximou Ester de outros professores, mais empáticos e preparados, que se preocuparam e tiveram a paciência e o compromisso em ajudá-la.
Essa foi também uma época de muitos exames e buscas por dispositivos que resolvessem a perda da audição. "Tentei os aparelhos auditivos, mas não me adaptei. E agora com o IC (implante coclear), acredito que vai dar certo. É um dia de cada vez, uma luta diária. Precisa ter paciência e disposição. Mas estou confiante", contou.
Desafios no trabalho
Quando entrou no estágio de direito, Ester percebeu que era novidade para todos trabalhar com uma pessoa que não ouve. No entanto, ressalta, ficou encantada com o esforço e a dedicação de todos em aprender a lidar com aquela situação e tornar o ambiente acessível.
Segundo a estudante, a maior dificuldade foi ter que deixar a Libras (Língua Brasileira de Sinais) um pouco de lado e aprender a linguagem jurídica. "Inicialmente, foi complicado para as pessoas entenderem o porquê de eu ter dificuldade em algo que parecia 'simples e fácil' para eles. Ganhei um dicionário jurídico de uma advogada que trabalha no escritório, Anna Luiza. Andava com ele para cima e para baixo, me ajudou muito. Também deixei a timidez de lado e comecei a perguntar o significado de palavras que não conhecia. Com paciência e muito carinho, me ensinavam", contou.
Decididos a ajudar
Foram os colegas desse escritório que a ajudaram a ter a audição restabelecida e proporcionaram o momento registrado no vídeo. "Naquela hora, senti que nada poderia me parar. Desde a ativação, me sinto mais confiante para falar, interagir e viver", comemorou.
Já no primeiro contato com Ester, um dos sócios da empresa de advocacia percebeu a condição da jovem e a convidou para iniciar o estágio. A Ecoa, Rafael Lacerda, 46 anos, sócio fundador da Lacerda Diniz Sena Advogados, explicou que, no início da pandemia da Covid-19, o escritório participou de uma campanha da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) que tinha como finalidade arrecadar computadores para os alunos carentes da instituição poderem assistir às aulas.
"Quando fomos efetivar uma das doações, nos deparamos com a Ester. Vimos que, além da situação econômica e familiar difícil, ela ainda apresentava uma deficiência auditiva que tornava tudo ainda mais desafiador. Imediatamente, após ter ciência da situação, chamei-a ao escritório e a convidei para iniciar um estágio conosco", relembrou ele.
O advogado explicou que, poucos dias após a universitária dar início ao estágio, um colega mencionou que o pai dele era otorrinolaringologista em Belo Horizonte, e que poderia atender a jovem a obter um diagnóstico. Após consultas e exames diversos — alguns via SUS e outros bancados pelo escritório —, veio a notícia de que seria possível tentar fazer um implante coclear.
De acordo com o gestor, a empresa participa de várias ações sociais, e exercita a inclusão social no seu quadro de funcionários. "Participamos de um lindo projeto chamado 'Mano Down' e temos um rapaz com Síndrome de Down aqui. Todas essas atitudes são escolhas. Escolhas em tentar fazer algo pelo próximo, o que no final da história acaba sendo um benefício para nós mesmos, como seres humanos, como cidadãos e como profissionais. Não pararemos por aqui e ainda faremos muito mais", concluiu.
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