Você conhece os diferentes métodos de ensino das escolas brasileiras?
A palavra "aula" provavelmente remete à clássica cena de um professor explicando algum conteúdo em frente a uma turma de alunos enfileirados que absorvem tudo em silêncio. Isso de fato pode descrever como funciona uma aula expositiva em um método tradicional de ensino. Mas, embora seja a mais comum, essa não é a única forma de passar conhecimento nas escolas brasileiras.
Os métodos de ensino empregados no nosso sistema educacional carregam características específicas que podem torná-los significativamente diferentes uns dos outros. A escolha da metodologia irá determinar o direcionamento de professores, materiais e até infraestrutura dos centros de ensino.
Mas como elas funcionam? Existiria um método melhor para todos os alunos? A escolha correta resolveria o problema do desempenho escolar no país? Ecoa ouviu especialistas para responder essas e outras questões sobre o assunto.
O que são métodos de ensino?
A professora Evelise Portilho, coordenadora do curso de pós-graduação em Psicopedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), explica que métodos de ensino são diferentes de ferramentas de ensino, como aplicativos e a lousa, elementos periféricos em uma sala de aula, sejam eles tecnológicos ou não.
Ela pontua que é preciso estabelecer bem esta diferenciação porque, em razão da pandemia e do uso de ferramentas digitais, houve uma confusão quanto ao que seria uma metodologia de ensino. "A metodologia é o processo todo do fazer em sala de aula", define, destacando que isso envolve toda a composição do ensino — desde o plano de aula do professor até a forma como ele solicita as tarefas aos alunos e os avalia.
De acordo com a professora, os métodos estão divididos hoje entre ensino tradicional e interacionista. Nesta última, a aprendizagem ocorre a partir da interação entre o aluno e o que deve ser aprendido. Já na proposta tradicional, a aprendizagem é passiva, com o ensino centrado na figura do professor.
A aula expositiva é a mais usada no método tradicional, mas não se restringe a ele. "O ensino tradicional é quando apenas o professor fala. Mas é possível existir aula expositiva com muita interação com os alunos" salienta Evelise Portilho.
A professora Verônica Branco, do Departamento de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), observa que, no caso do método tradicional, essa concepção remonta ao surgimento da ideia de ensinar, que começou na Grécia Antiga e envolvia pequenos grupos orientados por filósofos. Depois, "o ensinar" passou a ser dominado pelos religiosos em mosteiros. "Eles precisavam aprender as escrituras e latim. O método era para decorar, o da transmissão", relata.
Hoje, pontua ela, ainda existem muitas escolas com práticas que reforçam esse tipo de metodologia. É o caso da cópia, do ditado e da disposição de carteiras enfileiradas.
Quais são os métodos interacionistas?
Os métodos construtivista, sociointeracionista, Waldorf e Montessori seguem a perspectiva interacionista. O princípio das duas primeiras é de que ninguém aprende sozinho.
"Jean Piaget traz a ideia de que não é o ensino que resulta em aprendizagem. Para aprender, o sujeito precisa interagir com o objeto de conhecimento, com companheiros", assinala a professora Verônica sobre o método construtivista. Nesse modelo, o professor é um facilitador entre o que o aluno sabe e o que virá a aprender. O aluno é estimulado a construir um novo conhecimento a cada dia.
No método sociointeracionista, proposto pelo russo Lev Vygostky, a interação com o outro e o ambiente ao redor é primordial. O professor também é um mediador nesse processo. A escola Waldorf, por sua vez, trabalha com a valorização do desenvolvimento de habilidades cognitivas por meio do contato com a natureza e diferentes experiências manuais, como artes e culinária. Os alunos são divididos por idades, de 7 em 7 anos, e a alfabetização acontece após a pré-escola, comenta a professora Verônica.
Ela acrescenta que a metodologia da italiana Maria Montessori, que deu origem à escola Montessoriana, enfatiza o desenvolvimento da autonomia dos estudantes desde os primeiros anos escolares. Para isso, crianças podem trabalhar no chão, têm à sua disposição mobiliário de acordo com o tamanho delas e oportunidades diárias de fazer as próprias escolhas sobre os materiais que gostariam na aula. "Nos anos 1930, Montessori já tinha criado seu próprio método e materiais para desenvolver a coordenação motora final, acuidade auditiva. Hoje, as escolas não são mais como as daquela época, mas o material básico desenvolvido ainda existe", diz Verônica.
No entanto, a professora Evelise Portilho avalia que, embora haja uma série de possibilidades interacionistas, isso nem sempre é uma realidade na prática pedagógica. "O que temos encontrado são projetos pedagógicos falando muito nessas perspectivas, mas na verdade acontecendo muito pouco nas escolas. Está muito mais na teoria que na prática. Existem práticas bacanas acontecendo, mas são poucas", observa.
Quais são as barreiras para a aplicação dos métodos interacionistas?
As barreiras para colocar esses métodos em prática estão ligadas à falta de formação continuada dos professores, analisa a professora da UFPR. "Precisamos muito de professores melhor acompanhados. O docente sai da universidade, faz alguns estágios, mas quando entra numa escola, por melhor que seja a formação dele, encontra uma realidade dentre milhões. Precisaria ser acompanhado para entender melhor quem é a comunidade dele", afirma ela, ao acrescentar que outro problema relacionado são as equipes pedagógicas cada vez mais reduzidas. "Às vezes, essas equipes acabam fazendo cargo de direção e não sobra tempo para o pedagógico".
Existe um método de ensino ideal para todos?
Para a professora Evelise, cada pessoa aprende de uma maneira. Por isso, não existe um método de ensino que seja bom para todo mundo, de maneira uniforme.
Ainda assim, ressalta Verônica, métodos interacionistas auxiliam mais no desenvolvimento das crianças ao estimulá-las a tomar atitudes e a interagir e respeitar seus companheiros de turma. "Elas vão assumindo a autonomia — não são atraídas pela tarefa porque são obrigadas, mas porque sabem para que serve aquilo. Já no modelo tradicional, a criança é sempre dependente do que o adulto manda fazer", diz.
Como fazer a escolha pelo método de ensino, então?
Essa decisão precisa considerar a realidade de cada escola e sua comunidade, da estrutura física à quantidade de alunos. Além de atender esses pontos, é preciso investimento na formação dos professores, reforça Evelise. "A escolha do método não resolve sozinha a questão da educação. Você pode ter uma boa proposta, os projetos podem ser lindos, mas se não tiver quem aplique, não adianta", enfatiza.
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