"O futebol pode nos ajudar a enfrentar as desigualdades", diz Preto Zezé
O clima de Copa do Mundo ganhou força na tarde de ontem (30) em Heliópolis. O campinho de várzea da maior favela da cidade de São Paulo virou arena com gramado sintético verdinho com estrelas do futebol e se transformou no palco que apresentou a bola que será usada no mundial do Catar, em novembro.
Crianças com bola no pé jogavam de futmesa, camisas de times a tiracolo à espera de um autógrafo. Moradores acompanhavam atentos de cima de árvores a movimentação dos ex-jogadores Dunga, Zé Roberto e Lúcio. Mas foi a chegada de Adriano Imperador que provocou gritos e uma corrida de quem estava por ali em direção ao palco, instalado em um dos cantos do campo — ainda em reforma, com estreia prevista para 30 de abril.
A ação é parceria entre Adidas e a Central Única das Favelas (Cufa), não só para o lançamento da bola oficial da Copa do Mundo, como também para a reforma da quadra de Heliópolis e realização de uma série de eventos esportivos.
"O começo dessa parceria vem a partir dessa reforma da quadra, mas a ideia é que a gente esteja presente daqui para a frente no dia a dia da comunidade. Heliópolis é muito relevante dentro de São Paulo e sabemos a importância que o esporte tem aqui", diz Daniela Valsani, diretora de marketing da gigante esportiva.
Com manutenção da própria Adidas, o espaço pretende ser um espaço para eventos esportivos e ficará disponível para uso gratuito da comunidade. Heliópolis possui 122 times de várzea, entre equipes infantis, femininas e masculinas. A programação da arena está fechada até o fim do ano e deve receber influenciadores e jogadores patrocinados pela empresa, campeonatos e mais.
"É de extrema importância ter um ambiente como esse reformado, isso deixa uma esperança de se realizar sonhos de muitos aqui que querem se tornar jogadores de futebol, isso alimenta o sonho da comunidade e a gente fica feliz em poder ajudar", comentou Lúcio, ex-zagueiro pentacampeão com a seleção brasileira em 2002.
O início de uma jornada
"Você sabe o que significa Al Rihla?", perguntou um repórter ao ex-jogador Zé Roberto em referência ao nome da bola da Copa. Aos risos, ele respondeu que não e ficou nitidamente emocionado ao ouvir a resposta de outro integrante da imprensa durante a coletiva. Al Rihla, em árabe, quer dizer "a jornada".
"Jornada fala de fases e eu estou em um ambiente parecido com o que eu iniciei a minha própria jornada, eu comecei na periferia", contou. A realidade de Zé Roberto é a da maioria dos jogadores do futebol brasileiro. Neymar, Gabriel Jesus, Lucas Paquetá, Vinicius Júnior, isso só para citar algumas das figurinhas carimbadas na seleção do técnico Tite. Todos vieram de lugares semelhantes a Heliópolis.
Eu também vim de comunidade, todos sabem, e isso aqui é uma oportunidade de abrir as portas para a criançada poder mostrar seu potencial. Eu fico feliz de ver a comunidade feliz. São tantas crianças e tantos jovens que têm um sonho de jogar futebol e um projeto como esse deixa o sonho mais perto.
Adriano, ex-jogador de futebol
Zé Roberto lembrou ainda de uma vistia que fez ao campinho anos atrás e ficou chocado com a reforma do lugar. "Eu vim aqui fazer uma avaliação de jogadores quando parei de jogar no Palmeiras e era tudo terrão. E é legal a gente destacar isso que o terrão virou um cenário moderno e de oportunidades", disse.
É importante esse olhar que a Adidas tem para a favela, eles olham para a favela como potência.
Preto Zezé, presidente global da Cufa
"Decidimos que essa seria a Copa do Mundo da inclusão, e não há ninguém melhor que a Cufa para nos ajudar a transformar isso em realidade", comenta Valsani. A Adidas é responsável pela confecção das bolas da Copa do Mundo há 52 anos.
Após a inauguração da arena, a parceria dará início a um campeaonato entre comunidades de todo o Brasil que terá como prêmio a ida do time vencedor à Copa do Mundo do Catar.
Um sonho realizado
No palco montado na Arena Heliópolis, Marcivan Barreto se emocionou. O presidente da Cufa São Paulo não conteve as lágrimas e contou com o apoio de centenas de pessoas que gritavam seu nome na plateia. "Você saiu para vencer por nós", uma das vozes dizia.
Enquanto lembrava o tempo que passou no sistema prisional e a oportunidade e apoio que a Central Única das Favelas deu a ele para sua ressocialização, Barreto frisava que naquele momento realizava um sonho. "Isso aqui é um sonho de mais de 20 anos. Hoje, coordeno 525 favelas do estado, e isso aqui é a minha quebrada. Depois de vários anos privado de liberdade, a Cufa me resgatou", disse.
"Quero mostrar que há, sim, salvação, que há resgate, o trabalho aqui não é só por Heliópolis. Isso vai repercutir em todo o Brasil e os jovens precisam disso. O esporte salva vidas", completou Barreto.
Também no palco, ao lado da jornalista Glenda Kozlowski, que apresentava o evento, estava o Preto Zezé, presidente da Cufa. "Para nós, esse evento é importante para que o olhar para com Heliópolis seja para além das páginas policiais. Uma empresa multinacional se relacionando com a multinacional das favelas é dizer para o Brasil, nesse momento tão difícil, que a gente precisa encontrar pontos em comum mesmo com nossas diferenças", afirmou.
Nesse momento, o Brasil e o mundo precisam de pontos em comum para o enfrentamento das desigualdades, das injustiças sociais, e que o futebol seja esse nosso ponto em comum, nossa porta de entrada. O que estamos produzindo aqui é uma mensagem para o mundo. É possível uma grande empresa e uma central de favelas enfrentar as desigualdades. Vida longa a nossa parceria
Preto Zezé, presidente global da Cufa
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