Brasil perde 220 'Maracanãs' de floresta por dia, mas Indonésia tem solução
Em 2021, o Brasil perdeu 80.370 campos de futebol como o do estádio do Maracanã em florestas tropicais primárias, ou seja, de mata virgem. Foi 1,5 milhão de hectares perdidos por desmatamento ou fogo. Esse dado, coletado pela Global Forest Watch (GFW), torna o país líder no ranking de perda desse tipo de floresta no mundo. Segundo a plataforma, no entanto, é possível mudar essa estatística olhando para a Indonésia.
A nação do sudeste asiático era o segundo colocado no ranking em 2016, e hoje é o quarto. Isso foi possível porque o país tem implementado uma série de políticas públicas aliadas a compromissos empresariais que diminuíram sua perda de florestas pelo quinto ano consecutivo, de acordo com o levantamento da GFW.
O óleo de palma, principal responsável pelo desmatamento na Indonésia, passou a ser alvo de certificações por meio de ações empresariais, por exemplo. No que tange às políticas governamentais, houve uma intensificação em ações de monitoramento e prevenção do fogo após os graves incêndios que ocorreram no país em 2015.
"O Brasil já reduziu perdas florestais no passado, especialmente na Amazônia, a partir de uma política de criação de unidades de conservação e fiscalização, monitoramento e controle do desmatamento ilegal. Para voltar ao caminho de redução e zerar o desmatamento, precisaremos retomar essas ações e ir além", disse a plataforma a Ecoa.
Em 1996, o país viveu o auge do desmatamento na Amazônia legal desde o primeiro levantamento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com mais de 29 mil km² desmatados. Já em 2004, o número atingiu o maior patamar do século 21, com cerca de 27 mil km² de florestas desmatadas. Esse número vinha caindo até atingir seu menor patamar em 2012 (4,5 mil km²). No entanto, desde 2017 o desmatamento não para de crescer, segundo o instituto.
Uma conjunção de políticas públicas e ações empresariais, como a adotada pela Indonésia, pode nos colocar no caminho. Além disso, precisamos fortalecer o cumprimento do Código Florestal, adequando e criando oportunidades para os produtores rurais, e investir em novos modelos de economia e produção com sustentabilidade, apostando na restauração florestal e em uma bioeconomia na Amazônia.
Global Forest Watch
O que dizer sobre o Brasil?
A plataforma Global Forest Watch (GFW) faz esse levantamento de perda de florestas de mata virgem desde 2002. O Brasil lidera o ranking desde o primeiro monitoramento.
Contudo, o país tem dimensões continentais e muitas de suas áreas não estão cobertas por florestas tropicais. Se, em números absolutos de perda, o país encabeça o ranking, quando se olha para a porcentagem do território, isso não acontece. Nesse caso, se sobressaem países menores mesmo que a perda em números absolutos seja muito baixa. Em 2021, então, Camboja lideraria o ranking da GFW, seguida por Laos e Bolívia.
Mesmo assim, o Brasil registrou a perda de 220 "Maracanãs" de floresta de mata virgem por dia, um número bastante expressivo que representa 40% de toda a perda de florestas primárias no planeta em 2021.
Apesar de ser uma ferramenta que apenas traça o raio-X das perdas florestais, a GFW afirmou à reportagem que "a literatura científica e o trabalho de organizações ambientais nos mostram que os motivos [pelos quais houve tanta perda] parecem estar relacionados a um modelo econômico predatório".
"No Brasil, a perda de florestas está mais relacionada com a conversão de áreas para agricultura e pastagem e com a ilegalidade", afirmou a plataforma. Um estudo lançado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), em 2021, mostrou que a pecuária responde por 75% do desmatamento em terras públicas amazônicas.
O GFW mostrou que, no Brasil, nem mesmo a redução dos focos na Amazônia e Pantanal em 2021 alterou a tendência de perda florestal. Essas perdas não relacionadas ao fogo — que no Brasil são mais frequentemente associadas à expansão agrícola — aumentaram 9% entre 2020 e 2021.
O país detém cerca de um terço das florestas tropicais de mata virgem do mundo e tem mantido taxas de perda de florestas primárias acima de 1 milhão de hectares desde 2016, segundo os dados do GFW.
"A perda de floresta primária no Brasil é especialmente preocupante, pois novas evidências revelam que a floresta amazônica está perdendo resiliência, estando mais perto de um ponto de inflexão do que se pensava anteriormente", diz Fabíola Zerbini, diretora de Florestas, Agricultura e Uso do Solo do WRI Brasil.
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