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Como separar seu lixo em 4 passos para o descarte correto de recicláveis

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Mariana Queiroz

Colaboração para Ecoa, de São Paulo (SP)

06/04/2022 06h00

Não é novidade que o lixo que geramos é um dos grandes vilões da natureza, especialmente os plásticos de uso único, ou seja, itens que consumimos uma só vez e descartamos. No mundo ideal, a produção e uso do plástico deveriam ser reduzidas drasticamente.

A reciclagem não só dos plásticos como de outros materiais recicláveis se faz necessária para reduzir o altíssimo impacto ambiental e na saúde. Cada um e cada um de nós pode contribuir positivamente, separando e descartando corretamente os resíduos recicláveis.

Para saber como fazer essa separação e descarte corretamente, Ecoa conversou com a catadora Anne Carolina, que usa seu perfil no Instagram, @annecatadora, para conscientizar e educar sobre reciclagem e a realidade dos catadores.

A nossa sociedade sofre ainda de uma falta de consciência coletiva sobre a importância da reciclagem, da responsabilidade sobre o próprio consumo e sobre todos os aspectos da sustentabilidade. Precisamos começar pelo começo e o começo deve ser como um mantra: Separar reciclável e orgânico.

Anne Caroline, catadora

Afinal, como separar e descartar corretamente o lixo reciclável? Veja as dicas práticas abaixo.

1. Separe o que é orgânico do que é reciclável

A separação é simples e não há a necessidade de separar os resíduos por tipo. Plásticos, papéis, vidros e metais podem ser descartados juntos. É só não misturar com resíduos orgânicos e pronto! Como há uma infinidade de tipos do mesmo resíduo, isso pode dificultar ainda mais para as pessoas na hora da separação. Ninguém mais indicado e dotado desse conhecimento do que o próprio catador. Cabe aos profissionais da cadeia de reciclagem fazerem a triagem do resíduo que é útil e descartarem o que não for.

Alguns materiais como eletrônicos, pilhas e baterias, óleo, medicamentos, espelhos, lâmpadas, entulho e gesso não são recicláveis e devem ser destinados a pontos de coleta específicos.

2. Cuidado especial com resíduos perfurocortantes

É comum que vidros, seringas, agulhas e qualquer outro resíduo que possa causar ferimento sejam embrulhados e, às vezes, sinalizados com a escrita "vidro quebrado", por exemplo. No entanto, Anne alerta que esse método não é nada seguro e nem inclusivo.

O mais adequado é cortar uma garrafa pet ao meio, colocar o resíduo, encaixar novamente a garrafa e selar com fita adesiva. Dessa maneira, não só fica garantida a segurança do coletor, que consegue ver através da garrafa o que está ali dentro, como também significa a inclusão de profissionais que não sabem ler e poderiam se machucar.

3. Higienize os materiais antes do descarte

A importância de separar o orgânico do reciclável já é bastante conhecida pela sociedade, embora ainda não seja totalmente praticada. Ainda assim, um ponto de extrema necessidade que é ignorado é a higienização do material antes do descarte. Além de ser um ato de respeito e empatia com as pessoas que os manuseiam, a limpeza é a garantia que aqueles materiais estão preparados para a reciclagem. Resíduos descartados sujos tornam-se impróprios para a reciclagem devido à contaminação por orgânicos. Após coletados, os materiais passam por uma triagem e depois uma lavagem de descontaminação. Somente resíduos aptos para a reciclagem passam por ela, o que significa que se o resíduo for descartado sujo, nem chega nessa etapa.

Tão ou mais importante que a lavagem dos materiais é a secagem. A umidade atrai vetores causadores de doenças, como ratos, baratas e moscas, o que pode ser perigoso tanto para a saúde de quem descarta e mais ainda para a de quem coleta.

4. Dê o destino correto

Para Anne, não existe uma única maneira correta de descarte e isso é ótimo, porque dá opções para diferentes perfis de pessoas: coleta seletiva das prefeituras, ecopontos, projetos sociais, Cataki e vários outros. Saiba como funcionam os principais deles:

Coleta seletiva da prefeitura

É a maneira mais simples de todas, embora ainda haja locais em que o caminhão não passe. Para ter o lixo coletado pelo caminhão da prefeitura da sua cidade, basta separar o lixo orgânico do reciclável e conhecer os dias e horários de cada coleta. Essa informação você consegue no site da prefeitura da sua cidade.

Ecopontos

Ao contrário do que muitos pensam, os Ecopontos não são pontos exclusivos para coleta seletiva. Os Ecopontos são locais que recebem pequenos volumes (até 1 m³) de resíduos como entulhos, móveis, podas de árvores e também materiais recicláveis. Alguns materiais como lixo eletrônico, lixo domiciliar, eletrônicos, pilhas e baterias, óleo, medicamentos, espelhos, lâmpadas, gesso e pneus não são aceitos.

Para saber onde fica o Ecoponto mais próximo de você, consulte o site da prefeitura da sua cidade.

Cataki e catadores

O Cataki é um aplicativo que conecta catadores, como a Anne Carolina, a pessoas que querem fazer descarte. O intuito é dar visibilidade e ajudar na valorização destes profissionais, de importância inestimável, mas que ainda são vistos de maneira marginalizada, preconceituosa e são bastante marginalizados tanto pela sociedade quanto pelo poder público.

Ser catadora não mudou a minha vida, mas mudou a minha percepção sobre ela. Muito do ser humano que eu sou e que trabalho pra ser, vem da experiência de ter que lidar com o trabalho na rua e com a recepção da sociedade para com ele.

Anne Carolina, catadora

Catadores são prestadores de serviços

Anne Carolina trabalha como catadora de recicláveis - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Anne Carolina trabalha como catadora de recicláveis
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Não existe doação de resíduos. É preciso desmistificar o pensamento de que catadores precisam de doações. O que os catadores precisam é que sejam reconhecidos como profissionais, que cobram pelo serviço de coleta e vendem o material coletado. Anne conta que diariamente é procurada por pessoas que querem doar seus resíduos e acham um absurdo quando recebem um orçamento para a retirada desses materiais.

Recicle e lucre

Uma outra alternativa, ainda não muito acessível para pessoas físicas, são startups como Coleta Money, Molécoola e Gaia GreenTech, que funcionam como programas de pontuação ou cashback de acordo com a quantidade de resíduos recicláveis recolhidos. São ótimas alternativas para condomínios.

É fácil fazer a sua parte!

O lixo é uma questão política, econômica, ambiental e social. São pequenas atitudes, no dia a dia que fazem a diferença. Compartilhe essa matéria com os amigos para potencializar seu impacto positivo e ajudar na educação, conscientização e, principalmente, na separação e descarte corretos de recicláveis. Juntos fazemos ainda mais diferença.

Impacto em números

De acordo com um relatório do WWF, são aproximadamente 10 milhões de toneladas de plásticos lançados nos oceanos anualmente. O Brasil tem forte contribuição para esta realidade, já que, segundo dados do Banco Mundial, é o 4º maior produtor de plástico do mundo, com 11.3 milhões de toneladas. Desse montante, cerca de 91% foram coletados corretamente, mas 145 mil toneladas, equivalente a apenas 1,28%, são reciclados. A média global de reciclagem plástica é de 9%, bem acima do número brasileiro. Triste realidade.

Microplástico no sangue humano

O impacto no meio ambiente é velho conhecido, assim como imagens de animais contendo plástico e outros lixos em seus sistemas digestivos ou presos em seus corpos. A novidade é que, pela primeira vez, microplásticos foram detectados no sangue humano, segundo estudo realizado em universidade de Amsterdã, financiado pela Organização Holandesa para a Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde e pela ONG Common Seas, publicado na Environment Internacional.

Mudando a realidade

Toda ação, por menor que seja, é importante para a mudança desta realidade. Por isso, a separação do lixo doméstico e o descarte correto são fundamentais. É clichê, mas é real: se cada um fizer sua parte, juntando todos, é muita coisa.