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Bicho na pista: Empresa trabalha para reduzir atropelamento de animais

A ViaFAUNA é uma empresa que promove o resgate de animais nas rodovias brasileiras - ViaFAUNA/Divulgação
A ViaFAUNA é uma empresa que promove o resgate de animais nas rodovias brasileiras Imagem: ViaFAUNA/Divulgação

Paula Rodrigues

De Ecoa, em São Paulo (SP)

17/03/2022 06h00

Certa vez, um ouriço baleado literalmente cruzou o caminho da paulistana Fernanda Abra. Ela passeava pelo Amazonas quando viu, pela janela do táxi-lotação em que estava, o bicho tentando atravessar uma rodovia federal. Não pensou duas vezes: pediu para o motorista parar o carro, dizendo que ficaria ali mesmo, porque precisava ajudar o animal.

Dito e feito. Desceu com mala e cuia e com o namorado. Ele começou a tocar o animal com um graveto para que retornasse ao mato, enquanto Fernanda parava o trânsito inteiro da rodovia para que o ouriço pudesse passar em paz.

"Geralmente as pessoas não gostam de viajar comigo", diz rindo. "Porque de fato, né? Eu sempre paro tudo se vejo algum animal, ajudo a atravessar, para o tráfego, tiro da rua cobra, jabuti."

Até hoje, seja durante as férias ou em dias de trabalho, a vida de Fernanda é toda dedicada a pensar estratégias para salvar a vida de animais do atropelamento em rodovias e aeroportos. Em 2014, juntou-se à amiga e doutora em ecologia Paula Prist para criar a ViaFAUNA, empresa de consultoria ambiental especializada em serviços de fauna e meio ambiente.

Anos antes de fundar a empresa, Fernanda cursava biologia quando conseguiu um estágio no escritório regional do Ibama de Bauru, que naquela época trabalhava com licenciamento ambiental de uma rodovia. Ela, por sua vez, foi designada a trabalhar com o banco de dados dos atropelamentos do local. Foi esse seu primeiro contato com a realidade desse problema.

Fernanda Abra e Paula Prist, fundadoras da ViaFAUNA - Divulgação - Divulgação
Fernanda Abra e Paula Prist, fundadoras da ViaFAUNA
Imagem: Divulgação

"Eu não tinha ideia que os bichos morriam em grandes números nas rodovias. Realmente, fiquei muito chocada com isso. E aí surgiu o interesse de entender melhor sobre esses atropelamentos, mas principalmente em pensar como poderia ajudar a reduzir esse impacto negativo", conta. Desde então, nas teses de conclusão de curso, de doutorado e mestrado, ela se debruçou sobre o tema em busca do que fazer para evitar esses atropelamentos.

Após finalizar o mestrado, em julho de 2014, foi contratada por uma empresa de engenharia para coordenar programas de fauna de um novo empreendimento rodoviário. E foi aí que a ViaFAUNA nasceu. Ou melhor, precisou nascer.

Para receber pelos serviços prestados, Fernanda precisava de uma conta jurídica. Juntou o útil ao agradável: em um jantar com Paula Prist, decidiram que essa seria a oportunidade para abrirem uma empresa de consultoria de fauna que também atenderia a demanda de gerar nota fiscal.

"A gente tinha uma ideia de que se a gente fosse prestar serviços de consultoria de fauna, seriam serviços inovadores para trabalhar com manejo de fauna em empreendimento de transporte. A ViaFAUNA, então, trabalha com rodovias, ferrovias e aeroportos", conta Fernanda.

Dentre os serviços prestados pela empresa hoje estão monitoramentos dos atropelamentos, análise de dados de fauna atropelada, elaboração de planos de mitigação - esses os preferidos de Fernanda, porque assim consegue "dar recomendações técnicas para de fato reduzir essas mortes" -, análise de paisagem, planos de manejo, resgate da fauna e serviços especializados para ferrovias e aeroportos.

ViaFAUNA - ViaFAUNA/Divulgação - ViaFAUNA/Divulgação
Entre os serviços prestados, estão monitoramentos dos atropelamentos, análise de dados e elaboração de planos de mitigação
Imagem: ViaFAUNA/Divulgação

Fernanda explica que os trabalhos realizados pela ViaFAUNA possuem dois intuitos: a segurança humana no trânsito e a conservação animal. No primeiro caso, ela se refere aos acidentes de trânsito causados por bichos vivos ou mortos na via, enquanto o segundo diz respeito ao cuidado para que cada vez menos bicho morra atropelado ao tentar atravessar alguma rodovia.

Segundo dados do Centro Brasileiro de Ecologia de Estradas, cerca 475 milhões de animais silvestres são atropelados e mortos em rodovias brasileiras por ano.

Construções de caminhos alternativos em cima ou embaixo dessas estradas para animais de diferentes espécies têm se apresentado como uma solução que ajuda a reduzir consideravelmente essas tragédias.

Uma pesquisa da USP (Universidade de São Paulo), conduzida por Fernanda, mostra que é possível evitar até 70% desses atropelamentos. "O problema é que o Brasil é um país de dimensões continentais, mas implementar essas medidas em mais lugares salvaria muitas pessoas e muitos bichos. E eu sou otimista. Acredito que daqui uns 10 anos o Brasil estará entre os países tropicais que mais se adaptaram para mitigar os atropelamentos".