Startup faz absorvente sem plástico e gera renda para mulheres periféricas
Foi de uma conversa sobre pobreza menstrual entre quatro mulheres da periferia que a EcoCiclo nasceu. Karla, Patrícia, Hellen e Adriele, futuras sócias na empreitada, participavam então do Programa ProLíder, voltado à formação de lideranças, quando pensaram em uma solução para o problema: produzir absorventes biodegradáveis a um preço acessível no Brasil.
"Tivemos a sorte de o universo colocar a gente no mesmo lugar, de nos conhecer e ter esse alinhamento de metas, do que a gente quer ser e fazer na vida", disse a Ecoa a cofundadora da EcoCiclo Karla Godoy.
Desde aquela primeira conversa ocorrida em 2018, a EcoCiclo desenvolveu um absorvente feito majoritariamente de celulose, sem plásticos, que se decompõe no máximo em seis meses - enquanto um absorvente comum pode levar cerca de 800 anos. Contratou quatro costureiras de Salvador (BA) e deu início a uma produção piloto de 500 absorventes em dezembro de 2021.
Um dos objetivos é favorecer a empregabilidade de mulheres periféricas. Uma das costureiras contratadas há pouco mais de seis meses, a estudante Fabíola Guia, 30, disse que o trabalho é seu primeiro emprego remunerado com costura, área em que quer continuar atuando. "Tem sido uma experiência muito importante para mim", disse.
Atualmente, a empresa participa de uma aceleração do Grupo Boticário. A ideia é criar uma máquina capaz de produzir os absorventes de forma industrial, com o objetivo de ampliar o alcance do produto para todo o Brasil e torná-lo mais barato. Por enquanto, o pacote com oito unidades custará em torno de R$ 25.
A pobreza menstrual se caracteriza pela falta de acesso a produtos de higiene específicos para o período da menstruação, como absorventes, e a uma estrutura adequada de saneamento básico, uma realidade que está ligada à desigualdade econômica e prejudica a saúde e a escolaridade de pessoas que menstruam.
O tema ganhou maior notoriedade no país no fim de 2021, quando o presidente Jair Bolsonaro vetou um projeto de lei que garantiria a distribuição gratuita de absorventes a pessoas em situação de vulnerabilidade. Este ano, Bolsonaro assinou um decreto com previsão semelhante ao projeto vetado.
Além do acesso, o impacto ambiental dos absorventes descartáveis também é um problema: estima-se que uma pessoa que menstrua use entre cinco e quinze mil absorventes ao longo da vida, que acabam em aterros como lixo plástico.
Fortalecendo empreendedoras periféricas
Enquanto a produção dos primeiros absorventes caminhava, já durante a pandemia de covid-19, a EcoCiclo acabou ganhando uma segunda vocação: impulsionar produtos sustentáveis de empreendedoras periféricas.
A partir de uma parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, as criadoras da iniciativa receberam uma verba para o desenvolvimento de sua plataforma digital, primeiramente direcionada à venda dos absorventes, e decidiram abrir espaço para que outras mulheres pudessem vender seus produtos através do marketplace.
"A gente conhecia muitas empreendedoras de favela que estavam passando dificuldades durante a pandemia, que perderam clientes porque não tinham como entregar ou não sabiam fazer vendas online, que fazem produtos sustentáveis mas não têm acesso a esse tipo de ferramenta. O marketplace foi uma forma de trazer outras mulheres junto com a gente durante esse caminho", disse Karla Godoy.
Atualmente, seis empreendedoras vendem seus produtos pela plataforma da EcoCiclo. Além do acesso à ferramenta de venda online, elas também recebem uma formação e têm acesso a um suporte contínuo da equipe da EcoCiclo com relação a marketing, finanças e questões jurídicas.
Uma delas é Acácia Santos, engenheira ambiental da periferia de Salvador que começou a produzir e vender bolsas e outros itens em crochê moderno, feito com fios sustentáveis, durante a pandemia de covid-19. Inicialmente, Acácia alcançava apenas amigos e conhecidos com seus produtos, mas a venda pela EcoCiclo ajudou seu produto a chegar a várias partes do Brasil e a ampliar a demanda.
"A grande melhoria que eu consegui visualizar no meu negócio [a partir do trabalho com a EcoCiclo] foi o crescimento. Eu ficava concentrada aqui em Salvador, antes de conhecer as meninas só tinha feito uma venda pra fora dessa região. E agora tem uma extensão territorial muito grande. Sem falar na questão de interação que elas têm com a gente: qualquer dúvida elas vão auxiliando de forma individual o nosso negócio", disse a Ecoa.
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